Sonhei que devo voltar a Vilnius

Vilnius vista do mirante do Castelo Alto

Vilnius vista do mirante do Castelo Alto

Pouco a pouco, vamos nos afastando do mundo ocidental. A marcha rumo ao oriente tem sido feita em ritmo quase imperial, como o avanço de civilizações que se espalharam gradativamente pelo globo anexando países e regiões. A diferença é que nossas “conquistas” são sempre pacíficas. Onde fincamos a bandeira simbólica da nossa peregrinação, deixamos sorrisos e elogios sinceros – há críticas também –, trazendo para casa impressões bem interessantes e muita história para contar, além da vontade incessante de querer voltar aos locais visitados. Fazemos jus ao nome deste blog.

Em novembro do ano passado, eu e o Élcio conhecemos os Países Bálticos, região situada na extremidade nordeste do Leste Europeu. Iniciamos o trajeto pela Lituânia, passando pouco mais de dois dias na capital Vilnius.

Praça da Prefeitura de Vilnius

Praça da Prefeitura de Vilnius

Quando comecei a viajar com mais frequência, o que era estranho algumas vezes me assustava e conduzia meus primeiros passos mundo afora como numa caminhada em cascas de ovos. Meu instinto de autopreservação se elevava ligeiramente. Por mais que eu me informasse sobre determinada região, havia o medo da língua, das relações pessoais e até da comida. Felizmente, isso quase não acontece mais. Inversamente, tenho me sentido atraído por lugares marcados por histórias atribuladas. Não, não é um desejo mórbido! É um sentimento de solidariedade, uma vontade de ouvir das populações locais sobre a influência das eventualidades em suas vidas. Quanto a Vilnius, eu estava certo de que respiraria ares de rancor em relação à Rússia ou à extinta União Soviética. Mas não foi bem assim. O que ali se passou, deixou marcas, mas passou. Agora, o anseio dos lituanos é por crescimento, liberdade e paz.

A Lituânia foi o primeiro país a proclamar sua independência da União Soviética, precisamente em 11 de março de 1990. Faz parte da União Europeia desde 11 de maio de 2004. É um país desenvolvido e com alto IDH. Percebe-se.

Filarmônica da Lituânia (Lietuvos nacionalinė filharmonija)

Filarmônica da Lituânia (Lietuvos nacionalinė filharmonija)

PRIMEIRO DIA – Domingo, 8/11/2015

Chegamos ao Vilniaus oro uostas (Aeroporto de Vilnius) às 19h10. Caminhando até o desembarque, passamos por um fumódromo, e o Élcio pediu pausa para uma pitada. Sete minutos mais tarde, éramos somente eu e ele no aeroporto. Já na saída, dirigimo-nos ao balcão de informação para orientações de transporte até o hotel. Contudo, o guichê estava fechado. Também não havia wi-fi para uma breve consulta sobre linhas de ônibus, shuttles, Uber, riquixás ou afins. Táxi?! Nem pensar! Negociar com taxistas é algo que deixamos de fazer há muitas viagens. Que me perdoem esses profissionais, mas nossas experiências com 80% dos motoristas de táxi no exterior não foram satisfatórias.

Aeroporto de Vilnius

Aeroporto de Vilnius

Cientes de que a culpa era toda nossa – poderíamos ter pesquisado sobre o transfer antes de partir para a Lituânia –, arrastamos nossas malas até o ponto de ônibus daquele pequeno aeroporto. Minutos mais tarde, surge uma moça. Enquanto tentava nos ajudar, o táxi que ela havia chamado via aplicativo chegou. Sem saber nos indicar uma linha de ônibus, a bela lituana repassou nossa pergunta ao taxista. Ele, com gestos rudes e nenhuma disponibilidade, resmungou qualquer coisa. Irena (ela só podia se chamar Irena!) encolheu os ombros, pediu-nos desculpas e partiu. Não nos restou opção senão nos informar com o motorista do primeiro ônibus que aparecesse. Assim o fizemos. Com sucesso, seguimos para o hotel.

Dica balao 2

Para que você não tenha uma experiência parecida com a nossa, sinto-me na obrigação de dar algumas sugestões de transfer do Aeroporto de Vilnius. No endereço www.vilnius.airport.lt, são citadas várias formas de translado por meio de trens e ônibus. Clique aqui para informações mais detalhadas. O mesmo site sugere o uso do táxi, afirmando que há veículos no terminal de desembarque. Os taxistas aceitam dinheiro e cartão de crédito, e o portal destaca a importância de se pedir um recibo impresso no final da corrida, oferecendo suporte via e-mail caso o passageiro se sinta lesado e assegurando compensação de perdas. Para informações sobre tarifas e rotas, clique aqui. Li também um relato que indica a empresa Etaxi (www.etaxi.lt/en), que oferece reservas de táxi pelo site ou aplicativo. Como eu disse, já tivemos muitos contratempos com táxis, mas o que é combinado não sai caro.

No caminho, não desgrudei os olhos do GPS do meu smartphone. Escolhi uma parada que parecia ser a mais próxima do hotel, onde desembarcamos. No trajeto a pé, que durou uns 16 minutos, as ruas estavam escuras e desertas, não me rendendo boas impressões de Vilnius. Puxar as malas por caminhos rusticamente calçados subtraía ainda mais minhas motivações com a cidade. Mas chega de lamúrias! Estávamos de férias e em outro lado do planeta. Lamentações não passariam de atos de ingratidão. E nada poderia nos impedir de fazer o que sabemos fazer melhor: viajar.

Chegamos ao hotel sãos e salvos. Mais breve do que o check-in só mesmo nossa escapada para uma noitada inaugural em terras lituanas. Conforme já resmunguei, a pesquisa sobre o transfer do aeroporto até o hotel não aconteceu, mas uma investigação apuradíssima a respeito dos melhores bares de Vilnius recebeu uma atenção extraespecial.

Para não dizer que não falei das flores, além de cervejas, vinhos e coquetéis bebidos naquela noite, esbanjamo-nos em folhas de beterraba. Sim, essa iguaria é comum por lá, obviamente acompanhada de carnes suculentas. Aproveitando, neste post, não espere por relatos pormenorizados sobre a comida típica lituana. É de fato deliciosa, mas, infelizmente, não tivemos muito tempo para provar o que aquele país báltico cozinha de melhor. Uma lástima!

