Não somos de ir na onda das modinhas turísticas. Se um lugar é tema de novela da Globo, por exemplo, esperamos algum tempo até que a aura pop da teledramaturgia seja desfeita, descontaminando a cidade ou o país dos estereótipos esboçados pelo enredo. E feliz de quem se contenta em gastar uma fortuna com réveillons ultrabadalados, visitando locais onde a virada do ano é uma das atrações principais. Eu e o Élcio fugimos disso. Primeiro, porque detestamos cidades abarrotadas de gente. Segundo, porque procuramos otimizar nosso orçamento. Nas comemorações de cada ano novo, acreditamos que o importante é estar de bem com a vida. O 1º de janeiro deve ser tão celebrado como qualquer outro dia do ano, especialmente se estivermos viajando. Para a virada 2014/2015, meu amigo propôs uma ida a Atenas. Meus pais estavam doidos para viajar conosco, e a capital da Grécia foi uma sugestão e tanto. Palmas para o Élcio! Minha irmã e meu cunhado também iriam, mas preferiram se juntar a nós na semana seguinte, em Istambul.
PRIMEIRO DIA – Sexta-feira, 26/12/2014
Passeio por Plaka (com Rua Adrianou, Rua Makrigianni, Brettos e Praça Sintagma)
Chegamos a Atenas seis dias antes da celebração da virada. Nosso propósito era muito mais turístico do que festejar o 2015 que se aproximava. Desembarcamos pelo Aeroporto Internacional Eleftherios Venizelos. Lá, pegamos um ônibus e descemos na Praça Sintagma, de onde caminhamos três quarteirões até o Hermes Hotel.
O bilhete de ônibus pode ser comprado em um guichê localizado na saída do aeroporto. A linha X95 (Syntagma Square – City Centre) leva ao centro histórico, e o ponto final é na Praça Sintagma. Quem deseja ir ao Porto de Pireu para embarcar em um cruzeiro ou em outro tipo de navegação, deve pegar a X96 (via Glyfada to Piraeus). Tanto a X95 quanto a X96 funcionam 24 horas. Clique aqui e confira os horários dessas e de outras linhas que atendem o aeroporto. Embora mais caro, o metrô é outra opção de translado. A linha que atende o Eleftherios Venizelos é a 3 (azul). O primeiro comboio parte às 6h30 e o último às 23h30. Para mais informações sobre o translado de metrô, clique aqui.
Chegamos ao hotel às 15h30, e precisamente às 16h35 começamos uma caminhada por Plaka, um antigo bairro do centro histórico de Atenas. Não demorou e já estávamos na Rua Adrianou.
Ponto mais turístico, impossível! Nessa charmosa rua estreita de piso de mármore, existem várias lojas de souvenirs. Minha mãe enlouqueceu logo na primeira dobrada de esquina. Não fazia nem 15 minutos que estávamos passeando e ela já queria comprar bugigangas. Quem sou eu para criticá-la! Os estímulos de consumo da Adrianou são intermináveis.
O roteiro daquele fim de tarde era descompromissado, então continuamos caminhando por Plaka sem destino definido. Além da Adrianou, passamos por outros pontos bem badalados do bairro, repletos de bares, cafés e restaurantes. Demos uma pausa na Rua Makrigianni, onde escolhemos um de seus diversos estabelecimentos para desfrutar da nossa primeira refeição genuinamente grega.
Nada como brindar o primeiro dia em Atenas com um delicioso vinho e um prato da suculenta e famosa salada grega, que na Grécia é conhecida apenas como salada. Peço perdão pela piada já desgastada, mas o fato é que, nos cardápios para turistas, essa salada consta como “greek salad“. Os gregos também a chamam de salda campestre. Se não fossem os pepinos, seria perfeita! Além desse legume odioso, é preparada com queijo feta, tomate, pimentão, azeitona, cebola, azeite e especiarias.
Após a refeição, retornamos ao miolo de Plaka. Ainda tínhamos disposição para mais umas biritas. Na escolha por um bar que nos satisfizesse, precisamente no número 41 da Rua Kidathineon, fomos atraídos por um lugar abarrotado de garrafas coloridas que adornavam uma enorme prateleira. O bar chama-se Brettos.
Aquilo é a perfeição! O ambiente é incrível, cheio de opções etílicas e gente interessante. Fundado em 1909, o Brettos nada mais é que a destilaria mais antiga de Atenas. Entre seus produtos de fabricação própria, destacam-se o vinho, o conhaque e o ouzo, destilado grego feito à base de anis. Esta não é minha bebida favorita, mas, já que eu estava na Grécia, que provasse algo da Grécia. Enquanto minha mãe ainda caçava souvenirs pelas redondezas – ela é implacável! –, eu, meu pai e o Élcio brindamos com ouzo, conhaque e vinho, respectivamente. Fim de noite perfeito em Atenas!
SEGUNDO DIA – Sábado, 27/12/2014
Areópago, Acrópole (com Odeão de Herodes Ático, Templo de Atena Nice, Propileu, Partenon, Erecteion e Teatro de Dionísio), Rua Dionysiou Areopagitou, Novo Museu da Acrópole, Arco de Adriano, Templo de Zeus Olímpico, Anafiotika, Ágora Romana, Plaka
Começamos o dia indo à principal atração de Atenas: a Acrópole. Mas antes de conhecê-la, demos uma passada no Areópago, uma colina onde, na Grécia Antiga, funcionava a corte de apelação. O conselho se reunia ali para julgar casos de assassinato, de sacrilégio e de incêndio criminoso, além de tratar de assuntos como ciência e educação. Fica logo ao lado da entrada principal da Acrópole, e a entrada é gratuita.
Também é o local onde Paulo proferiu o Discurso no Areópago, em que ele proclamou, entre outras coisas,
“Sendo, pois, geração de Deus, não devemos pensar que a divindade é semelhante ao ouro ou à prata ou à pedra, lavrada por arte e gênio do homem. Dissimulando, pois, os tempos da ignorância, Deus manda agora que todos os homens em todo o lugar se arrependam, porquanto tem fixado um dia em que há de julgar o mundo com justiça pelo varão que para isto destinou, do que tem dado certeza a todos, ressuscitando-o dentre os mortos.” (Atos 17:29)
Hoje, nada resta do Areópago. A colina é um mármore bastante escorregadio. Achei até estranho não haver instruções de segurança ou proteções, porque andar por lá é muito arriscado. Visitante ousado pode acabar deslizando pelo mármore e rolar morro abaixo.
A vista de cima do Areópago é fenomenal, mas, naquele dia, o local encontrava-se extremamente sujo. Havia centenas de garrafas de bebidas e embalagens de salgadinhos espalhadas por todo o canto. Acredito que, à noite, o monte seja um ponto de encontro de baderneiros.
Do Areópago, seguimos para a Acrópole. Em português, seu nome significa “cidade alta”. É uma colina de topo plano situada a 150 metros acima do mar, onde estão erigidos alguns dos monumentos mais famosos do mundo antigo.
Primeiro, passamos pelo Odeão de Herodes Ático, um teatro construído por volta de 174 pelo político Herodes Ático em memória de sua esposa falecida.
Mesmo em ruínas, o teatro é maravilhoso!
Seguimos caminhando pela colina. Passamos pelo Templo de Atena Nice, dedicado a Atena – daí o nome da cidade –, deusa da guerra, da estratégia de guerrilha, da civilização, da sabedoria, da justiça, das artes e da habilidade. Nice (em grego Niké) significa vitória.
Logo depois, cruzamos o Propileu, um enorme pórtico de entrada da Acrópole, encomendo pelo líder democrático Péricles entre 437 e 432 a.C.
Chegamos ao Partenon, monumento mais emblemático da Grécia, símbolo da democracia e uma das principais edificações do período clássico. Foi também construído na gestão de Péricles, entre 447 e 432 a.C., e, como o Templo de Atena Nice, dedicado à deusa Atena.
Construído pelos arquitetos Calícrates e Ictinos e decorado, em boa parte, pelo escultor Fídias, hoje, o Partenon não está como aquele edifício que comumente vemos em cartões postais e livros de história. Um longo processo de restauração teve início em 1975, e, atualmente, sua estrutura encontra-se ladeada por andaimes e outros aparatos de construção. Mas é belíssimo, mesmo assim.
Do Partenon, rumamos pela Acrópole até o Erecteion, templo dedicado não somente a Atena, mas também a Poseidon, deus supremo do mar.
Além dos monumentos, a Acrópole oferece uma vista espetacular da cidade. De lá de cima, é possível ver Atenas de todos os lados, coberta por uma superfície urbana levemente esbranquiçada que culmina num horizonte aparentemente muito distante.
Essa imagem monocromática que se tem não somente das cidades, mas também dos monumentos e estátuas gregas é um dos mais belos exemplos da causticidade do tempo. Embora a palidez das construções atenienses esculpidas em mármore possuam uma imperiosidade estética inegável, o que hoje é descorado já foi vividamente colorido. Graças à utilização das luzes ultravioleta e infravermelha e de raio X, cientistas descobriram que, na Grécia Antiga, as estátuas e edifícios de Atenas eram cobertos por cores vibrantes. No entanto, não consigo imaginar o Partenon pintado de verde, vermelho e azul, conforme foi identificado. Prefiro ele na forma como está, desbotado, mas sempre magnificente.
