O calor de Singapura deixou saudades

Supertree Grove, no Gardens by the Bay, em Singapura

Supertree Grove, no Gardens by the Bay, em Singapura

Calor quase efervescente, chuvas constantes e alta umidade são umas das primeiras coisas a que um visitante se submete quando crava os pés em Singapura, cidade-estado localizada no sudeste asiático, a 1 grau norte da linha do Equador. Entretanto, nesse ponto da Península da Malásia, a intensidade climática está longe de ser o elemento de maior expressão. Mais do que intempéries, há uma diversidade excepcional, percebida na multiplicidade étnica, na peculiaridade dos costumes e na extravagância da gastronomia. Como se não bastasse a opulência cultural, a economia de Singapura coloca esse pequeno território no ranking dos países mais ricos do planeta, fortuna que vem acumulando desde sua separação da Malásia, em 1963.

Eu e o Élcio precisávamos conferir tudo isso. Tínhamos que ver de perto a convivência harmônica entre chineses, malaios e indianos; suar com as especiarias picantes que temperam as mais diversas refeições servidas nos hawker centres; esquentar a moringa nas espetaculares atrações ao ar livre e refrescá-la nos ares condicionados dos cafés, dos shopping centers e do metrô; invejar a tecnologia em prol da sustentabilidade, da mobilidade urbana e do desenvolvimento territorial, e tentar decifrar os diálogos proferidos nas quatro línguas oficiais: inglês, chinês, malaio e tâmil. Obviamente, não negligenciaríamos a vida noturna.

PRIMEIRO DIA – Quarta-feira (29/10/2014)

Orchard Road, Arab Quarter, Haji Lane

Chegamos a Singapura por volta das 14h. Impressionados com o Singapore Changi Airport, lamentamos não poder usufruir as famosas dependências daquele que é um dos melhores aeroportos do mundo. Nosso tempo era curto, portanto, mais que depressa, embarcamos num shuttle, que nos deixou na porta do Ibis on Bencoolen, hotel onde nos hospedamos.

Dica balao 2O transfer em Singapura pode ser feito por meio de shuttle, táxi, metrô ou ônibus. O táxi é certamente o meio mais confortável. A viagem custa entre S$16 e S$30 (dólar de Singapura), variação tarifária que vai depender do horário, do dia e das condições de trânsito. Em grupos maiores (três ou quatro pessoas), sai bem em conta. Já o metrô, lá chamado de MRT (Mass Rapid Transit), é um meio bastante econômico, contudo pode não ser o mais conveniente. Dependendo da localização em que você se hospedar, estará sujeito a trocas de linhas e a uma boa caminhada da estação até o hotel (relembremos o sol escaldante de Singapura), além de que os vagões não possuem espaços para acomodação das bagagens. Ir de ônibus também custa pouco, mas, assim como o MRT, não possui muito espaço para bagagens. Por fim, o shuttle, meio que escolhemos, custa S$9 por pessoa (S$6 para passageiros entre 3 e 12 anos e gratuito para crianças com menos de 3 anos). O trajeto é um pouco mais demorado do que o de táxi, mas é bem eficiente e confortável. O bilhete é comprado no guichê localizado próximo à saída do desembarque. A espera pelo veículo leva em torno de 5 a 10 minutos. Agora, se você estiver fazendo apenas uma escala em Singapura e sua permanência no Changi for maior do que cinco horas, não hesite em embarcar no Free Singapore Tour, passeio turístico oferecido gratuitamente pelo aeroporto. Clique aqui para mais informações.

Chegamos ao Ibis, tomamos um banho e imediatamente começamos nossa jornada por Singapura. Deixamos o hotel precisamente às 16h10 e rumamos para a Orchard Road, uma avenida de 2,2 quilômetros de puro consumo. Essa atração foi incluída no roteiro com um certo desdém, pois shopping centers eram a última coisa que queríamos visitar. Mas não tínhamos muita opção para aquele fim de tarde, e uma batida de perna só para observar parte do dia a dia dos singapurianos não faria mal.