Peito de frango com ameixas e folhas de beterraba servido no Etno Baras

Peito de frango com ameixas e folhas de beterraba servido no Etno Baras

Peito de pato com purê de batatas e calda de frutas vermelhas servido no Etno Baras

Peito de pato com purê de batatas e calda de frutas vermelhas servido no Etno Baras

SEGUNDO DIA – Segunda-feira, 9/11/2015

Igreja de São Nicolau, Igreja de Todos os Santos, Igreja de São Casimiro, Portão Basiliano, Igreja da Santa Trindade, Igreja Ortodoxa do Espírito Santo, Portão da Aurora, Bastião de Vilnius, Catedral dos Teótocos, Rua Literatų, Rua Pilies, Igreja de Santa Ana, Igreja de São Francisco e São Bernardino, Monumento das Três Cruzes, Rio Vilnia, Jardins Bernardinai, República de Užupis, Pequeno Gueto Judaico, Praça da Prefeitura

O dia amanheceu nublado. A inspiração poderia emergir mais vigorosa se houvesse céus anis. Porém, mesmo sob a alvura melancólica daquela manhã de segunda, Vilnius parecia reservar muita coisa interessante para nos mostrar.

Começamos nossa jornada numa visita à pequena Igreja de São Nicolau (Vilniaus Sv. Mikalojaus parapija), situada na Rua Šv. Mikalojaus, 4. É uma das representações mais antigas da arquitetura gótica da Lituânia. Não se sabe ao certo a data de sua construção, mas registros de 1387 já mencionavam sua existência.

Igreja de São Nicolau

Igreja de São Nicolau

Sem sorte, demos de cara com as portas da São Nicolau fechadas. Rumamos então até o número 20 da Rua Rūdninkų, onde está a bela Igreja de Todos os Santos (Vilniaus Visų Šventųjų bažnyčia), erigida entre 1620 e 1630 para atender às necessidades da Ordem das Carmelitas. É um exemplo notável do início da influência da arquitetura barroca na Lituânia. Também se encontrava fechada.

Igreja de Todos os Santos

Igreja de Todos os Santos

Mesmo desconfiados de que as manhãs de segunda na capital lituana não são propícias a orações, continuamos nossa jornada pelas principais construções religiosas da cidade. Atrás do edifício da prefeitura, na Rua Didžioji, 34, também nos deparamos com outro templo católico cerrado: a Igreja de São Casimiro (Šv. Kazimiero bažnyčia).

Igreja de São Casimiro

Igreja de São Casimiro

Construído entre 1604 e 1618, o belíssimo edifício barroco é uma homenagem a São Casimiro, príncipe do Grão-ducado da Lituânia e do Reino na Polônia. Valeu a pena a visita por fora.

Pouco mais adiante, no lado direito da Rua Aušros Vartų, precisamente no número 7, avistamos um pórtico no estilo rococó bem interessante. Não era uma atração programada em nosso roteiro, mas decidimos cruzá-lo.

Portão Basiliano

Portão Basiliano

Poucos metros para além do pórtico, que hoje sabemos chamar Portão Basiliano (Bazilijonų Vartai), encontramos escondida a Igreja da Santa Trindade (Šv. Trejybės Cerkvė).

Fachada da Igreja da Santa Trindade

Fachada da Igreja da Santa Trindade

Embora mal preservada, a igreja possui uma certa imponência. Erguida em 1514, sua arquitetura mescla sutilmente elementos góticos, barrocos e neobizantinos. Pertence à comunidade das Igrejas Católicas Orientais, uma organização religiosa composta por igrejas particulares autônomas em comunhão completa com o Papa.

Dando continuidade ao rito frustrante de igrejas fechadas, não conseguimos entrar na Santa Trindade. Diz-se que seu interior também está em más condições de preservação, escassamente ornado por alguns afrescos.

Eu ainda não havia entrado em sintonia com Vilnius. Nosso curto trajeto até então descortinou belas ruas e edificações peculiares, contudo havia uma atmosfera opressora. Ali mesmo no entorno da Santa Trindade, as paredes das construções estavam muito avariadas, incitando algumas sensações negativas. Não era possível definir se tal descaso era consequência de uma crise econômica, resquício da extinta União Soviética ou um mero desmazelo. Contudo, era bem interessante. O feio rendia olhares curiosos e fotos sensacionais.

Construção decadente no entorno da Igreja Santa Trindade

Construção decadente no entorno da Igreja Santa Trindade

No outro lado da Rua Aušros Vartų, está a Igreja Ortodoxa do Espírito Santo (Staciatikiu Sv. Dvasios Cerkve), onde, finalmente, conseguimos fazer uma visita interna. O atual edifício data de 1753. Foi erigido no estilo barroco, e seu interior possui elementos em rococó não tão ornamentados, mas não menos fascinantes. Lá dentro, os olhares são inevitavelmente atraídos pelo verde suntuoso do altar, arrematado pela decoração colorida dos outros ambientes. A influência do Império Russo é percebida nos traços neobizantinos, que não agridem a essência das formas originais do templo. Em sua cripta, estão restos mortais dos santos da Igreja Ortodoxa Russa Antônio, João e Eustáquio de Vilnius, torturados e executados por pregar em público, em 1347.

Igreja Ortodoxa do Espírito Santo

Igreja Ortodoxa do Espírito Santo

Infelizmente, não era permitido fotografar no interior da Espírito Santo. De lá, subimos um pequeno trecho da Aušros Vartų até o Portão da Aurora (Aušros Vartai), um dos monumentos mais importantes da capital lituana. Foi construído entre 1503 e 1522 como parte das fortificações de Vilnius. Das nove entradas da cidade, é a única remanescente, tendo sido todas as outras destruídas pelo governo no século 18.

Portão da Aurora

Portão da Aurora

A capela do portão abriga uma pintura conhecida como Nossa Senhora do Portão da Aurora (Aušros Vartų Dievo Motina), que dizem ter poderes milagrosos. Símbolo da cidade, a imagem, que retrata a Abençoada Virgem Maria, Mãe da Misericórdia, tem sido objeto de veneração de católicos e ortodoxos por séculos.

Sem conhecer o interior dessa edificação, atravessamos o portão, viramos à esquerda e ladeamos uma muralha até a Rua Šv. Dvasios, uma pequena via charmosíssima, embora as paredes dos prédios estejam em péssimo estado de conservação. Com efeito, esse era o charme do lugar.

Rua Šv. Dvasios

Rua Šv. Dvasios

Rua Šv. Dvasios

Rua Šv. Dvasios

Ao final da Šv. Dvasios, encontramos o Bastião de Vilnius (Vilniaus Gynybinės Sienos Basteja). Sabíamos que estaria fechado, pois as segundas-feiras são dedicadas à manutenção de suas instalações. Dessa forma, nossa visita à fortaleza contemplou somente um passeio por fora.