Finalizando o passeio pela colina, visitamos o Teatro de Dionísio, o mais importante dos teatros da Grécia Antiga. Dionísio, que hoje posso considerar minha divindade grega favorita, foi o deus do entusiasmo, da fertilidade e, principalmente, da intoxicação por vinho que funde o beberrão com o ser divino (honrado por mim aquele que eleva recreação, bebidas e insanidade a níveis celestiais). Em homenagem a ele, os gregos faziam grandes festas que acabaram dando origem às Dionísias Urbanas, que, por sua vez, originaram as primeiras manifestações do teatro ocidental. Sendo também lembrado como o deus do teatro, a ele foi dedicado a construção do Teatro de Dionísio, erigido no século V a.C. na porção sul da Acrópole.
O passeio pela Acrópole foi sensacional! Obviamente, atração imprescindível para quem vai a Atenas. Adquira o bilhete especial que dá direito a essa e a outras atrações da cidade como a Ágora de Atenas, a Ágora Romana, o Museu Arqueológico de Kerameikos, a Biblioteca de Adriano, as encostas norte e sul da Acrópole (Odeão de Herodes Ático e Teatro de Dionísio) e o Templo de Zeus Olímpico. Esse pacote é válido por cinco dias. O ingresso é gratuito nos dias 6 de março, 18 de abril, 18 de maio, 5 de junho, 28 de outubro, bem como no último final de semana de setembro e a cada primeiro domingo do mês no período entre 1º de novembro e 31 de março. Funciona das 8h às 20h e a última entrada deve ser feita até as 19h30.
Deixamos a colina pela saída próxima ao Teatro de Dionísio e viramos à direita na Rua Dionysiou Areopagitou, onde fizemos uma pequena caminhada. No trajeto, passamos pela pequena igreja ortodoxa de Santa Sofia.
De acordo com o mito, na briga pela posse da cidade, Poseidon feriu o solo com seu tridente e fez brotar água salgada. Atena, mais esperta, plantou ali a primeira oliveira. Qual você prefere: água salgada ou azeite e azeitonas? Eu também. Fico com a oliveira. Os deuses olímpicos, nomeados por Zeus como árbitros daquela disputa, também eram chegados num tira-gosto, pois declararam Atena vencedora. Brincadeira! O que mais encantou os jurados foi a capacidade da oliveira de produzir um óleo para iluminar as noites atenienses e amenizar a dor dos feridos, além de fornecer um alimento saboroso e nutritivo. Mas acho que eles também cogitaram a possibilidade daquilo virar um dos melhores petiscos da humanidade. E graças à proposta de Atena, a cidade é entupida de azeitonas. Que maravilha! Ali mesmo na Dionysiou Areopagitou existem zilhões de oliveiras ladeando o caminho de uma ponta a outra.
Como já de hábito, o Élcio resolveu colher alguns frutos para degustação e os dividiu com meus pais. Em Roma, provamos azeitona ao pé da árvore e a experiência foi péssima. Em natura, tem gosto pior que Novalgina com jurubeba e Campari, e acho que meu amigo tinha se esquecido disso. Pensou que talvez as gregas seriam mais saborosas. Enfim, se for à Grécia, não caia na tentação. Satisfaça sua curiosidade, mas não vislumbre um belisquete com cerveja. Azeitona para consumo tem que ser processada.
Finalizamos o percurso pela Dionysiou Areopagitou na entrada do Odeão de Herodes Ático, visto da Acrópole momentos antes.
Era hora de almoçar. Ali perto, de frente para o Novo Museu da Acrópole, no número 12 da Rua Hatzichristou, entramos num restaurante bastante modesto, mas que serve refeições da melhor qualidade. Chama-se To Kati Allo. Lá, o cliente escolhe entre uma belíssima variedade de comidas expostas na pequena vitrine do balcão. A dona do estabelecimento, uma genuína senhora grega, monta as refeições e as leva até a mesa. Achamos que ela colocaria um pouco de cada coisa em nossos pratos, mas, na verdade, cada pedido é um prato. Quem pede arroz, frango, salada e batatas, por exemplo, “corre o risco” de receber de três a quatro refeições. Editar é fundamental, mas, diante de tantos aromas, cores e texturas, fica difícil para o comensal decidir qual será seu banquete. Eu pedi a tradicionalíssima moussaka, uma espécie de lasanha feita basicamente de berinjela, carne moída, queijo, batata e tomate. Delicia! A foto abaixo está horrorosa, mas a gororoba estava boa. Já meus companheiros pediram batatas, arroz, cordeiro, frango, pimentões recheados, azeitonas, etc. Pasmem: foram capazes, ainda, de solicitar pães para comer com azeite!
Deixamos o restaurante, atravessamos a rua e fomos ao Novo Museu da Acrópole, que expõe boa parte dos tesouros arqueológicos encontrados na colina rochosa de Atenas. Logo na entrada, abaixo de um chão de vidro, é possível ver uma das escavações que estão sendo feitas no subsolo do prédio.
A parte mais interessante do museu, para mim, é o terceiro andar, que abriga a galeria das esculturas do Partenon, onde é possível ver o que restou do templo. Obviamente, no futuro, essas partes se juntarão à construção original. Esse processo de recuperação também contará com a boa vontade dos ingleses, que estão resistentes em devolver à Grécia as partes do Partenon que se encontram no British Museum desde o século 19.
As esculturas originais das cariátides também são um ponto alto do museu. As que estão no Templo de Erecteion são cópias. A sexta original está no British Museum.
O Novo Museu da Acrópole situa-se na Rua Dionysiou Areopagitou, quase esquina com Makrigianni. Funciona todos os dias. De 1º de abril a 31 de outubro, abre às segundas-feiras das 8h às 16h, às terças, quartas, quintas, sábados e domingos das 8h às 20h e às sextas-feiras das 8h às 22h. De 1º de novembro a 31 de março, abre de segundas a quinta das 9h às 17h, às sextas-feiras das 9h às 22h e aos sábados e domingos das 9h às 20h. A última entrada é feita até 30 minutos antes do encerramento. O museu é servido pela estação de metrô Acropoli. Para mais informações, acesse www.theacropolismuseum.gr.
Estávamos bem adiantados no roteiro daquele sábado. Conseguimos vencer as atrações antes do previsto, então resolvemos ir a outros pontos turísticos que estavam reservados para outro dia. Após conhecer o museu, fomos caminhando pela Dionysiou Areopagitou até a Av. Andrea Syngrou, onde está localizado o Arco de Adriano.
O arco é um pórtico de mármore de 18 metros de altura. Foi erigido em 131 em homenagem ao imperador Adriano, que procurou fazer de Atenas a capital cultural do Império Romano, ordenando, entre outras benfeitorias, a construção de ostentosos templos na cidade. O arco separava o Templo de Zeus Olímpico (também conhecido como Olympeion) dos bairros que estavam se desenvolvendo na região.
A construção do templo teve início no século 6 a.C. e só foi concluída 700 anos mais tarde, no reinado de Adriano. Os gregos antigos achavam o monumento muito grande, ligando sua opulência à arrogância de que o homem poderia estar à altura dos deuses. Por isso, suspenderam a construção do Olympeion por muitos séculos. Mas bastou um “humilde” imperador aparecer no pedaço para não somente finalizar o projeto, mas também encomendar uma estátua de Zeus feita em ouro e marfim para decorar a câmara interna. Também ordenou outra escultura um pouco menor de sua figura imperial.
Infelizmente, o templo já havia encerrado suas atividades naquela tarde. Restou-nos apenas fazer algumas fotos do lado de fora.
O acesso ao Templo de Zeus Olímpico se dá pela Av. Vassilisis Olgas. O bilhete especial para a Acrópole também é válido para suas dependências, desde que utilizado num período não superior a 5 dias após o primeiro ingresso. Fica aberto de terça a domingo. De abril a outubro, funciona das 8h às 19h. De novembro a março, das 8h30 às 18h. Nestes meses, pode ocorrer de fechar às 14h30. Foi o que aconteceu conosco.
Do arco, retornamos ao pé da Acrópole. Circulamos a colina até o pequeno bairro de Anafiotika. As primeiras casas dessa comunidade foram construídas no século 19, abrigando trabalhadores da Ilha de Anafi que vieram a Atenas para remodelar o palácio do Rei Oto da Grécia. Embora o bairro seja minúsculo, não encontramos suas casas mais características, que possuem o estilo arquitetônico cicládico, lembrando as típicas construções das ilhas gregas. Mas valeu o passeio pelas redondezas.
Continuando o roteiro, circularmos pelas proximidades da Ágora Romana, que estava fechada para visitação.
Voltamos ao hotel para um breve descanso. À noite, exploramos mais uma vez a região de Plaka, onde, primeiro, fizemos um breve passeio pela Rua Ermou.
Na Rua Athinaidos, sentamos em um restaurante para jantar e tomar umas. O movimento era muito bom. Depois de um certo tempo, meus pais decidiram ir embora descansar. Enquanto o Élcio bebia seu vinho, acompanhei os dois até o hotel e retornei ao local para uma esticada noite afora. Fomos a alguns bares bem interessantes, mas o que mais chamou nossa atenção foram alguns inferninhos da Athinaidos. Um deles, o Faust Bar-Theatre-Arts, estava fervendo! O ambiente era bem bacana, onde pessoas de várias idades bebiam, fumavam, dançavam e caçavam um par. Não era pequeno, mas o grande número de gandaieiros empapuçava o espaço, deixando o estabelecimento intransitável. O melhor de tudo: a entrada era gratuita! Mas o cigarro é minha kriptonita. Junto à música altíssima, a fumaça que pairava à altura dos olhos causava um desconforto que somente os mais jovens conseguem suportar. Na verdade, só eu estava incomodado. Às vezes, minha alma velha fala mais alto que meu corpo, e a ranzinzisse pode ser notada em cada gesto. Justificando, eu estava cansado. O dia tinha sido longo e a jornada vindoura demandaria muita disposição.