Orchard Road

Orchard Road

Foi inevitável: bastou uma caminhada de poucos quarteirões para eu ser tomado por uma vontade incontrolável de comprar. Os preços não são baixos, mas a variedade de lojas e de mercadorias deixa qualquer franciscano com a carteira nervosa. Exitosamente, resisti e não comprei nem uma bala. Agora entendo porque tanto se indica a Orchard Road para compras.

Viramos à direita na Grange Road, onde procuramos um lugar para comer. Estávamos extremamente ansiosos para provar a afamada culinária de Singapura.

Se você leu alguns dos meus posts, deve ter me achando um charlatão, pois prego a degustação de comidas locais com uma propriedade de quem é especialista em turismo de gastronomia, praticamente um Anthony Bourdain, mas na hora de provar vísceras, carnes exóticas ou mesmo frutos do mar, mostro que sou um arregão, um legítimo filho de Ronald McDonald, quem sempre me salva nos momentos de sufoco. Mas em Singapura eu estava determinado. Comeria as mais típicas iguarias, sem cara feia ou ânsia de vômito. A prova de fogo aconteceria na praça de alimentação de um shopping da Grange Road. Pedi um prato chamado me soto ayam (sopa de frango javanesa). Ok, nada exótico, desafiador ou repulsivo, mas fora dos padrões a que estou acostumado. Ao me servir, a cozinheira perguntou “chili?” e eu disse “Sim, manda ver!”. Queria aquela sopa pegando fogo!

Me soto ayam (sopa de frango javanesa)

Me soto ayam (sopa de frango javanesa)

Para você entender o grau de ardência da pimenta, eu poderia mostrar a foto da minha cabeça encharcada de suor, mas não seria nada sensual. Talvez eu provocasse histeria se exibisse uma selfie dos meus lábios subitamente sedutores, inchados e avermelhados pelo efeito da capsaicina, capazes de provocar frisson em irmãs de caridade (olha a profanação!) e inveja em donzelas ucranianas. Preferi manter a postura.

Enfim, meu prato estava muito bom e apimentado. Já o Élcio pediu uma carne moída superfotogênica, que lhe foi servida conforme a imagem prometia. Contudo, interrompeu as garfadas ao degustar o molho exageradamente doce e feito com muito amendoim, que ele odeia. Decepcionado, deixou o “cajuzinho” de lado e optou por um noodle com carnes e vegetais.

Élcio rejeita a carne moída com molho de amendoim

Élcio rejeita a carne moída com molho de amendoim

Saímos do shopping. Logo na calçada, o Élcio fez uma pausa para fumar. Ele sabia que, em Singapura, dar umas pitadas não seria tão simples.

Dica balao 2A cidade tem o apelido de “The Fine City“. Mais do que uma alusão a uma “cidade boa” de se morar, esse título é uma forma talvez desdenhosa de se referir às multas (fine, em inglês) excessivas que ali são impostas. As leis são superestritas, com punições muitas vezes severas, como as chibatadas. Turista pichador, traficante ou que simplesmente extrapola os 90 dias permitidos em visto é punido com dolorosas varadas de bambu, lá conhecidas como caning. Violações graves à parte, algumas normas bizarras à nossa cultura são instituídas em Singapura. Mascar chicletes é uma delas. Cuspir uma goma no chão pode custar S$1.000 ao infrator. A mesma pena é aplicada àqueles que são pegos transportando grandes quantidades do produto pela primeira vez. Já uma simples cuspida é multada com S$500. É melhor expelir a saliva num vaso sanitário, sem se esquecer de dar descarga, pois premiar uma privada com cuspe, xixi, cocô ou outra excreção, sem mandá-los esgoto abaixo, poderá custar ao porcalhão outros S$500. E se você se acha espertíssimo por possuir um aplicativo que descobre senhas de wi-fi, experimente fazer isso por lá. Só de tentar dar uma logadinha rápida em conexão alheia, será considerado hacker, podendo pagar uma multa de pelo menos S$5.000. Prefira as conexões gratuitas oferecidas pelos diversos Starbucks ou demais cafés espalhados pela cidade. Comer e beber no transporte público também não é uma boa. A multa é de S$1.000. Comer durian, então, nem pensar! Essa fedorenta fruta nativa é tão mau cheirosa que nem os singapurianos a suportam. Parece uma jaca, só que fede muito mais. Se em determinado local houver um aviso proibindo a degustação do durian, cumpra. Caso não haja placas restritivas, pode enfiar a cara na chulezenta. Na verdade, não existe multa definida para isso, mas, ao sentir o aroma dessa fruta, você entenderá o apelo dos cidadãos de lá. Outro aviso a que os turistas devem estar atentos é o de não atravessar. Praticar jaywalking (atravessar vias de forma irregular), rende uma multa de S$500. Prefira sempre as faixas de pedestre. Por fim, voltando ao caso do cigarro, existe uma série de restrições para se fumar, mesmo ao ar livre. Se você é fumante, evite sair tragando pelas ruas de Singapura. Fique atento às placas proibitivas. Se vir um monte de pessoas ao redor de uma lixeira, provavelmente ali é o lugar certo. Na calçada de frente para o shopping da Grange Road, havia uma área demarcada por uma linha amarela. Entendemos que o espaço era destinado às pitadas.