Bastião de Vilnius

Bastião de Vilnius

Também referido como barbacã, o bastião, assim como o Portão da Aurora, era parte das muralhas de Vilnius. Construído na primeira metade do século 17, sua estrutura consiste em uma torre e instalações de canhões subterrâneas conectadas por um corredor de 48 metros. Foi severamente destruído nas guerras com Moscou (1655 a 1661). Durante as duas grandes guerras mundiais, o exército alemão utilizou a fortaleza como arsenal. Hoje, o barbacã abriga um museu que exibe armas antigas, canhões e armaduras de cavaleiros.

Bastião de Vilnius

Bastião de Vilnius

Dica balao 2

O Bastião de Vilnius abre de quarta a domingo das 10 às 18h. Passeios guiados estão disponíveis em inglês, russo e lituano, e devem ser solicitados com antecedência pelo telefone +370 (5) 261 21 49 ou pelo e-mail basteja@lnm.lt. Para mais informações, acesse www.lnm.lt

A área no entorno do bastião proporcionava uma vista encantadora da cidade. Naquele momento eu já não sentia a atmosfera opressora do começo da jornada. O céu continuava nublado, mas uma certa leveza ia aos poucos se instaurando em nosso passeio.

Catedral dos Teótocos vista do mirante do Bastião de Vilnius

Catedral dos Teótocos vista do mirante do Bastião de Vilnius

Dica balao 2

A algumas dezenas de metros do bastião, no encontro das ruas Aukštaičių e Maironio, existe um mercado ao ar livre, onde, nas sextas-feiras de maio a setembro, acontece o Open Kitchen, um festival de comida de rua que oferece iguarias de todo o tipo. Era novembro, portanto não tivemos a oportunidade de conhecer esse pequeno terreno de perdições gastronômicas. Em meio a tantas barraquinhas, comensais e beberrões podem escolher entre almoçar, lanchar ou se entregar num happy hour como bem entender. Funciona das 11h30 a meia-noite.

Mercado ao ar livre Open Kitchen, visto do mirante do Bastião de Vilnius

Mercado ao ar livre Open Kitchen, visto do mirante do Bastião de Vilnius

Deixamos o bastião e rumamos pela Rua Maironio até a Catedral dos Teótocos (Vilniaus Dievo Motinos Ėmimo į Dangų katedra), construída originalmente em 1348, no reinado do Grão-duque Algirdas, antes mesmo da cristianização do país.

Catedral dos Teótocos

Catedral dos Teótocos

Depois de séculos de relevante história e várias reconstruções, hoje, a catedral pertence à Igreja Ortodoxa Russa, servindo principalmente aos residentes das etnias russa e bielorrussa de Vilnius.

De lá, seguimos pela Rua Rusų até a Rua Literatų, reduto dos amantes dos livros, dedicada aos escritores, tradutores ou a qualquer pessoa ligada à literatura nacional ou internacional. Ali, os letrados são homenageados com um belo mural incrustado com objetos de cerâmica e vidro, esculturas e pinturas.

Painel da Rua Literatų

Mural da Rua Literatų

Rua Literatų

Rua Literatų

A atmosfera opressora já havia desaparecido. Vilnius se mostrava cada vez mais fascinante e singular. A tentativa de encontrar uma razão para meu enfado recém desfeito não trouxe explicações claras, mas vale uma breve reflexão. Em primeiro lugar, a capital lituana não é um destino turístico muito visado, e sua cultura e história quiçá causam uma certa estranheza. Mas isso é puro preconceito – meu –, pois é uma cidade comum, sem contrastes significativos para nós brasileiros. De mais a mais, já me sentia à vontade por lá. Segundo, o dia estava nublado. Entretanto, também descarto essa hipótese, afinal já enfrentei intempéries do tipo ou piores em outras viagens. Por fim, resta-me fazer uma análise do barroco, tão expressivo na cidade. Talvez a opulência e dramaticidade desse estilo arquitetônico tivesse provocado uma tensão nos meus miolos. Se você já esteve em Ouro Preto, é possível que tenha sentido esse conflito ao caminhar por suas ruas antigas e tortuosas e por suas ladeiras intermináveis, ornadas por construções exuberantes e obras de arte pra lá de pesadas e decorativas. Isso é uma das coisas mais admiráveis da história da arte: um movimento artístico que consegue provocar sensações previsíveis e idiossincráticas.

Enfim, era pura frescura! Eu não tinha motivos para perturbação. Provavelmente comecei o dia com o pé esquerdo, e nada como algumas horas de turismo para retomar o vigor e a vontade de querer bater perna.

Mas voltemos ao barroco. Vilnius deve sua singularidade ao arquiteto polonês Johann Christoph Glaubitz, responsável pelo surgimento de um movimento arquitetônico conhecido como Barroco de Vilnius. Sua atuação na cidade teve início em 1737, quando um incêndio devastou a Igreja de São João Batista (Vilniaus Šv. Jono Krikštytojo ir Šv. Jono apaštalo ir evangelisto bažnyčia). Glaubitz foi chamado para reconstruir esse templo luterano, dando início a uma série de reconstruções de outros edifícios importantes da capital, rendendo a Vilnius a alcunha de “Cidade do Barroco”. A Cidade Velha é a região mais representativa desse estilo.

Num erro de percurso, acabamos desembocando na Rua Pilies, atração a ser visitada no dia seguinte. Sem prejudicar o roteiro, nossa caminhada abrangeu apenas um trecho curto dessa via, suficiente para nos levar a uma pequena feira de bugigangas, onde compramos muitas matrioscas, brinquedos de madeira e souvenirs diversos.

Matrioscas vendidas em feira da Rua Pilies

Matrioscas vendidas em feira da Rua Pilies

Brinquedos de madeira vendidos em feira da Rua Pilies

Brinquedos de madeira vendidos em feira da Rua Pilies

Igreja Ortodoxa Russa da Santa Parascheva

Igreja Ortodoxa Russa da Santa Parascheva

Caminhamos pela feira até a Igreja Ortodoxa Russa da Santa Parascheva. De lá, retomamos o itinerário planejado. Seguimos em direção ao Rio Vilnia, que margeamos até chegar às igrejas católicas de Santa Ana (Šv. Onos bažnyčia) e de São Francisco e São Bernardino (Vilniaus Šv. Pranciškaus Asyžiečio bažnyčia), situadas uma ao lado da outra, na Rua Maironio.