TERCEIRO DIA – Domingo, 28/12/2014
Catedral Metropolitana de Atenas, Igreja Panaghia Kapnikarea, Rua Ermou, Praça Monastiraki, Mercado de Pulgas da Praça Avissinias, Melissinos Art, Museu Arqueológico de Atenas, baía de Mikrolimano, troca da guarda do parlamento, Praça Sintagma
A vantagem de Atenas é que é uma cidade muito pequena. Para conhecer o centro histórico, basta uma curta caminhada. As atrações encontram-se bem próximas umas das outras e os passeios podem ser realizados em pouco tempo, raramente com o auxílio do transporte público. Dessa forma, cumpríamos nosso roteiro tranquilamente. No entanto, restavam-nos cinco dias pela capital grega, o que é bastante. Com essa disponibilidade de tempo, pesquisamos sobre passeios bate e volta partindo de Atenas. Entre as opções, havia excursões para Delfos, local dos Jogos Píticos e do famoso oráculo de Delfos; para os rochedos quase inacessíveis de Meteora, um dos mais importantes complexos de mosteiros; para Argólida, cidade conhecida, principalmente, pelo belíssimo Teatro de Epidauro; para Olímpia, berço dos Jogos Olímpicos da Antiguidade, e para o Cabo Sunião, onde se localiza um dos templos gregos mais bem conservados, dedicado a Poseidon. Havia também a possibilidade de ir a algumas das paradisíacas ilhas gregas como Míconos, Santorini e Creta. Todavia, era importante otimizar o tempo e ver a opção que melhor se encaixava no nosso orçamento. No café da manhã, havia uma funcionária do hotel muitíssimo competente que oferecia esses e outros passeios. De acordo com nossas disponibilidades, ela nos indicou um cruzeiro bem interessante pelas ilhas sarônicas de Hidra, Poros e Egina. Ali mesmo, reservamos nosso pacote. A viagem, promovida pela companhia Athens One Day Cruise, aconteceria na manhã seguinte.
Após o café da manhã (delicioso, por sinal!), rumamos para a Catedral Metropolitana de Atenas, igreja ortodoxa situada pertinho do hotel, na Praça Mitropóleos.
Construída entre 1842 e 1862 com material proveniente da demolição de 72 igrejas, a Mitrópoli, como também é conhecida, é a catedral do Arcebispo de Atenas e onde acontecem cerimônias religiosas importantes com presença inclusive de figurões nacionais. Casar ou ter o corpo velado ali é somente para os ricos e famosos. Infelizmente – ou melhor, felizmente –, a catedral estava sob reforma. Sua beleza e magnificência eram escondidas por andaimes e tapumes.
Deixamos a catedral e andamos um quarteirão até a Panaghia Kapnikarea, igreja ortodoxa construída no século 11. Após uma rápida visita ao seu interior, seguimos caminhando pela Rua Ermou até a Praça Monastiraki.
Conhecida pelo seu mercado de pulgas, a Monastiraki situa-se num dos principais distritos de compras de Atenas. Lá, encontra-se de tudo um bocado. Num primeiro momento, não gostei nem um pouco, pois esperava encontrar um grande comércio de antiguidades à moda grega (se é que isso existe). Mais do que artigos vintage, vi uma oferta massiva de roupas falsificadas e bugigangas made in China.
Porém, mais adiante, na Praça Avissinias, havia um pequeno mercado de móveis, livros, pinturas e outros objetos antigos. Funciona somente nas manhãs de domingo, então tivemos sorte de encontrá-lo aberto. Para quem gosta de velharia, é um bom divertimento. Eu mesmo adquiri um robô à corda bastante estiloso e uma tabuada feita de lata, em que um macaco muito elegante ensina operações de multiplicação.
Para ir à Praça Monastiraki e redondezas, pegue as linhas 1 (verde) ou 3 (azul) do metrô e desça na estação Monastiraki. Se animar, de lá, caminhe alguns quarteirões pela Rua Athina até Varvakeios, o mercado central de Atenas. Embora não o tenhamos conhecido, é atração indicadíssima por mim, afinal estamos falando de mercado central. Funciona de segunda a sábado, das 8h às 18h. É uma das representações mais tradicionais do cotidiano grego, lugar marcado por barulho, aromas e vai e vem de pessoas à procura de vegetais, proteínas ou alguma extravagância gastronômica.
Retornando à Monastiraki, passamos na Melissinos Art, a loja do Poeta Sandalheiro, situada na Rua Aghias Theklas, 2, quase esquina com Ermou. O pequeno negócio em família foi fundado por Stavros, um poeta fabricante de sandálias que caiu nas graças de fregueses como os Beatles, Sophia Loren, Jackie Onassis, Barbara Streisand, Maria Callas, Jeremy Irons e tantos outros afamados. Hoje, o próspero negócio é comandado pelo seu filho Pantelis.
Não compramos nada. Estávamos ali só de curiosidade, afinal tanta tradição, história e fama poderiam estar embutidas nos preços dos calçados. Se existe um conto por trás de um produto, desconfio do abuso do strorytelling, que a publicidade adora utilizar como recurso para atrair consumistas frouxos e apaixonados. Todavia, se considerarmos o marketing por trás do negócio, os preços são, digamos, acessíveis. Segundo matéria de 2008 publicada no site do New York Times, os modelos mais simples custavam, naquela época, por volta de 25 € e os customizados podiam atingir a faixa dos 80 €. Se você tem interesse por esse tipo de calçado, sugiro que venha até Belo Horizonte e visite a Feira Hippie, que acontece todas as manhãs de domingo, na Av. Afonso Pena. Certamente, as sandálias daqui não têm a mesma qualidade das fabricadas na Melissinos Art – ou têm? –, mas por menos de um quarto do preço você encontra algo tão bonito quanto.
Já na Monastiraki, pegamos a linha 1 (verde) do metrô e descemos na estação Victoria.
Andamos pouco mais de cinco quarteirões até o Museu Arqueológico de Atenas, um dos mais importantes do mundo, dizem. Antes de apreciarmos tal magnitude, descansamos as pernas no jardim de entrada do museu, onde uma banda muito bem vestida e afinada tocava para uma pequena plateia.
A coleção do Museu Arqueológico de Atenas é composta de peças encontradas em escavações na Grécia e em outros poucos lugares. Seu acervo possui mais de 20.000 itens que remontam a civilização grega desde a pré-história até o fim da Idade Antiga. A peça que mais chamava a atenção dos visitantes era a escultura em metal do deus não identificado, encontrada em 1928 no fundo do Cabo Artemísio, ao norte da Ilha Eubeia. Se o objeto faltante na mão direta da divindade mitológica fosse um raio, esta seria Zeus. Se fosse um tridente, seria Poseidon.

Escultura do deus não identificado (Zeus ou Poseidon), encontrada no fundo do Cabo Artemísio – Museu Arqueológico de Atenas
A exposição é sem dúvidas muito bacana. Porém, algo estava faltando. Encontramos algumas salas fechadas, o que fez com que nossa visita ao museu fosse mais curta e menos interessante do que esperávamos. Na saída, encontramos o livro de visitas abarrotado de mensagens indelicadas de pessoas do mundo inteiro. Era notória a insatisfação de todos, que reclamavam que mais de 50% do museu estava fechado, e que isso não tinha sido informado na bilheteria ou no site da instituição. Realmente, uma vergonha.
O museu fica na Rua Patission, 44. Funciona todos os dias das 8h às 20h, com última entrada às 19h40. O ingresso é gratuito nos dias 6 de março, 18 de abril, 18 de maio, 5 de junho, 28 de outubro, bem como no último final de semana de setembro e a cada primeiro domingo do mês no período entre 1º de novembro e 31 de março.
Nosso desapontamento foi esquecido logo que vimos alguns pombos almoçando na mesa de um restaurante, na entrada do museu. Educadamente – à maneira deles –, a moçada de patas vermelhas se deleitava nos restos das batatas fritas deixadas por um cliente. Antes de enrugar seu nariz de nojo, lembre-se que você já fez isso ao menos uma vez na vida. Por que não os pombos?!
Retornamos à estação Victoria. Pegamos o metrô e fizemos uma longa viagem até a estação Faliro, onde desembarcamos para conhecer Mikrolimano, a baía mais pitoresca do município de Pireu. Já passava da hora do almoço, mas todo o esforço em conter a fome seria recompensado em uma das dezenas de tavernas situadas ao longo da via costeira Koumoundourou. A gastronomia local é coroada por uma reconhecida carta de frutos do mar – tô fora! –, então aquele seria lugar perfeito para os meus pais e o Élcio satisfazerem seus apetites.
As tavernas têm um formato bem interessante. Ficam de frente para a baía e possuem janelas de fora a fora que funcionam como vitrines para a água. Geralmente, a cozinha situa-se no imóvel do outro lado da rua. Meus companheiros pediram uma combinação que oferecia salada (grega) como entrada, uma porção de camarão, lula e sardinhas como prato principal (meu pai pediu peixe) e uma taça de vinho branco. Essa refeição custou 20 € para cada. Pelo mesmo valor, além da salada, comi um filé acompanhado de arroz e batatas. Não foi uma refeição barata, mas também não foi cara.