Área reservada para fumantes, na Grange Road

Área reservada para fumantes, na Grange Road

Pegamos a linha vermelha do metrô na estação Somerset e descemos na estação Bugis. Dali, caminhamos alguns quarteirões até ao Arab Quarter (Bairro Árabe), também conhecido como Kampong Glam. Esse pequeno bairro é formado por algumas ruas ao redor da Masjid Sultan (Mesquita do Sultão).

Masjid Sultan (Mesquita do Sultão)

Masjid Sultan (Mesquita do Sultão)

Para quem curte tecidos, tapetes, batiks, sáris, couro e perfume, ali é um paraíso. O bairro também é conhecido por sua variada gastronomia árabe. Mas foi na pequena Haji Lane que eu e o Élcio encontramos o que queríamos. Nos bares convidativos daquela rua apertadinha, finalizamos nossa primeira jornada em Singapura.

Haji Lane, no Arab Quarter

Haji Lane, no Arab Quarter

Happy hour na Haji Lane

Happy hour na Haji Lane

SEGUNDO DIA – Quinta-feira (30/10/2014)

Gardens by the Bay, Cloud Forest, Flower Dome, Supertree Grove, Central Business District, Telok Ayer Market, Yueh Hai Ching Temple, Large Reclining Figure, Homage to Newton, The Bird, Singapura Cats, Cavenagh Bridge, First Generation, Merlion Park, The Float, Esplanade Theatres on the Bay, Helix Bridge, Marina Bay Sands, SkyPark, Suntec City, Fountain of Wealth, Arab Quarter

Estávamos completamente sambados por causa do fuso horário. A longa viagem de ida mais a diferença de 10 horas ditavam nosso ritmo circadiano. Contudo, isso não abalava nossos ânimos. Deveríamos ter acordado um pouco mais tarde, mas a confusão em nossos organismos fez com que levantássemos bem mais cedo. Aproveitamos e rumamos para a primeira atração do dia: Gardens by the Bay (Jardins da Baía).

Gardens by the Bay (Jardins da Baía)

Gardens by the Bay (Jardins da Baía)

O Gardens by the Bay é um parque ecológico construído sobre um aterro marítimo de 101 hectares. É uma das atrações mais espetaculares que eu já vi. Faz parte de uma ação do governo para transformar o país de cidade jardim em “cidade num jardim”, aumentando a qualidade de vida dos singapurianos pela inclusão de mais espaços verdes.

Começamos a visita no parque pela Cloud Forest (Floresta das Nuvens), um verdadeiro refresco na quente e úmida Singapura. Esse enorme conservatório imita as condições climáticas de uma montanha tropical situada entre 1.000 e 3.000 metros acima do nível do mar. Sua estrutura de 42 metros de altura é acessível por meio de elevadores e passarelas, num trajeto refrescante entre cachoeiras, samambaias, orquídeas, bromélias, antúrios, entre outros. Eu não queria sair dali de dentro!

Cloud Forest (Floresta das Nuvens)

Cloud Forest (Floresta das Nuvens), em Gardens by the Bay

Cloud Forest (Floresta das Nuvens)

Cloud Forest (Floresta das Nuvens), em Gardens by the Bay

A Cloud Forest funciona diariamente das 9h às 22h. A bilheteria fecha às 21h e a última entrada é às 21h30. Para mais informações, clique aqui.