Rio Vilnia

Rio Vilnia

A Santa Ana é um dos exemplos mais belos da arquitetura gótica na Lituânia. Possui traços dos estilos flamboyant e gótico de tijolos. O edifício atual foi construído entre 1495 e 1500, e embora tenha passado por várias reformas, sua fachada manteve-se intocada. Segundo a lenda, de tão bela, Napoleão Bonaparte, após conhecê-la durante a Campanha da Rússia, em 1812, desejou levá-la para Paris na palma de suas mãos.

Igrejas de Santa Ana (à esquerda) e de São Francisco e São Bernardino

Igrejas de Santa Ana (à esquerda) e de São Francisco e São Bernardino

Infelizmente, a igreja estava fechada. Rumamos então para a São Francisco e São Bernardino, também conhecida como Igreja Bernardina, outro exemplo formidável da arquitetura gótica da Lituânia, dedicada a São Francisco de Assis e a São Bernardino de Siena.

Torre da Igreja de Santa Ana à direita e Igreja de São Francisco e São Bernardino ao fundo

Torre da Igreja de Santa Ana à direita e Igreja de São Francisco e São Bernardino ao fundo

Erguida originalmente em madeira na segunda metade do século 15 e reconstruída em tijolos no final do mesmo século, a Igreja Bernardina passou por várias reformas, adquirindo traços renascentistas e barrocos. Fez parte inclusive das muralhas de defesa de Vilnius. Seu interior é belíssimo!

Igreja de São Francisco e São Bernardino

Igreja de São Francisco e São Bernardino

Após uma rápida visita, deixamos a igreja e caminhamos até o final da Rua Mironio. Passamos pelos jardins do Centro Lituano de Cultura e Folclore (Lietuvos liaudies kultūros centras), atravessamos o Rio Vilnia e demos início a uma subida austera e inumana até o topo da Colina das Três Cruzes. Ali no alto encontraríamos o monumento das Três Cruzes (Trys kryžiai), onde, segundo a lenda, sete frades franciscanos foram decapitados.

Escadaria da Colina das Três Cruzes

Escadaria da Colina das Três Cruzes

As Três Cruzes foram erigidas no início do século 17. Sua estrutura em madeira demandava reparos constantes, até que colapsaram definitivamente, em 1869. As autoridades czarinas não permitiram a reconstrução, contudo, em 1916, quando Vilnius encontrava-se ocupada pelos alemães, novas cruzes foram esculpidas em concreto. Em 1950, a truculência soviética levou o monumento ao chão, enterrando anos de simbolismo. Mas um patrimônio tão célebre não poderia ser esquecido. Em 1988, durante o Sąjūdis, movimento de independência da Lituânia, um escultor chamado Henrikas Šilgalis reergueu as cruzes, reacendendo o orgulho dos lituanos e devolvendo ao horizonte de Vilnius uma de suas atrações mais importantes.

Monumento das Três Cruzes

Monumento das Três Cruzes

Que me desculpem os sete frades, mas o panorama avistado do deck de observação da Colina das Três Cruzes é de perder a cabeça! Lá de cima é possível apreciar as particularidades dos quatro cantos da cidade.

Vilnius vista da Colina das Três Cruzes

Vilnius vista da Colina das Três Cruzes

Torre de Gediminas vista da Colina das Três Cruzes

Torre de Gediminas vista da Colina das Três Cruzes

Vegetação da Colina das Três Cruzes

Vegetação da Colina das Três Cruzes

Deixamos a colina pela escadaria dos aflitos – descer não era menos difícil –, viramos à esquerda e seguimos ladeando o Vilnia na procura de uma ponte para cruzarmos o rio e retornarmos à Cidade Velha. Após alguns minutos, sem ponte à vista, decidimos que seria melhor voltar até o Centro Lituano de Cultura e Folclore e atravessar o rio no mesmo ponto por onde chegamos àquela margem.

Rio Vilnia, próximo à Colina das Três Cruzes

Rio Vilnia, próximo à Colina das Três Cruzes

Em épocas passadas, eu consideraria andanças como essa um desperdício de tempo. Contudo, caminhadas sem rumo, mesmo que por erro de percurso ou trajeto mal planejado, jamais trarão prejuízos, a não ser aos joelhos.

E foi naquele momento que eu atingi o sentimento mais galardoador que um viajante pode ter; a paixão por um lugar que, mesmo precipitada, se tornará amor eterno; o ponto em que o visitante esquece todas as dúvidas, preconceitos e temores de um local e passa a se sentir à vontade e com vontade de aproveitar o máximo de tudo o que está vendo e sentindo. Vilnius havia me seduzido! E que bobajada minha foi aquela de tentar descobrir o que me afligia, de culpar as diferenças culturais, o céu cinzento e até mesmo o barroco? Logo o barroco, que por si só é uma das principais atrações da cidade?! É, talvez eu estivesse precisando de rezar, mas com tanta igreja fechada…

Já na outra margem do Vilnia, atravessamos os Jardins Bernardinai (Bernardinų sodas).

Jardins Bernardinai

Jardins Bernardinai

Estávamos perto do lugar mais cultural da cidade: a República de Užupis, muitas vezes comparada ao ultraboêmio Montmartre, em Paris. Nas fronteiras daquele bairro, uma pequena área residencial dava outras amostras de desmazelo urbano; um desleixo que funcionava mais como imã para meu Instagram do que insultava meu desejo por espaços preservados ou restaurados.

Área residencial em Užupis

Área residencial em Užupis

Área residencial em Užupis (via Instagram)

Área residencial em Užupis (via Instagram)

A República de Užupis é baluarte de artistas e outros cidadãos de hábitos mais alternativos. O título “república” é algo bizarro que custei a entender. Procurando um sentido para tal designação, fui informado de que em 1997 os residentes desse pequeno distrito de Vilnius declararam sua independência, estabelecendo moeda, bandeira e presidência próprias.

Escultura do Anjo de Užupis (Užupis angelas), no distrito de Užupis

Escultura do Anjo de Užupis (Užupis angelas), no distrito de Užupis

Além disso, Užupis possui uma antena (de TV?), ministros, bispo e exército, hoje composto por 12 homens. E o que seria de uma república sem uma constituição? Eis alguns trechos de sua Carta Magna, que pode ser lida na íntegra e em vários idiomas num muro da Rua Paupio:

“[…]
Todos os cidadãos têm o direito de amar e de tomar conta de um gato.

Todos os cidadãos têm o direito de chorar.
Um cão tem o direito de ser um cão
[…]”

Mural da Constituição na Rua Paupio, em Užupis

Mural da Constituição na Rua Paupio, em Užupis

Cristo! Estou quase desistindo de passar minha distante aposentadoria em Lisboa para curtir uma velhice excêntrica em Užupis!