Não muito distante dali, está Pasalimani, ou Porto de Zea, como também é conhecido. É o segundo maior porto do município de Pireu. Há quem compare o lugar com Saint-Tropez, devido aos luxuosos iates ancorados, além das lojas de grife, dos cafés, dos cinemas, entre outros. Li na internet que a vida noturna nas proximidades é muito boa. Na primeira edição dos Jogos Olímpicos, em 1896, o porto sediou as competições de natação. Preferimos não esticar nosso roteiro até lá. Embora Pasalimani seja um lugar perfeito para um happy hour, decidimos voltar a Atenas.
Após uma breve caminhada por Mikolimano, pegamos um táxi e desembarcamos na Praça Sintagma. Por sorte, estava na hora da troca da guarda do parlamento, que acontece todos os dias, de frente para a Tumba do Soldado Desconhecido. Na verdade, a cerimônia completa acontece somente aos domingos, às 11h. Mas aquela pequena demonstração foi suficiente para a plateia se divertir com o uniforme ultrapeculiar dos soldados e suas passadas dramáticas e sincronizadas. Ao final, todos tiveram a oportunidade de fazer uma foto ao lado dos jovens performáticos.
A Praça Sintagma estava bastante movimentada. Como em outras capitais europeias, personagens da TV, do cinema ou de histórias em quadrinhos se ofereciam para fotografias junto aos transeuntes.
Retornamos ao hotel. Mais tarde, eu, meu pai e o Élcio procuramos por um lugar nas imediações para tomar umas. Minha mãe preferiu ficar no quarto descansando. Assim que deixamos o hotel, precisamente no número 4 da Rua Patroou, passamos por uma pequena cantina chamada Aspro Alogo. O cardápio na entrada exibia preços bem atraentes, mas jantar não era nossa finalidade. Firmes na vontade de beber, seguimos adiante. Andamos um metro e o dono do minúsculo estabelecimento imediatamente sai lá de dentro e nos cumprimenta. Chamou-nos para entrar, mas, gentilmente, declinamos o convite, dizendo que não iríamos jantar, que estávamos apenas à procura de biritas. “Mas aqui servimos bebida”, ele disse. Tentamos mais uma vez nos desvencilhar da oferta, mas o persuasivo comerciante conseguiu nos colocar sentado a uma de suas escassas mesas. “O que querem beber? Que tal tomarem isso ou aquilo? Eu sugiro esse petisco.” Marko era o nome do proprietário, garçom, relações públicas e esposo da cozinheira. Embora não fôssemos jantar, com seu carisma, ele conseguiu fazer com que provássemos um bocado de comida. E não nos arrependemos. As refeições e os tira-gostos eram simples, mas deliciosos e caseiros. O preço, nem se fala! Bem em conta! Comemos saganaki, um queijo frito que nos foi servido com batata frita, tomate e pepino, uma iguaria bem gordurosa, mas não menos deliciosa. Custou apenas 3,50 €.
Por módicos 6 €, meu pai e o Élcio devoraram uma bandeja lotada de sardinhas acompanhadas de alface, tomate e pepino. Pedimos também pão na chapa, que, regado com azeite, dava um excelente tira-gosto.
Entre um belisquete e outro, tomamos cerveja e vinho. Marko, como um excelente anfitrião, ofereceu-nos shots de raki e tsipouro por conta da casa. E não foram poucos! Até água mineral ele nos deu. Encerrando sua generosa recepção, presenteou-nos com café e kataifi, uma sobremesa feita de macarrão cabelo de anjo, recheada com um creme à base de nozes.
A comida do restaurante do Marko não é das mais sensacionais, mas foi ótimo passar a noite ali. Conforme já disse neste blog, não é meu objetivo indicar estabelecimentos comerciais, afinal de contas, não ganho para isso. Escrevo apenas como hobby. Contudo, se a experiência é memorável, faço questão de dedicar algumas linhas a certos lugares. O Aspro Alogo não possui requinte, sofisticação ou badalação, mas é uma cantina mais do que indicada por nós. Se for a Atenas e se hospedar próximo à Praça Sintagma, deixe a pompa de lado e experimente esse local caseiro, típico e receptivo. Graças aos shots 0800, saímos de lá tropeçando nas próprias pernas. Ainda bem que o hotel ficava a menos de 50 metros dali.
QUARTO DIA – Segunda-feira, 29/12/2014
Cruzeiro pelas ilhas de Hidra, Poros e Egina, Plaka
Acordamos bem cedo. A administração do hotel permitiu que tomássemos o café da manhã meia hora antes, pois, às 7h15, partiríamos no ônibus da empresa Athens One Day Cruise para o porto de Pireu. Lá, às 8h, embarcaríamos num cruzeiro pelas ilhas sarônicas de Hidra, Poros e Egina.
No porto, fomos recepcionados com uma cafona apresentação de um saxofonista que usava um gorro de Papai Noel. Era muito cedo para mim, e qualquer movimentação mais entusiasmada ou decibéis extras seriam capazes de alterar meu humor.
Minha rabugice ascendia, mas bastaria nos acomodarmos no barco para eu relaxar e curtir o resto do dia. Entretanto, eis que, dentro da embarcação, um senhor tecladista tocava músicas bem alegres de todas as partes do mundo. Imagine ouvir alto e bom som sucessos consagrados como Funiculì Funiculà, Aquarela do Brasil, Guantanamera, New York, New York e tantos outros! Ótimo, certo? Só se for para você. Meu relógio biológico não permite tais abusos. Minha mãe e o Élcio perguntavam “Você está bem?”. Eu respondia que sim, que estava apenas acabando de acordar. Eles continuavam insistindo em saber sobre meu “estado de saúde”, e aquilo ia me deixando cada vez mais puto. Parecia que era de propósito, para me insultar. Quanto mais eu pedia para que parassem, mais a dupla da quinta série repetia as perguntas. Virou deboche.
Contribuindo para minha irritação, o barco ainda não havia partido. A viagem já estava bem atrasada. Isso seria um problema, uma vez que a última ilha poderia ser visitada no cair da noite. A embarcação balançava, balançava, balançava e nada de zarpar. Até meu pai entrou no interrogatório, perguntando se eu estava enjoado. “Cristo! Não! Estou preocupado! O barco está superatrasado! Isso vai prejudicar nossa viagem!”, eu disse. Quase uma hora mais tarde, depois de muitos funiculì-culì-culà funiculì-culì-culà, o bendito barco começou a se movimentar. Zarpamos às 8h53. O filho da p*** do tecladista finalmente deu um fim naquela trilha sonora infernal. Carpe diem! Eu estava livre para apreciar a paisagem espetacular do Mar Egeu.
O mar estava bem agitado. As ondas eram imensas e a embarcação balançava horrores. O barulho do tecladista cedeu lugar à movimentação frenética da tripulação, que trançava para cima e para baixo com sacos plásticos, os quais entregavam a quase todos os passageiros. A moçada estava passando muito mal! Fui comentar isso com minha mãe e vi que ela também estava meio esverdeada, prestes a jucar. O Élcio, a mesma coisa. Só o Sr. Gilberto e seu filho careca e ranzinza é que passavam bem. Pois é, o mundo dá voltas, queridinhos! Isso foi castigo por me torrarem o saco antes da partida. Vomitem que passa.
Às 12h30, chegamos a Hidra. Que lugar mais lindo! Não é tão bela quanto as ilhas gregas mais famosas, mas é de um charme sem fim. Sua principal cidade chama-se Porto de Hidra. As casas que preenchem a encosta dão um toque muito especial à paisagem natural, caracterizada, principalmente, pelo azul profundo das águas.
Ali, não trafegam carros. Somente os caminhões de lixo podem circular pela ilha. O transporte público fica a cargo das carroças puxadas por burros e dos táxis aquáticos.
Nossa permanência na cidade seria curta. Infelizmente, não havia tempo para comprar souvenir ou sentar em um dos restaurantes convidativos ao redor da baía. Poderíamos, talvez, tomar um cafezinho, mas preferimos bater o máximo de perna.
Era fascinante a quantidade de gatos que circulavam pelas ruas de Hidra! No percurso, cruzamos com dezenas deles. A ilha possui em torno de 3.000 habitantes, portanto cada morador tem uns 30 gatos (estatística minha).
Hidra possui inúmeras igrejas e alguns monastérios. Destes, destacam-se o Monastério do Profeta Elias, fundado em 1813, e o Agia Efpraxia, construído, originalmente, em 1865. As vilas de Kaminia e Vlichos também são atrações bem interessantes da ilha, mas, infelizmente, não tínhamos tempo para visitá-las, nem mesmo para dizer amém em uma das igrejas ou monastérios ou enfiar o dedão do pé nas águas limpíssimas de uma de suas tantas praias paradisíacas.
Deixamos Hidra. No barco, foi servido um almoço, que não estava nada mal. Até os passageiros que sofreram de enjoo no início da viagem marcaram presença com pratos monumentais. Indianos, japoneses, chineses, americanos e brasileiros mostraram sua capacidade de absorção da multicultura gastronômica e devoraram pratos gregos sem careta ou vontade de vomitar.
Chegamos à ilha de Poros às 14h20. Nossa permanência lá seria de apenas meia hora, bem mais curta que em Hidra. Essa correria seria por causa do maldito atraso? Eu gostaria de ter passado mais tempo em cada lugar.