Deixamos a Cloud Forest e rumamos para outro conservatório ao lado chamado Flower Dome (Cúpula das Flores).

Flower Dome (Cúpula das Flores)

Flower Dome (Cúpula das Flores), em Gardens by the Bay

A Flower Dome também é espetacular! Possui 32 metros de altura e mantém sua temperatura entre 23 ºC e 25 ºC. Tais condições são favoráveis para que uma miríade de plantas encontradas no Mediterrâneo e em outras regiões tropicais semiáridas possam viver. Em algumas partes do conservatório, sente-se um aroma delicioso! A vontade que tive foi de sair cheirando planta por planta. Assim o fiz.

No Flower Dome (Cúpula das Flores), em Gardens by the Bay

Na Flower Dome (Cúpula das Flores), em Gardens by the Bay

Como nem tudo são flores, um visitante com sensibilidade estética mais apurada poderá se sentir agredido ao cruzar com pavões azuis, onças floridas e cobras estofadas. Mas esse cabaré era apenas uma exposição temporária. O kitsch excessivo se redimia no belíssimo jardim de flores multicoloridas.

Decoração de jardim do Flower Dome, em Gardens by the Bay

Decoração de jardim da Flower Dome (Cúpula das Flores), em Gardens by the Bay

No Flower Dome (Cúpula das Flores), em Gardens by the Bay

Na Flower Dome (Cúpula das Flores), em Gardens by the Bay

Assim como a Cloud Forest, a Flower Dome funciona diariamente das 9h às 22h. A bilheteria fecha às 21h e a última entrada é às 21h30. Clique aqui para mais informações.

Deixamos o conservatório florido e seguimos para um dos cartões postais de Singapura: o Supertree Grove (Bosque da Superárvore).

Supertree Grove (Bosque da Superárvore), em Gardens by the Bay

Supertree Grove (Bosque da Superárvore), em Gardens by the Bay

As 18 “superárvores”, como o próprio nome sugere, são megaestruturas no formato de uma árvore, com alturas que variam entre 25 e 50 metros. Esses jardins verticais e multifuncionais possuem uma tecnologia à base de células fotovoltaicas e de captadores de água pluvial, imitando as funções ecológicas de uma árvore. A energia produzida pelas supertrees é convertida em iluminação, e a água armazenada serve para irrigar a vegetação do complexo e para o funcionamento das fontes. As superárvores também possuem um mecanismo de aspiração e de escape de ar, operando como parte do sistema de refrigeração dos conservatórios do Gardens by the Bay.

Pagamos uma pequena taxa para subir em uma das árvores e caminhar pela OCBC Skyway, uma passarela de 128 metros de comprimento suspensa a 22 metros de altura, conectando duas das superárvores. A vista dali de cima é estonteante!

OCBC Skyway, em Gardens by the Bay

OCBC Skyway, em Gardens by the Bay

Dica balao 2Não estivemos ali à noite, mas sabe-se que é maravilhoso. As superárvores ganham vida com o show OCBC Garden Rhapsody, que sincroniza luzes coloridas e música num espetáculo de 10 minutos. As apresentações são gratuitas e acontecem diariamente às 19h45 e às 20h45.

Dali do parque, avista-se a Singapore Flyer, hoje a maior roda gigante do mundo, medindo 165 metros de altura. Possui 28 cápsulas com capacidade para 28 passageiros. O passeio dura em torno de 30 minutos. Em dias claros, é possível avistar a Malásia e a Indonésia. Mas essa atração não estava entre nossos interesses, então decidimos não visitá-la. No entanto, muita gente a considera ponto turístico imprescindível em Singapura, especialmente para quem gosta de vistas panorâmicas. Para mais informações sobre a Singapore Flyer, acesse www.singaporeflyer.com.