Passagem Jono Meko skersvėjis, em Užupis

Passagem Jono Meko skersvėjis, em Užupis

Um dos acessos ao bairro, que fica no encontro das ruas Maironio e Užupio, é graciosamente ornado por uma ponte sobre o Rio Vilnia, decorada com cadeados de visitantes apaixonados e equipada com um balanço que aguça a ousadia de aventureiros.

Ponte sobre o Rio Vilnia, na fronteira de Užupis (via Instagram)

Ponte sobre o Rio Vilnia, na fronteira de Užupis (via Instagram)

Ponte sobre o Rio Vilnia, na fronteira de Užupis

Ponte sobre o Rio Vilnia, na fronteira de Užupis

Balanço suspenso em ponte sobre o Rio Vilnia, em Užupis

Balanço suspenso em ponte sobre o Rio Vilnia, em Užupis

Ao lado da ponte, rente ao curso do rio, está a Pequena Sereia (Undinėlė), uma escultura em bronze do artista Romas Vilčiauskas. Segundo a lenda, esse ser metade mulher metade peixe atrai pessoas do mundo inteiro até Užupis, e aqueles que se renderem ao seu charme ficarão ali para sempre.

Escultura da Pequena Sereia, em Užupis

Escultura Pequena Sereia, em Užupis

Naquele pitoresco distrito é tudo muito especial e quase verossímil, mas as peças começam a se encaixar quando se descobre que na República de Užupis não existem embaixadas, nem mesmo a da Lituânia. E o que dizer do ex-presidente Romas Lileikis, músico, poeta e diretor de cinema?! Nem líderes norte-americanos conseguem ser tão polivalentes assim. Por fim, os moradores celebram a independência de Užupis no sugestivo 1º de abril.

Entrada da passagem Jono Meko skersvėjis, em Užupis

Entrada da passagem Jono Meko skersvėjis, em Užupis

A doce fanfarrice teve início logo que a Lituânia se libertou das garras soviéticas. A população ansiava por redescobrir sua identidade nacional, então encontrou na fundação da república uma espécie de catarse, um simbolismo que expurgaria e enterraria de vez os anos sombrios de comunismo; um advento tão especial que um dos idealizadores da comunidade “uzupiana”, o fotógrafo Saulius Paukstys, sugeriu Frank Zappa como patrono do distrito, apesar da irrelevância do músico norte-americano para o país e do fato de que ele nem sequer tivesse pisado solos lituanos.

Antes de continuarmos explorando o distrito, paramos para almoçar num restaurante chamado Užupio Klasika, um estabelecimento aconchegante e barato da Rua Krivių. Eu pedi bife de porco com cogumelos boletus (kiaulienos išpjovos kepsnys su baravykais), que me foi servido com batatas e tomates fritos.

Bife de porco com cogumelos boletus (kiaulienos išpjovos kepsnys su baravykais)

Bife de porco com cogumelos boletus (kiaulienos išpjovos kepsnys su baravykais)

Já o Élcio pediu peito de peru (kalakuto krūtinėlė) recheado com tomates secos e ricota, servido com arroz, vegetais cozidos no vapor e molho de laranja. Ele não gostou muito, porque detesta doce na comida. Embora eu estivesse satisfeito com meu prato, não me importei de permutar algumas iguarias com o caro amigo. Estava tudo muito bom! Uma pena não termos aproveitado mais da culinária lituana.

Peito de peru (kalakuto krūtinėlė)

Peito de peru (kalakuto krūtinėlė)

Restaurados, continuamos nossa peregrinação por Užupis. O distrito estava semideserto, talvez por causa da segunda-feira, mas era agradável e inspirador mesmo assim. As noites são certamente mais efervescentes, todavia isso não chegamos a conferir.

Rua Užupio, em Užupis

Rua Užupio, em Užupis

Um espresso não seria má ideia, especialmente se servido em uma cafeteria típica de Užupis. Mais adiante na Rua Krivių, de frente para a Praça Užupis (Užupio skveras), além do café, comi alguns macarrons e um bolinho típico chamado kanelės, feito à base de farinha, ovos, rum, baunilha e mel. Sensacional!

Espresso com macarrons e kanelės, servido em cafeteria de Užupis

Espresso com macarrons e kanelės, servido em cafeteria de Užupis

Não me lembro do nome da cafeteria, mas Vilnius está cheia delas.

Seguimos andando pelo bairro. E caminhamos muito, não tanto pela vontade de conhecer o distrito, e sim para dar tempo de surgir uma oportunidade de tomar que fosse uma cerveja em meio a toda aquela atmosfera alternativa. Oportunidade até surgiu, mas preferimos continuar andando.

Rua Baltasis, em Užupis

Rua Baltasis, em Užupis

Rua Užupio, em Užupis

Rua Užupio, em Užupis

Vilnius prometia muito, e ficar rodopiando por Užupis poderia prejudicar nosso roteiro. Então encerramos o tour pela especialíssima minirrepública e zarpamos para o Pequeno Gueto Judaico, uma região demarcada pelas ruas Stiklių, Gaono, Antokolskio e Žydų, onde, durante a Segunda Guerra Mundial, foram severamente confinadas quase 12.000 pessoas.

Rua Stiklių, no Pequeno Gueto Judaico

Rua Stiklių, no Pequeno Gueto Judaico

Para se ter uma ideia da influência dos judeus na cidade, antes da guerra, Vilnius era um dos maiores centros de cultura e teologia judaicas do mundo, recebendo inclusive o nome hebraico de Jerusalém da Lituânia.

Rua Antokolskio, no Pequeno Gueto Judaico

Rua Antokolskio, no Pequeno Gueto Judaico

Com a extinção do Pequeno Gueto, em 1941, surge o Grande Gueto, que operou de 6 de setembro de 1941 a 24 de setembro de 1943, ocupando uma área que compreendia as ruas Lydos, Rūdninkų, Mėsinių, Ašmenos, Žemaitijos, Dysnos, Šiaulių e Ligoninės. Nesse período de pouco mais de dois anos, maus tratos, doenças, execuções e deportações para campos de execução e extermínio reduziram a população do gueto de cerca de 40.000 a zero. Centenas de judeus conseguiram sobreviver se escondendo nas florestas vizinhas, tornando-se membro dos Partisans soviéticos ou sendo abrigados clandestinamente pelos habitantes locais.

À parte sua triste história, o bairro judaico é muito interessante e convidativo, e por ali não deixamos de tomar uma cerveja. O sol que andava atrás das nuvens já havia se posto e o prelúdio da noite anunciava bons goles, queijos e outros petiscos.