A Cidade de Poros possui pouco mais de 4.100 habitantes, quase a totalidade de moradores da ilha. Ágios, um outro povoado, possui apenas 15. Diferentemente de Hidra, havia carros circulando pelas ruas. Suas principais atrações são a torre do relógio, o Museu Arqueológico de Poros, as ruínas do Templo de Poseidon, as ruínas de Trizina, o pequeno castelo de Bourtzi, o Poros Shell Museum e o Monastério de Zoodochou Pigi. Com apenas meia hora, não nos restou mais do que subir a ladeira que dá na torre do relógio para contemplarmos um panorama magnífico.
Para mais informações sobre a ilha, acesse www.poros.com.gr.
Deixamos Poros e seguimos navegando para a ilha de Egina. No barco, a tripulação comunicava a venda de um passeio de ônibus opcional até o Templo de Afaia, que custava 25 €. Achamos muito caro e não compramos. Estávamos certos de que em Egina alguém ofereceria esse tour de forma mais personalizada e por um preço bem menor.
Chegamos à ilha às 16h15. O tempo de permanência lá foi bem maior, de duas horas. Ao passo que os outros turistas se dirigiam aos ônibus da excursão, procuramos por alguém que pudesse nos levar no mesmo tour. Não se passaram cinco minutos e uma taxista se ofereceu para fazer o trajeto. O preço? 25 €, mas pelo táxi. Pagamos, portanto, 6,25 € cada, com direito a informações turísticas e paradas com tempo determinado por nós. O bilhete para o Templo de Afaia não estava incluído, mas custou apenas 4 €. No final das contas, nosso passeio por Egina ficou em 10,25 €, 14,15 a menos do que o pacote oferecido no barco.
O melhor de tudo: quando chegamos ao templo, não havia ninguém. Os ônibus que levavam os outros turistas ainda estavam a caminho, então tivemos o monumento só para nós.
Junto ao Partenon e ao Templo de Poseidon, este situado no Cabo Sunião, o Templo de Afaia forma o triângulo sagrado da Grécia. Não é certo se sua construção data do final do século 6 a.C. ou do início do século 5 a.C. É dedicado a Afaia, deusa da fertilidade e do ciclo da agricultura. Segundo a mitologia, Britomártis, sua meio-irmã e protetora, a fez desaparecer, convertendo-a em Afaia, a Invisível. O templo foi construído no local do seu desaparecimento.
Enquanto contornávamos o monumento, chega o primeiro ônibus. A guia nos viu e nos reconheceu, perguntando, imediatamente, quanto pagamos pelo tour. Quando dissemos o valor, ela nem tentou nos convencer de qual seria a melhor opção: 25 € pelo ônibus ou 10,25 € pelo táxi.
Portanto, amigo turista, se for a Egina, dê preferência aos taxistas locais para fazer o passeio até o Templo de Afaia. Primeiro, porque eles precisam do seus euros muito mais do que a Athens One Day Cruise. Segundo, porque podem fazer o trajeto mais personalizado, com paradas maiores ou menores, dependerá do que você decidir. Terceiro, porque custará bem menos. Ok, talvez tivemos sorte por termos sido abordados por uma taxista muito eficiente e bem informada. Mas acredito que, perguntando antes de embarcar, você saberá sobre o que o motorista tem a oferecer em termos de história e de informação. Agora, se não estiver seguro sobre essa contratação in loco, opte pela excursão de ônibus. O importante é você conhecer o templo e algumas particularidades da ilha.
Já havíamos terminado nossa visita ao templo, e os visitantes retardatários se digladiavam por um bom lugar para tirar uma foto no entorno do edifício em ruínas. Aproveitamos o tempo extra e a disponibilidade da taxista para tomar um sorvete ali ao lado. O sabor mais pedido na loja era o de pistache. Isso porque a ilha é um grande produtor desse pequeno fruto verde. Lá, existe uma enorme variedade de produtos derivados dessa delícia, que vão de doces a cosméticos. Se você gosta de pistache, irá se esbaldar entre uma loja e outra da via costeira do porto de Egina.
No caminho de volta, passamos pelo Monastério de Agios Nektarios. Foi fundado em 1904 pelo ortodoxo grego Nectário de Egina, oficialmente reconhecido como santo em 1961 pelo Patriarcado Ecumênico de Constantinopla. O edifício é belíssimo, mas pudemos avistá-lo somente de fora. De alguma maneira, é possível conhecê-lo por dentro, pois vi relatos na internet bem positivos sobre o lugar. Li inclusive que é possível passar a noite ali (não mais que uma). No entanto, estava fechado para visitação. De qualquer forma, se lhe interessa muito conhecer o local, ligue para o escritório do monastério no telefone (+30) 22970 53800, para a casa de hóspedes no número (+30) 22970 53821 ou envie um fax para (+30) 22970 53998. Se ninguém atender às suas ligações, o fax é a melhor maneira de entrar em contato.
Fizemos algumas fotos na entrada do monastério e retornamos ao táxi para finalizar o passeio. A simpática motorista – também não posso deixar de mencionar que era muito bonita – deixou-nos no porto da cidade, de frente para a igreja de Agios Nikolaos, em que entramos para uma rápida espiada.
Da igreja, caminhamos pela via costeira, passamos em algumas lojas de pistache e seguimos para o barco.
Para mais informações sobre a ilha de Egina, acesse www.aeginagreece.com.
Embora a parte essencial do cruzeiro pelas ilhas sarônicas já havia se encerrado, os passageiros continuavam muito animados. Logo que entramos na embarcação, quatro indianas davam um show bollywoodiano ao som do execrado tecladista. Mesmo que fossem meras turistas, proporcionavam um espetáculo bem divertido. E a animação não terminaria por ali. Sabíamos que, em instantes, haveria uma apresentação de danças típicas gregas. Era a minha deixa para subir ao segundo andar do barco, porque sou chamariz de shows ao vivo. Seja numa peça de teatro, num concerto ou em qualquer outra performance em que haja interação com o público, advinha quem os artistas escolhem para subir ao palco! Moi. E não é porque sou careca. Na flor da minha cabeludisse, eu já era convocado para fazer papel de palhaço. Portanto, meu caro, não seria na Grécia que eu daria uma canja forçada. Chega de bullying! Eu e o Élcio deixamos meus pais no meio da muvuca e subimos ao andar de cima para finalizar o cruzeiro com dignidade.
Chegamos a Atenas cansados, mas dava para dar um rolé pelas ruas de Plaka. Meus pais preferiram ficar no hotel, ao passo que eu e o Élcio optamos por afogar o resto do dia em moderadas doses alcoólicas.
QUINTO DIA – Terça-feira, 30/12/2014
Kerameikos, Ágora de Atenas (com Templo de Hefesto e Museu da Ágora de Atenas), Biblioteca de Adriano, Ágora Romana, Gazi
Debaixo de chuva, pegamos o metrô e fomos a Kerameikos, um sítio arqueológico onde, por séculos, funcionou um cemitério. Suas tumbas mais antigas datam da idade do bronze. Seu funcionamento foi aumentando com o passar dos anos, atingindo o ápice entre período helenístico e o século 6.
Assim como seu nome sugere (Cerâmico, em português), em Kerameikos funcionava um estabelecimento de ceramistas e de pintores de vasos, considerado, na sua época, o maior produtor dos famosos vasos da região da Ática. As constantes enchentes de um córrego que atravessa o local fizeram com que a área fosse convertida numa necrópole, tornando-se, gradualmente, o cemitério mais importante da Grécia Antiga. O lugar também abriga o Museu Arqueológico de Kerameikos, que preserva e expõe as peças encontradas naquele sítio arqueológico, além das provenientes de outras localidades.
O que mais me impressionava era a falta de prestígio dos turistas à atração. Naquela manhã de terça-feira, éramos os únicos visitantes em Kerameikos. Entendo que Atenas é saturada de sítios arqueológicos muitíssimo importantes, mas acho que o cemitério merece uma atenção especial, tanto por suas ruínas quanto pelo seu museu muito bem curado.
O bilhete especial para a Acrópole também é válido para Kerameikos, desde que utilizado num período não superior a 5 dias após o primeiro ingresso. A entrada é gratuita nos dias 6 de março, 18 de abril, 18 de maio, 5 de junho, 28 de outubro, bem como no último final de semana de setembro e a cada primeiro domingo do mês no período entre 1º de novembro e 31 de março. De 1º de abril a 4 de outubro, o cemitério fica aberto das 8h às 19h30 de terça a domingo, e das 11h às 19h30 às segundas-feiras. Entre 1º de novembro e 31 de março, funciona todos os dias das 8h30 às 15h. Situa-se na Rua Ermou, 148. É servido pelas estações de metrô Thissio (linha 1) e Kerameikos (linha 3).
Deixamos o cemitério e seguimos caminhando pela Rua Ermou até a Adrianou, onde andamos mais um pouco até a entrada da Ágora de Atenas, o espaço público mais visado da Atenas Antiga. Ali, pessoas de uma mesma comunidade se relacionavam e manifestavam suas opiniões, fazendo do local um grande centro de propagação de ideias, contribuindo para o desenvolvimento da política e da democracia ateniense. Era uma praça de grandes proporções, que abrigava edifícios públicos, mercados e feiras livres.
Dos seus edifícios em ruínas, o Templo de Hefesto destaca-se majestoso. Está incrivelmente bem preservado! Isso porque, no século 7, foi convertido em uma igreja cristã. Como não se destrói ou não se rouba o que é de Deus, o monumento conseguiu sobreviver à ação impiedosa do homem. Declaro, portanto, a santificação da minha casa, do meu carro e das futuras aquisições nessa vida sagrada que levo.