A Kauno é uma das principais cervejas da Lituânia

A Kauno é uma das principais cervejas da Lituânia

Deixamos a região judaica, visitamos a emblemática Praça da Prefeitura e saímos vagueando de bar em bar – moderadamente, é claro. Só na Avenida Vokiečių, passamos por uns três estabelecimentos, encerrando a bebedeira em um pub chamado 7 Fridays, próximo ao hotel. Depois de uma jornada como essa, nada melhor que uma boa noite de sono.

Prefeitura de Vilnius

Prefeitura de Vilnius

Praça da Prefeitura de Vilnius

Praça da Prefeitura de Vilnius

Petiscando na Avenida Vokiečių

Petiscando na Avenida Vokiečių

TERCEIRO E ÚLTIMO DIA – Terça-feira, 10/11/2015

Mercado Halės, Rua Pilies, Palácio dos Grão-duques da Lituânia, Catedral de Vilnius, Torre de Gediminas, Ponte Mindaugas, Rio Neris, Avenida Gediminas, Praça Lukiškių, Teatro Dramático Nacional Lituano, Palácio Presidencial, região da Universidade de Vilnius

Rua Ligoninės

Rua Ligoninės

Começaríamos o dia retornando à Rua Pilies, dessa vez para percorrer toda a sua extensão. Por algum motivo, erramos o caminho e desembocamos no Mercado Halės (Halės turgavietė). Até somos aficionados por mercados municipais, mas aquele não era grande coisa.

Mercado Halės

Mercado Halės

Edifício de frente para o Mercado Halės

Edifício de frente para o Mercado Halės

Reorganizamos o trajeto e 25 minutos mais tarde já nos encontrávamos na Pilies, a rua mais antiga da cidade. No seu lugar havia uma rota que ligava o complexo do Castelo de Vilnius (Vilniaus pilių kompleksas) ao sul do país, frequentemente percorrida por reis, papas e enviados de outras nações que se destinavam ao castelo. A arquitetura de seus edifícios mescla os estilos gótico, renascentista e barroco. Não poderia ser menos bonita!

Rua Pilies. Torre de Gediminas ao fundo

Rua Pilies. Torre de Gediminas ao fundo

Rua Pilies esquina com Rua Bernardinų

Rua Pilies esquina com Rua Bernardinų

Em seguida, fomos ao Palácio dos Grão-duques da Lituânia (Lietuvos Didžiosios Kunigaikštystės valdovų rūmai Vilniaus žemutinėje pilyje), erguido originalmente no final do século 15 para os governantes do Grão-ducado da Lituânia e os futuros reis da Polônia. Faz parte do Compexo do Castelo de Vilnius (Vilniaus pilių kompleksas), um agrupamento de edifícios e construções desenvolvidas entre os séculos 10 e 18, uma das maiores estruturas de defesa da capital lituana.

Palácio do Grão-duque da Lituânia

Palácio dos Grão-duques da Lituânia

O luxuoso edifício, erigido na área conhecida como Castelo Baixo do complexo, passou por várias reformas, até que, em meados do século 17, foi devastado na guerra com Moscou. Sua reconstrução foi cogitada somente no final do século 20, motivada pelo movimento de independência da Lituânia. Em 1987, tiveram início os trabalhos de escavação arqueológica. A construção do palácio começou em 10 de maio de 2002, sendo inaugurado em 6 de julho de 2009.

Por toda sua existência, o palácio foi um centro político, administrativo e cultural da comunidade polaco-lituana. O dia a dia não somente da Lituânia, mas também dos países do centro, leste e norte da Europa era decidido ali. Hoje, abriga o Museu Nacional (Nacionalinis muziejus).

Ruínas do Castelo Baixo, no Palácio do Grão-duque da Lituânia

Ruínas, no Palácio dos Grão-duques da Lituânia

A visita ao museu compreende dois trajetos que exibem aspectos ligados à história, arqueologia, arquitetura e cotidiano do palácio. O tour termina no Salão do Tesouro.

Salão do Palácio dos Grão-duques da Lituânia

Salão do Palácio dos Grão-duques da Lituânia

Dica balao 2

O Palácio dos Grão-duques da Lituânia é atração imprescindível em Vilnius. Abre às terças, quartas, sextas e sábados das 10h às 18h, às quintas das 10h às 2oh e aos domingos das 10 às 16h, com última entrada uma hora antes do encerramento do expediente. Não funciona às segundas e feriados nacionais, exceto nos dias 6 de julho, 16 de fevereiro e 11 de março. Para mais informações, acesse www.valdovurumai.lt.

Deixamos o palácio e fomos à Catedral de Vilnius (Vilniaus Šv. Stanislovo ir Šv. Vladislovo arkikatedra bazilika), principal igreja católica da Lituânia, dedicada aos santos Estanislau e Ladislau, também parte do Castelo Baixo.

Catedral de Vilnius

Catedral de Vilnius

A catedral foi erigida em 1251, mas uma série de reconstruções ocorreu ao longo dos séculos. A forma atual data de 1801, desenhada no estilo neoclássico. É de fato suntuosa, mas seu interior deixa um pouco a desejar, apesar da decoração composta por várias obras de arte do período entre os séculos 16 e 19. Sua principal atração, acredito, são as criptas, que podem ser visitadas somente com o acompanhamento de um guia. Restos mortais de personalidades importantes da história lituana, como os grão-duques Vytautas, o Grande e Alexandre da Polônia, estão enterrados ali.

Dica balao 2

As criptas abrem de segunda a sábado das 10h às 16h. As visitas guiadas são feitas em grupos de no máximo 10 pessoas, e devem ser reservadas pelo telefone +370 5 269 7800 ou pelo e-mail katedrospozemiai@bpmuziejus.lt.

Campanário da Catedral de Vilnius

Campanário da Catedral de Vilnius

Deixamos a catedral e demos início a uma subida não muito fatigante – a vista compensava – até a Torre de Gediminas (Gedimino pilies bokštas), cuja construção atual foi erguida em 1930 sobre as ruínas do Castelo Alto do Complexo do Castelo de Vilnius. É uma das filiais do Museu Nacional da Lituânia (Lietuvos nacionalinis muziejus).

Torre de Gediminas

Torre de Gediminas

Entorno do Castelo Alto

Entorno do Castelo Alto

A torre é um ícone importante para a cidade e para o país. Sua estrutura octogonal foi desenhada no formato da litas, antiga moeda nacional. Hoje, o edifício de três andares abriga uma exposição de peças arqueológicas encontradas nas redondezas, maquetes da cidade, armamentos e outros objetos históricos.

Torre de Gediminas

Torre de Gediminas

Infelizmente, não sei por que razão, a torre estava fechada. Restou-nos “apenas” um panorama espetacular dali das ruínas do Castelo Alto. Vlnius é linda!

Vilnius vista das ruínas do Castelo Alto

Vilnius vista das ruínas do Castelo Alto

Vilnius vista das ruínas do Castelo Alto

Vilnius vista das ruínas do Castelo Alto

Rio Neris e Ponte Mindaugas vistos das ruínas do Castelo Alto

Rio Neris e Ponte Mindaugas vistos das ruínas do Castelo Alto

Dica balao 2

A torre abre todos os dias. Entre abril e setembro, funciona das 10h às 21h, e de outubro a março, das 10h às 18h. A bilheteria fecha meia hora antes do encerramento do expediente. Os portões para a área do Castelo Alto fecham das 23h às 7h de maio a setembro e das 21h às 7h de outubro a abril. Para mais informações, acesse www.lnm.lt/en/exposition-locations.

Por falar em Gediminas, Grão-duque da Lituânia entre 1316 e 1341, é essencial lembrar da importância de sua figura para Vilnius. Como aconteceu com quase todos os maiores líderes da história da humanidade, que um dia tiveram um sonho ou presenciaram uma manifestação divina, em que uma entidade disse que deveriam conquistar tal lugar ou mesmo autodeterminar-se imperador, rei etc., com Gediminas não foi diferente. Certa vez, após uma bem-sucedida e extenuante caçada, o bravo duque decidiu descansar numa floresta, passando a noite por lá. Então sonhou que, no topo da colina onde ele havia abatido um touro naquele dia, precisamente nas imediações do Castelo Alto, um enorme lobo de ferro uivou tão forte que pareciam cem lobos berrando ao mesmo tempo. O duque pediu para que o Sumo Sacerdote Lizdeika explicasse aquele sonho. O sábio homem disse que era um presságio indicando que Gediminas deveria construir uma cidade nas imediações, que mais tarde seria mundialmente conhecida e se tornaria a capital da Lituânia. O duque, respeitando o desejo da entidade que lhe incumbiu essa missão via sonho, fundou Vilnius, que recebeu tal nome por causa do Rio Vilnia.

Rio Vilnia com colina do Castelo Alto ao fundo

Rio Vilnia com colina do Castelo Alto ao fundo

Um sonho bem conveniente. Esta noite dormirei, e logo pela manhã publicarei meu sonho nas redes sociais, chamando a atenção de todos para a vontade dos céus de que deverei tirar férias pelo menos seis vezes ao ano, nas quais, ainda de acordo com os desejos dessa entidade celeste, terei a obrigação de viajar com despesas incluídas, financiadas não sei por quem – que a entidade decida.

Deixamos a torre pelo funicular que atende a área do Castelo Alto. Tomamos conhecimento desse meio de transporte somente lá em cima. Poderíamos ter subido por ele, mas valeu a pena chegar à torre caminhando. Calorias a menos dão direito a bebidas e comidas a mais.

Funicular do Castelo Alto. Destaque para os museus Novo Arsenal e Antigo Arsenal

Funicular do Castelo Alto. Destaque para os museus Novo Arsenal e Antigo Arsenal

Dica balao 2

No desembarque do funicular estão outros dois museus pertencentes ao Museu Nacional da Lituânia: o Antigo Arsenal (Senasis arsenalas) e o Novo Arsenal (Naujasis arsenalas), que exibem peças arqueológicas, vestimentas, tecidos, mobiliário e outros elementos ligados à história do país. Preferimos não visitá-los, mas vale a pena uma passada por lá. Para mais informações sobre essas exposições, acesse www.lnm.lt/en/exposition-locations.

Edifício do Novo Arsenal

Edifício do Novo Arsenal

Ali de frente está o Neris, outro rio importante da cidade, muito maior inclusive do que o Vilnia, que é apenas local. Atravessamos a Ponte Mindaugas (Mindaugo tiltas), viramos à esquerda e começamos uma caminhada às margens do Neris pela Rua Žvejų até a ponte da Rua Kalvarijų, onde dobramos novamente à esquerda e retornamos ao outro lado do rio. Não é um passeio indicado nos guias turísticos, mas a região é bem interessante.

Rio Neris

Rio Neris

Após cruzarmos o rio, caminhamos reto por alguns quarteirões até a Avenida Gediminas (Gedimino prospektas), via mais importante da cidade. Mais do que célebre, é bem sofisticada, ornamentada em grande parte por belíssimos edifícios construídos nos séculos 19 e 20, onde órgãos do governo, instituições públicas, organizações comerciais e centros culturais ocupam um dos metros quadrados mais caros da Lituânia.

Avenida Gediminas

Avenida Gediminas

A avenida liga a Praça da Catedral (Katedros aikštė) ao Palácio Seimas (Lietuvos Respublikos Seimas), sede do parlamento lituano. Foi fundada em 1836 e já teve vários nomes, todos em homenagem a personalidades influentes da história do país. Inicialmente, chamava-se Avenida São Jorge. Entre 1922 e 1939, quando Vilnius estava sob domínio da Segunda República Polonesa, foi nomeada Avenida Mickiewicz, em honra ao poeta e escritor polonês Adam Mickiewicz. Em épocas nada gloriosas, recebeu as denominações de Rua Adolf Hitler, Avenida Stalin e Avenida Lenin. Gediminas foi lembrado de 1939 a 1940 e novamente em 1989. Desde então, o ilustre grão-duque empresta seu nome à bela via.

Avenida Gediminas

Avenida Gediminas

Assim que chegamos à Gediminas, viramos à direita e seguimos caminhando até a Praça Lukiškių (Lukiškių aikštė). Ali de frente está uma das atrações mais interessantes da cidade, o Museu das Vítimas do Genocídio (Genocido auku muziejus), mas que infelizmente estava fechado, pois não funciona às segundas e terças.

Edifício do Museu das Vítimas do Genocídio, de frente para a Praça Lukiškių

Edifício do Museu das Vítimas do Genocídio, de frente para a Praça Lukiškių

Dica balao 2

O Museu das Vítimas do Genocídio funciona no antigo edifício da famigerada KGB, onde muitas das barbáries foram planejadas e efetivadas pelos soviéticos ao longo de 50 anos. Sua exposição abriga a extinta prisão, as instalações onde as sentenças de morte eram implementadas e uma moderna exibição, que relata sobre a perda da liberdade nos anos de comunismo, as atrocidades praticadas pelas autoridades soviéticas e a luta pela independência. Abre de quarta a sábado das 10h às 18h e aos domingos das 10h às 17h. Para mais informações, acesse genocid.lt/muziejus/en.