Outro edifício grandioso da Ágora de Atenas é a Estoa de Átalo, um presente do rei Átalo II de Pérgamo à cidade em gratidão à educação que ele recebera ali. Foi erguido no século 2 a.C. e destruído pelos hérulos em 267. Na década de 1950, a família Rockefeller financiou sua reconstrução, devolvendo ao monumento sua forma original.
O edifício abriga o Museu da Ágora de Atenas, que exibe uma coleção de achados arqueológicos datados da pedra polida à Grécia otomana, revelando, cronologicamente, os aspectos da vida pública e privada na Grécia Antiga.
A exibição mais importante do museu está associada aos objetos ligados à atividade cívica que promoveram e institucionalizaram a Democracia Ateniense. Ali, encontrei a peça mais procurada por mim nesta viagem: o óstraco. Trata-se de um fragmento de cerâmica que os atenienses utilizavam para escrever o nome de personalidades ilustres, as quais desejavam que fossem expurgadas da sociedade por dez anos. Daí a origem do termo ostracismo. Funcionava como uma cédula de voto. Note, na imagem abaixo, o nome de Temístocles (em grego Θεμιστοκλῆς) repetido em vários óstracos. Sua intransigência em tempos de paz rendeu-lhe o exílio.
O ingresso especial da Acrópole é valido para a Ágora de Atenas e para o museu. Também é gratuito nos dias 6 de março, 18 de abril, 18 de maio, 5 de junho, 28 de outubro, bem como no último final de semana de setembro e a cada primeiro domingo do mês no período entre 1º de novembro e 31 de março. Tanto a ágora quanto o museu abrem diariamente. Entre 1º de abril e 31 de outubro, funcionam de terça a domingo, das 8h30 às 19h30, e às segundas-feiras, das 11h às 19h30. Entre 1º de novembro e 31 de março, funcionam todos os dias da semana, das 8h30 às 15h.
Deixamos a Ágora de Atenas. Já era hora de almoçar, em tal caso um pouco da culinária grega não faria mal a nenhum de nós quatro. Ali de frente, na Rua Adrianou, escolhemos um restaurante para provarmos algumas das tantas iguarias que um viajante não pode deixar de comer em Atenas. Pedimos fava, uma deliciosa pasta de ervilhas amarelas típica da ilha de Santorini; pastitsio (bem similar ao pasticcio), uma espécie de macarrão ao forno coberto de queijo e recheado com carne moída; souvlaki, um tipo de espetinho de carne servido com pão pita e batatas, e – por que não? – salada grega. Ah, e vinho, é claro!
De estômagos satisfeitos, seguimos pela Adrianou em direção às ruínas da Biblioteca de Adriano, edifício construído em 132 por ordem daquele imperador romano para abrigar sua extensa coleção de livros e funcionar como espaço de leitura e centro de convenções. Como a Estoa de Átalo, foi destruída pelos hérulos em 267. Infelizmente, estava fechada. Embora funcione diariamente das 8h às 15h, em alguns dias (os quais não consegui precisar), fecha mais cedo. E aquela terça-feira era um desses dias. Pelo menos pudemos ver parte das ruínas do lado de fora.
Outro lugar em que batemos com a cara na porta – pela segunda vez! – foi a Ágora Romana, que fica bem ao lado da Biblioteca de Adriano. De acordo com a pesquisa que fiz durante a montagem do nosso roteiro, entre 1º de novembro e 31 de março, funciona diariamente das 8h às 17h. Portanto, deveria estar aberta. Como não somos especialistas em arqueologia, e naqueles poucos dias em Atenas já havíamos visto muita ruína e escavação de extrema importância, não ligamos por não conhecer essa atração.
Lembrando: se for à Acrópole (é claro que você vai!), não jogue fora seu bilhete especial. Ele também é válido para a Biblioteca de Adriano e para a Ágora Romana. Eu nunca vi um bilhete tão abrangente! E olha que custou apenas 12 €!
Na calçada que margeia a Ágora Romana, havia algumas laranjeiras carregadas. Aliás, elas estavam por toda parte. Aquilo me deixava intrigadíssimo! Como é que ninguém catava aquelas belezuras?! Aqui no Brasil, ter uma árvore frutífera em casa significa ter a propriedade possivelmente invadida. Ou vai me dizer que em toda a sua existência você nunca penetrou um terreno vizinho para chupar jabuticabas ou furtar mexericas?! Enfim, desde a viagem a Coimbra, feita em março de 2014, venho questionando o porquê de ninguém usufruir as laranjas que ficam dando sopa pelas ruas. Naquela cidade portuguesa, o Élcio até vislumbrou colher algumas dessas frutas, mas não o fez. Em Atenas, não resistimos. Se a polícia aparecesse, fod%$#@s! Criamos coragem e catamos uma laranja. A casca era muito dura, mas a polpa parecia saborosíssima. Até provarmos. Zeus me livre! Nem a crise grega era mais amarga! Dias mais tarde, descobrimos que a fruta chama-se laranja-amarga. Nossa, é mesmo?!
Voltamos para o hotel e descansamos um pouco. À noite, debaixo de uma chuva moderada, rumamos para Gazi, outra face da vida boêmia ateniense. Para chegar lá, pegamos a linha 3 (azul) do metrô na Praça Sintagma e descemos em Kerameikos.
Gazi leva esse nome por causa de uma usina de gás que existia ali, hoje convertida no Technopolis, um espaço cultural que promove uma infinidade de exibições, concertos, seminários, entre outras atividades sofisticadas. Sua presença estimula um comportamento distinto nas redondezas, e isso reflete na vida noturna. O bairro possui a melhor concentração de bares, restaurantes e cafés da cidade. Mas não fomos lá para inflar nosso espírito cultural. Queríamos mesmo era fazer um exercício de reflexão, capaz de elevar os ânimos a níveis intelectuais dificilmente alcançáveis. Isso mesmo! Fomos beber.
Entretanto, embebedar-se em Gazi estava fora de cogitação. Era tudo muito caro, inversamente proporcional à pindaíba em que a Grécia se encontrava – e ainda se encontra. O país estava à beira da bancarrota, mas, ainda assim, os gregos de Gazi festejavam a juventude e a beleza com bebidas caras e muito requinte. Lembrou-me inclusive as sympósion, reuniões badaladíssimas que ocorriam na Grécia Antiga, em que os cidadãos helênicos mais arrojados (os tímidos não tinham vez na sociedade), geralmente após um banquete, inundavam seus fígados com álcool ao passo que travavam diálogos intelectuais. Sócrates adorava liderar uma farra dessas. Gazi parecia isso: gente arrojada e bonita bebendo e interagindo. Juro que me sentia feliz por estarem felizes, mas não estava disposto a ter que deixar um órgão vital para pagar a conta.
SEXTO DIA – quarta-feira, 31/12/2014
Monte Licabeto, Museu Benaki, Estádio Panatenaico, réveillon na Praça Jacqueline de Romilly
Depois de um delicioso café da manhã farto de iogurte – esqueça essa porcariada que chamam de grego aqui no Brasil –, seguimos para o Monte Licabeto, o ponto mais alto da cidade, a 277 metros acima do nível mar. Para chegar lá, pegamos a linha 3 (azul) do metrô e descemos na estação Evangelismos, de onde caminhamos alguns quarteirões até a estação do teleférico que leva ao topo do monte. O bilhete custou 7 €.
Chovia um pouco e, lá em cima, fazia um frio do cão! Mas valia a pena estar ali. A paisagem é sensacional, embora a manhã estivesse um pouco embaçada pela névoa.
No mirante do Licabeto, encontram-se a capela de São Jorge, um campanário e um café bem aconchegante.
Depois de admirar o panorama, acender uma vela para o santo e tomar uma dose do licor grego Metaxa – poxa, fazia frio! –, deixamos o monte e seguimos caminhando até o Museu Benaki, instituição fundada graças aos esforços de Antonis Benakis, um exímio colecionador de antiguidades que investiu toda a sua fortuna em atividades de interesse sociocultural. Sua exposição é composta de obras de arte, de peças arqueológicas e de elementos históricos e etnológicos. O requinte do edifício neoclássico demonstra que a coleção que abriga é de grande importância.
O Museu Benaki funciona às quartas e sextas das 9h às 17h, às quintas e aos sábados das 9h às 24h e aos domingos das 9h às 15h. Situa-se na Rua Koumpari, 1, de frente para os Jardins Nacionais. É servido pelas linhas 2 (vermelha) e 3 (azul) do metrô, com desembarque nas estações Syntagma e Evangelismos. Oferece wifi gratuito. Para mais informações, acesse www.benaki.gr.
Após a visita ao museu, paramos para almoçar ali perto em um complexo de pequenos restaurantes da Praça Kolonakiou. Como foi bom comer em um lugar coberto, onde era permitido aos pombos voar de mesa em mesa e premiar, com uma titica branca, o prato de um freguês!…
Os clientes aparentavam gente abastada, atraindo várias crianças que cantavam a troco de esmola. É, a situação na Grécia NÃO estava boa! Mas a comida estava ótima.
A próxima atração seria o complexo dos Jardins Nacionais, mas estávamos atrasados no cumprimento do roteiro, então preferimos não conhecer suas dependências. Ademais, a chuva, por mais branda que estivesse, deixava os jardins menos atraentes. Mas indico uma visita ao local, especialmente em dias de sol e na primavera.
Caminhamos ladeando os jardins pela Rua Irodou Attikou rumo a uma atração tão esperada por mim: o Estádio Panatenaico.