Deixamos a Praça Lukiškių e caminhamos de volta pela Gediminas. Estávamos varados de fome, mas com preguiça de fazer uma refeição cerimoniosa. Comidas típicas sempre caem bem – quase sempre! –, porém optamos pela praticidade do fast food. Os gastrônomos podem nos atirar quantas pedras desejarem, mas o fato é que nosso empenho gourmet às vezes é tão vigoroso quanto um comprimido de Lexotan. E a coisa na Gediminas foi mais feia do que parece: não entramos em um McDonald’s, Burger King ou KFC, e sim numa loja da franquia finlandesa Hesburger, alegria da galera menos afortunada dos países bálticos, que não se preocupa com infartos do miocárdio antes do tempo previsto, mas que se satisfaz gastando menos com sanduíches, batatas fritas e afins.

Avenida Gediminas

Avenida Gediminas

Após o infame almoço, sacolejamos fora a tosquice entrando num café bem requintado. Abastecidos de cafeína, continuamos nosso tour pela avenida. Passamos diante do Teatro Dramático Nacional Lituano (Lietuvos nacionalinis dramos teatras), que se destaca pela escultura Três Musas, do artista Stanislovas Kuzma. A obra, que decora a entrada do teatro, é uma representação de Calíope, Tália e Melpômene, musas do drama, da comédia e da tragédia, respectivamente. O teatro situa-se no número 4 da Gediminas.

Escultura Três Musas, no Teatro Dramático Nacional Lituano

Escultura Três Musas, no Teatro Dramático Nacional Lituano

Terminamos o passeio pela célebre avenida na Praça da Catedral, onde estivemos mais cedo. De lá, circulamos sem rumo pelas ruas adjacentes ao Palácio Presidencial (Lietuvos Respublikos prezidentūra) e prosseguimos até as imediações da Universidade de Vilnius (Vilniaus universitetas).

Rua Liejyklos, próximo ao Palácio da Presidência

Rua Liejyklos, próximo ao Palácio Presidencial

Palácio Presidencial

Palácio Presidencial

Rua Dominikonų, nas imediações da Universidade de Vilnius

Rua Dominikonų, nas imediações da Universidade de Vilnius

Onde há universidade, há bares. E dos bons! Razões não nos faltavam para encerrar nossa jornada encantadora pela capital lituana. Debruçados em mesas estilosas ou em balcões usualmente frequentados por sóbrios, ébrios, bon vivants, hipsters e demais tipos boêmios, tomamos umas, petiscamos outras e relembramos nossa curta estadia em Vilnius. É certo que deixamos de conhecer atrações fascinantes dentro e fora da cidade, mas oportunidades para retornar lá não vão faltar.

Dica balao 2

Amigo turista, se for a Vilnius, os sites www.ivilnius.com, www.vilnius-tourism.lt e www.vilnius.com são ótimas referências para se montar um roteiro, além de uma boa vasculhada pela internet, é claro. Dicas boas é o que mais tem! E espero que meu relato também lhe sirva de inspiração.

Acredite ou não, assim como Gediminas, tive um grande sonho: sonhei que eu devia voltar a Vilnius. Diferentemente da surrealidade das manifestações do inconsciente, meu sono premonitório delineou de maneira objetiva a necessidade de peregrinação até uma pitoresca cidade do leste europeu, de história e cultura admiráveis, povo amistoso e beleza inigualável. Não tenho dúvidas de que esse lugar seja Vilnius. Num ato de submissão e gratidão à entidade divina que oniricamente investiu em mim essa missão, atenderei ao seus anseios e retornarei à capital da Lituânia.

Fui e vou voltar - Alessandro Paiva

contato@fuievouvoltar.com


Para ajudá-lo no planejamento do seu roteiro, marquei no mapa abaixo as atrações discorridas neste post e algumas não visitadas. Acesse o mapa e escolha os pontos turísticos desejados. Não se esqueça de calcular o tempo de permanência em cada local, levando em consideração se a visita é interna ou somente externa.

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Sobre Alessandro Paiva

A graphic designer who loves cocktail and travelling. Check my cocktail blog at pourmesamis.com, my travelling blog at fuievouvoltar.com and my graphic design portfolio at www.alessandropaiva.com.

Um Comentário

  1. olá,
    excelente seu post sobre Vilnius, aliás, o melhor que já li sobre esta cidade.
    estarei indo em setembro para a Russia, os países bálticos, Suécia e Finlândia.
    tem posts sobre estes destinos?
    aguardo ansiosa
    abraços desde Rio de Janeiro

    • Alessandro Paiva

      Oi, Sandra!! Muito obrigado!! Ainda não estive na Rússia e na Suécia, somente na Finlândia e países bálticos. Começo hoje a escrever sobre Riga, na Letônia, e vou tentar terminar bem antes de setembro. Já Tallinn, na Estônia, vou precisar de um pouco mais de tempo. Enfim, são cidades superbacanas, você vai adorar, tenho certeza 🙂 Abraço e até o próximo post (Riga), que espero terminar antes da sua viagem.

  2. Gustavo

    Eu viajo sem sair de casa. Que beleza!

    • Alessandro Paiva

      Valeu, Gustavo! Hoje começo outro post, dessa vez será Riga, capital da Letônia, um lugar sensacional!

      Abraço e obrigado pelo prestígio ao blog!

  3. Normelia

    Oi Alessandro!! Como sempre, muuuito bom o post, “fui” junto nessa viagem!!! Agora, preciso “voltar” para conhecer pessoalmente!!

  4. Lituânia já estava nos planos, mas com certeza seu post serviu como uma inspiração a mais. Aguardo o post sobre Riga. Abraços!

    • Alessandro Paiva

      Obrigado, Alê!!! 🙂 Estou terminando sobre Riga. Em seguida, vem Tallinn, a mais bacana das três capitais bálticas. Abraço!!!

  5. Excelente post! Vou visitar os bálticos em setembro e suas dicas foram preciosas, além das belas fotos que aumentaram a curiosidade e ansiedade para conhecer essas belas cidades. Parabéns pelo blog!! Abraços, Júlia.

    • Alessandro Paiva

      Muito obrigado, Júlia! 🙂 E tenho certeza que você vai adorar os bálticos, especialmente nessa época do ano. Abraço e ótima viagem 🙂

  6. Sueli Mulé

    Marcante seu post! Me preparando pra ir em julho e já me sentindo lá pela viagem que fiz com você. Adorei, obrigada !

    • Alessandro Paiva

      Oi, Sueli!!! Muito obrigado!!! Olha, tenho muitas saudades de Vilnius! Aproveite por mim! Abraço e ótima viagem 🙂

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