O Panatenaico foi construído em 566 a.C. e reconstruído em 329 a.C. Encontrava-se em ruínas, até que, em 1870, foi completamente reformado. Em 1896, sediou os primeiros Jogos Olímpicos da era moderna e, em 2004, agregou um simbolismo muito especial à história das olimpíadas hospedando as competições de tiro com arco e a chegada das maratonas masculina e feminina. Lembra da emocionante disputa em que o brasileiro Vanderlei de Lima liderava a maratona até que o sociopata-maltrajado-idiota-religioso Cornelius Horan o empurrou para fora da pista? Pois é, os 42 quilômetros da prova foram encerrados ali no Panatenaico, com Vanderlei se desmanchando em lágrimas de alegria por conquistar o bronze. Padre maldito!
O estádio foi construído com mármore branco do Monte Pentélico. Sua arquibancada em formato de “U” tem capacidade para 60.000 espectadores sentados.
Eu não poderia deixar de dramatizar uma corrida emocionada pela pista segurando a tocha olímpica (guarda-chuva), nem mesmo de fantasiar um choro no ponto mais alto do pódio. Esta cena, eu pretendia fazer sozinho, mas meus pais invadiram meu instante de glória, restando-me a terceira colocação. Muito motivador.
O estádio possui um pequeno museu. A visita ao complexo, mesmo rápida, é imprescindível para quem vai a Atenas, especialmente para os tarados por olimpíadas como eu e o Élcio. De março a outubro, funciona das 8h às 19h, e de novembro a fevereiro, das 8h às 17h. Oferece aparelhos audio guide em português. O acesso é pela Av. Vasileos Konstantinou, e as estações de metrô mais próximas são a Syntagma e a Evangelismos. Para mais informações, acesse www.panathenaicstadium.gr.
Deixamos o estádio e voltamos ao hotel para descansar e nos preparar para a virada de ano. Se não me engano, até aquele momento, ainda não havíamos definido onde passaríamos o réveillon. Celebrar a virada não era o foco da viagem, mas festas são festas, então tínhamos a obrigação de ir a algum lugar e torcer para que o ano vindouro fosse repleto de realizações, saúde, esforços e, é claro, viagens. Muitas viagens! Na montagem do nosso roteiro, pesquisei sobre os lugares mais indicados para se passar o Ano Novo em Atenas. A maioria dos sites e blogs sugeriam as principais praças da cidade. Certamente, havia comemorações em outros formatos, pagas ou gratuitas, mas, para nós, bastaria uma aglomeração de pessoas alegres e um local para tomar umas. Naquela tarde do dia 31, perguntamos ao recepcionista sobre o melhor lugar público para se comemorar, e ele nos indicou a Praça Jacqueline de Romilly, localizada a poucos metros da estação de metrô Thissio.
Chegamos à praça por volta das 22h45. Sentamo-nos em um restaurante da Rua Iraklidon para comer, beber e assistir à queima de fogos, que aconteceria na Acrópole, visível dali. Pedimos sanduíches e bebidas. Chuviscava um pouco e o frio castigava mais do que professora de primário na década de 80. Os minutos foram passando, e nada do rango chegar. Eu estava bebendo uma cerveja muito forte, que me deixou pra lá de Bagdá. Eis que, no início da contagem regressiva, o pobre garçom aparece com nossas refeições. Eu disse “Moço, deixa aí na nossa mesa, porque vamos assistir aos fogos!”. Sete segundos depois, “Feliz 2015!”. Nossos olhos brilhavam arregalados em direção à Acrópole.
O espetáculo pirotécnico começou bem devagar, com uns três estouros coloridos bem minguados. Continuamos esperando por mais luzes, cores e barulho. Os olhos, que até então brilhavam, se mantiveram arregalados, mas de desconfiança. Mais quatro estouros aconteceram. Pausa frustrada. Outros três encerraram a rarefeita exibição. Aguados, retornamos às nossas refeições. Logo em seguida, uma banda começou a tocar músicas tradicionais gregas num palco montado na praça. Não era rock, pop ou outro ritmo conhecido. Talvez fosse o “samba” deles, mas o compasso não era estimulante. Tanto que ninguém se descabelava de alegria, nem mesmo dançava. A música era definitivamente péssima! Os fãs que me perdoem, mas parecia um hit do Amado Batista ou outra música brega do tipo. Estranho, porque a banda tinha um visual muito pop.
Mas, como eu mesmo disse, na virada do ano, o importante é estarmos de bem com a vida, principalmente se estivermos viajando. Deixamos a Praça Jacqueline de Romilly e seguimos caminhando até o hotel. Ainda chovia, e o chão molhado dava um toque muito especial a Atenas.
SÉTIMO E ÚLTIMO DIA – quinta-feira, 1º/1/2015
Monte Philopappou (com Prisão de Sócrates, Monumento de Filopapo, Diateichisma, ruínas do subúrbio de Koile e Pnyx), Pireu e Psiri
Geralmente, quando se faz uma viagem à Grécia, os turistas procuram passar mais dias nas ilhas do Mar Egeu do que em Atenas. Mesmo que possua muitas atrações, a capital grega pode ser visitada em poucos dias, pois os passeios são rápidos e a cidade é muito pequena. Contudo, nossa viagem já havia sido comprada com muita antecedência – é preciso estar atento às promoções –, e pecamos por reservar muitos dias para cumprir o roteiro. Sim, poderíamos ter ido às famosas ilhas ou embarcado nos passeios pelas cidades mais próximas, mas o dindim estava curto. A alternativa seria esgotar Atenas. E assim tentamos fazer, ainda que, nos dias anteriores, tivemos o desprazer de encontrar algumas atrações fechadas, dificultando a reorganização do resto do roteiro.
Dando seguimento à viagem, dessa vez com um roteiro quase descompromissado, fizemos um passeio que detesto: conhecer a cidade num ônibus turístico do tipo hop on hop off, também conhecido como sightseeing. Já caí nessa armadilha em outras viagens, mas meus pais já estavam cansados e acharam interessante a proposta do bendito ônibus. Compramos o bilhete da empresa Sights of Athens e começamos a jornada no ponto da Praça Sintagma.
Nossa primeira parada foi no Monte Philopappou, na entrada localizada próxima ao Odeão de Herodes Ático, no encontro das ruas Dionysiou Areopagitou e Rovertou Galli.
Primeiro, visitamos a Prisão de Sócrates. Acredita-se que o filósofo grego passou seus últimos dias ali antes de ser sentenciado à morte com uma dose de cicuta.
Visitamos também o Monumento de Filopapo, situado na Colina das Musas. Trata-se de um mausoléu de 12 metros de altura dedicado a Gaio Júlio Antíoco Epifânio Filopapo, príncipe do Reino de Comagena, que morreu em 116.
Mais adiante, estão as ruínas da Diateichisma, uma fortaleza construída pelos atenienses no século 4 a.C. para confrontar a abordagem perigosa dos antigos macedônios.
Como em alguns pontos elevados de Atenas, a caminhada pelo monte era ornada com belíssimos panoramas. O tempo estava horrível, mas nada como a Acrópole se destacando no horizonte para disfarçar a insipidez monocromática em que o céu se encontrava.
Em seguida, passamos pelas ruínas do antigo subúrbio de Koile. A via que o cortava possuía de oito a doze metros de largura, conectando a Acrópole a Pireu. Esse eixo era de grande importância para as trocas comerciais e para suprir a cidade durante os tempos de cerco.
Rumamos para a atração mais importante do Monte Philopappou: Pnyx, uma colina que teve um papel fundamental na institucionalização da democracia. Foi o primeiro local onde a eclésia, principal assembleia ateniense, se reunia para decidir o destino da sociedade. No topo, está a bema, uma plataforma elevada onde os oradores vociferavam ao público presente.
Pnyx foi palco do desenvolvimento dos princípios da isēgoría, que é a igualdade do direito de manifestação na eclésia, da isonomía, que é a igualdade perante a lei, e da isopoliteía, que dá direitos iguais para votar e para assumir cargos políticos. Em Pnyx, a isēgoría era expressada pelo presidente da assembleia, que formalmente abria cada debate com o chamado “Quem deseja falar?”.
O Monte Philopappou possui outras atrações como o teatro de danças folclóricas Dora Stratou, que se encontrava fechado, e o Observatório Nacional de Atenas, que preferimos não visitar.
Retornamos ao ponto do ônibus turístico. Como não administramos bem o tempo de permanência no Monte Philopappou, tivemos que esperar uma eternidade pelo próximo busão. O fato é que a Sights of Athens possui duas linhas: a laranja, que atende o centro histórico de Atenas, com partidas a cada 30 minutos, e a azul, que vai a Pireu, com partidas a cada 45 minutos. Putíssimos pelos preciosos minutos despendidos no ponto fazendo nada, embarcamos no ônibus para Pireu.
Durante o trajeto pelo município portuário, procurei ficar no topo descoberto do veículo, passando um frio do k7! Era preciso apreciar a paisagem mesmo com as unhas roxeando. Confesso que cheguei a relevar o desconforto, pois cientistas afirmam que o corpo humano queima calorias para se manter aquecido em baixas temperaturas. Ótimo! Assim eu teria direito a comer mais naquele dia.
Ali no topo do ônibus, entre uma batida de queixo e outra, um amistoso coreano – todos são – puxou conversa. Aproveitei para relembrar a sensacional Seul, cidade que eu e o Élcio conhecemos dois meses antes. Falamos de comida, especialmente do bulgogi (churrasco coreano), e o caro oriental logo disse “Que vontade de comer isso!”.
As principais atrações de Pireu são o Teatro Municipal, a Praça Korai, a baía de Mikrolimano, o Museu Arqueológico, o Museu Marítimo Helênico e a cópia da estátua do Leão de Pireu. Com exceção de Mikrolimano, onde estivemos no domingo anterior, não conhecemos nenhum desses pontos turísticos. Fizemos o trajeto pelo município portuário sem desembarcar do ônibus, porque já não era tão cedo. Como no inverno o horário de circulação dos sightseeing é reduzido, a empresa estava prestes a encerrar o expediente. Preferimos prosseguir até Atenas. Fim da história: pagamos 18 € por um passeio com pouca ou quase nenhuma novidade. Para ir ao Monte Philopappou, poderíamos simplesmente ter pegado o metrô e descer na estação Acropoli, e passear em Pireu não foi grande coisa – minha opinião, ok? –, mesmo porque já havíamos conhecido Mikrolimano, uma de suas regiões.
Vale ressaltar que não contraindico os ônibus turísticos. De fato, são práticos, especialmente se o turista tem pouco tempo para explorar uma cidade. Eles passam pelas principais atrações, com embarques e desembarques periódicos. Esse sistema tira a minha liberdade de ir para onde eu quiser na hora em que bem entender, mas para o viajante que não se dispõe a construir um roteiro, é uma ótima alternativa. Pessoas com dificuldade de locomoção também são grandes beneficiários desses veículos, pois evitam as longas caminhadas ou escadarias do metrô. Outra empresa que faz o passeio em ônibus turístico é a City Sightseeing Athens. Assim como a Sights of Athens, possui duas rotas: a vermelha, que abrange o centro histórico de Atenas, e a verde, que vai a Pireu. Ambas as empresas oferecem áudio em português. Por fim, se o turista quiser uma aventura mais “exótica”, tem também o charmosíssimo Athens Happy Train – não me convide! –, o trem feliz que trafega pelos principais pontos da cidade.
Em Atenas, desembarcamos no ponto da Rua Dionysiou Areopagitou, coincidentemente bem de frente para o To Kati Allo, restaurante em que almoçamos no sábado passado. Zeus não poderia ter nos dado presente melhor! Estávamos sem comer desde o café da manhã. Eram umas 16h, então jamais deixaríamos o singelo e aconchegante estabelecimento passar batido. Entramos, saudamos a dona do restaurante e pedimos tudo o que tínhamos de direito. Como autênticos brasileiros, antes de almoçar, degustamos um belisquete para escancarar o apetite já aberto. Azeitona preta, azeite, ervas e cerveja seriam uma ótima opção para começar a nos despedir da longa jornada pela capital grega. “Sti̱n ygeiá sas!”, brindamos a Atenas.
Seguimos para o hotel por um caminho bem mais longo. Não erramos o trajeto, estávamos só curtindo um pouco mais das ruas quase labirínticas do centro histórico. Se não me engano, acho que fizemos isso para comprar alguns souvenirs e tomar um espresso na primeira cafeteria mais acolhedora. Também não tenho certeza se tomamos sorvete ou comemos algum doce típico. Garanto somente que sofríamos de nostalgia antecipada. Amo esse sentimento! É o que nos motiva a voltar.
No hotel, fizemos as malas, pois partiríamos na manhã seguinte para Istambul. Com as bagagens prontas, rumamos para Psiri, um bairro reconhecidamente perigoso na década de 1990, mas que hoje é um ótimo destino para quem procura por bons restaurantes, tavernas e bares.
As ruas de Psiri estavam vazias devido ao feriado de 1º de janeiro, mas os estabelecimentos funcionavam normalmente. No número 14 da Rua Eschilou, próximo à pequena Praça dos Heróis, encontramos uma taverna sensacional! O lugar chama-se Aischylou Grill House. O menu oferece uma enorme variedade de comida e os preços são em conta. A música ao vivo não tinha nada a ver com a batida grega estilo Amado Batista, tolerada na noite anterior. Ali, tocava-se o rebetiko (rebético, em português), um gênero musical oriundo das classes trabalhadoras. Enquanto alguns fregueses se ofereciam para cantar junto à banda, um casal suficientemente alcoolizado constrangia os filhos adolescentes com passos bem coreografados, impecavelmente sincronizados com o compasso do bouzouki.
Nosso fim de noite não foi extravagante, mas fechou a estadia em Atenas da melhor forma. Comemos uma boa refeição típica, apreciamos músicas inspiradas em momentos históricos de grande importância e observamos os gregos se deleitarem genuinamente. É fascinante abusar do tradicionalismo, especialmente se uma cultura foi construída em bases sólidas e se mantém sustentada por pilares magníficos. Com essa premissa, abusamos de Atenas. O réveillon não foi lá grandes coisas, mas nem era para ser. Serviu apenas como desculpa para irmos à capital grega e fruir toda sua magnificência histórica, arquitetura prodigiosa e aura mítica. Que o deus Hermes nos traga de volta!
contato@fuievouvoltar.com
Para ajudá-lo no planejamento do seu roteiro, marquei no mapa abaixo as atrações discorridas neste post e algumas não visitadas. Acesse o mapa e escolha os pontos turísticos desejados. Não se esqueça de calcular o tempo de permanência em cada local, levando em consideração se a visita é interna ou somente externa.
Adoro a forma como vc descreve as viagens, pois vc une informações úteis com muito bom humor. Parabéns mais uma vez pelo blog!
Oi, Priscila! Muito obrigado 🙂 Ainda não cheguei ao ponto que gostaria em relação às informações, mas aos poucos vou descobrindo novas maneiras de falar sobre isso. Amanhã, começarei o post sobre Veneza. Tentarei dar o máximo de dicas/informações possíveis.
Abraço 🙂
Parabéns, muito bom.
vc. vai escrever sobre Istambul?
Oi, Gerson! Muito obrigado! Como foi a terceira vez que fui a Istambul, não teve muita novidade, então preferi não escrever sobre essa ida. Mas se quiser conferir os relatos da primeira e da segunda viagem, acesse http://wp.me/p1A3X1-eQ e http://wp.me/p1A3X1-JS, respectivamente. O primeiro texto conta nosso roteiro dia a dia. O segundo faz uma análise das principais atrações. Gostei tanto que tive que ir uma terceira vez, rssrsr! E tomara que eu volte sempre! Mas uma coisa é preciso estar alerta: os taxistas de lá não são honestos, definitivamente. Obviamente, estou generalizando, mas tivemos grandes problemas na maioria das vezes. Se for a Istambul, evite pegar táxi o máximo possível. Abraço!
Olá Alessandro,
Também sofri muito com os taxistas, quase bati em um taxista em Istambul. Pretendo voltar no próximo ano, porém minha esposa está com medo do Estado Islâmico. Vc percebeu alguma anormalidade com relação a esse fato? Abraços
Não com o EI, Gerson, mas achei os turcos bem grosseiros dessa vez. Houve inclusive uma mulher-bomba que se suicidou numa delegacia próximo a onde estávamos hospedados, em Sultanahmet. Parece que isso é normal pra eles, pois pouco se falou ou divulgou.
Olá, Alessandro
Muito bom contar com pessoas como vc, que conta em detalhes a viagem realizada, ajudando a tantos que pretendem concretizar sonhos de viagens. Parabenizo e agradeço! Que Deus o abençoe com muitas viagens, e que venham muitas dicas!
Oi, Rosaly! Muuuuuito obrigado! E escrevo para motivar todos a viajarem, torcendo para que todos possam ter as mesmas oportunidades que eu tive de conhecer lugares tão bacanas. Que Deus abençoe você também, que te dê muita saúde para poder sair por aí mundo afora 🙂
Abraço e ótimas viagens sempre!
Olá, muito bom esse roteiro que você fez. Estou querendo ir no reveillon desse ano para Atenas e vi que tem muuuita coisa para fazer por lá. Obrigada.
Obrigado, Susie!! Abraço e boa viagem 🙂
Oi Alessandro!
Saudações de Lisboa.
Seu blog é muito bom!
Quero passar o Ano Novo em Atenas este ano.
Só preciso de saber qual o hotel que recomenda.
Oi, Manuela!!! Lisboa é Lisótima!!! 🙃 Amo sua terra!! Em Atenas fiquei em um bom hotel, próximo à praça Syntagma e ao bairro Plaka. Chama-se Hermes, e fica na Apollonos 19. Abraço!
cheguei no teu blog procurando Réveillon em Atenas e acabei encontrando tantas dicas excelentes!Acho que seguiremos teu roteiro por lá. Mas já que o Reveillon não foi lá essas coisas, tu me darias alguma dica?Esou indo com marido e filha de 13 anos. Obrigada e parabéns!!!!!
Muito obrigado pelo comentário, Carolina 🙂 É importante frisar que esse roteiro eu fiz na virada de ano de 2014 para 2015, portanto, nesse meio tempo, algumas coisas mudaram por lá, mas nada dramático. O nosso reveillon não foi um dos melhores por causa de uma série de coisinhas que, somadas, não ajudam, rsrsr! Mas a festa de que participamos não foi tão ruim. É até boa (exceto a música, rsrsr! muito estranha :-)). Foi uma comemoração com fogos e música ao vivo em seguida. Tinha bons restaurantes abertos, mas, como chovia, ficava difícil nos estabelecermos em algum deles.
Não sei te indicar um outro lugar para passar a virada de ano, então sugiro que você pergunte na recepção do hotel (ou ao host do AirBnB, se for o caso) por uma boa sugestão. Com certeza sua festa vai ser boa 🙂
Abraço e ótima viagem para vocês!
Alessandro