Singapore Flyer

Singapore Flyer

O Gradens by the Bay possui outras atrações, mas estávamos contentes com o que vimos. Exaustos de tanta lição de sustentabilidade e com um certo apetite, fomos almoçar. Deixamos o parque e seguimos para o Telok Ayer Market, popularmente chamado de Lau Pa Sat, uma das várias praças de alimentação de Singapura, ali conhecidas como hawker centres. Para chegar lá, pegamos a linha azul do metrô na estação Bayfront e descemos em Downtown. Foi uma viagem de apenas uma parada, poderíamos ter ido a pé. No entanto, a caminhada seria castigada pelo sol escaldante.

Estação de metrô Bayfront

Estação de metrô Bayfront

Dica balao 2Os hawker centres possuem uma grande variedade de restaurantes e servem refeições bem baratas. São atrações indispensáveis para quem vai a Singapura, especialmente para turistas com orçamento limitado. Os pratos variam entre S$4 e S$6, podendo custar até um pouco mais (ou menos!), porém sempre com um excelente custo-benefício: a comida é farta e deliciosa!

Telok Ayer Market

Telok Ayer Market (Lau Pa Sat)

Essas praças de alimentação vivem lotadas. Para garantir uma mesa ou apenas um assento, os singapurianos utilizam seus pertences para demarcar a vaga. É comum ver guarda-chuvas, bolsas e, mais frequentemente, pacotinhos de lenços de papel reservando um lugar.

Dica balao 2Por falar nisso, em Singapura, raramente se vê um estabelecimento que oferece guardanapos aos seus clientes. Turista que não deseja sair de um hawker com as mãos lambuzadas de molho – especialmente se tiver comido uma refeição ultrapicante – faz como os nativos: carrega seu próprio pacotinho de lenço de papel.

Lenços de papel utilizados em Singapura

Lenços de papel utilizados em Singapura

Como chegamos um pouco cedo ao Lau Pa Sat (eram 12h15), havia muita mesa disponível. Começamos nossa caçada pelo melhor prato e quase nos perdemos entre tanta opção de restaurante. Queríamos comer de tudo um tanto! Eu comecei meu banquete com um chicken wanton noodle (macarrão com frango picante e vegetais). A careca suou!

Chicken wanton noodle (macarrão com frango picante e vegetais), servido no Lau Pa Sat

Chicken wanton noodle (macarrão com frango picante e vegetais) servido no Lau Pa Sat

Já o Élcio tomou duas sopas. A primeira era uma belíssima combinação de vegetais com, se não me engano, frutos do mar.  Na segunda, ele pôde escolher os ingredientes, esbanjando um prato cheio de ovo, tofu, polvo, e carne de porco.

Sopa com carnes e vegetais servida no Lau Pa Sat

Sopa com carnes e vegetais servida no Lau Pa Sat

Sopa com tofu, ovo, polvo, e carne de porco servida no Lau Pa Sat

Sopa com tofu, ovo, polvo, e carne de porco servida no Lau Pa Sat

Eu até tentei comer outra coisa, mas nas gavetas do meu estômago tinha espaço para apenas uma sobremesa à base de chá verde. Delícia!

O Lau Pa Sat fica no Central Business Distric de Singapura, no cruzamento das avenidas Raffles Quay e Central Boulevard. As estações de metrô mais próximas são a Downtown, a Raffles Place e a Telok Ayer.

De barrigas estufadas e lábios em chamas, deixamos o Lau Pa Sat. Nada adaptados às altas temperaturas, caminhamos por meio quarteirão da Central Boulevard e fomos forçados a nos enfiar num Starbucks. Mais do que um espresso, ansiávamos pela soprada de um super ar condicionado. Após aquele breve momento de refrigeração, seguimos para a próxima atração, o templo chinês Yueh Hai Ching, situado na Phillip Street, bem perto dali.

Templo Yueh Hai Ching, no Central Business District

Templo Yueh Hai Ching, no Central Business District

Decoração do Templo Yueh Hai Ching

Decoração do templo Yueh Hai Ching

O Yueh Hai Ching é o templo taoista mais antigo do país. Foi construído entre 1850 e 1855 e reconstruído em 1895. Após uma rápida visita, deixamos o local e seguimos pelo Business Distric em direção às margens do Rio Singapura. Nessa região, encontram-se esculturas de alguns expoentes da arte nacional e internacional. Na N Canal Road, está a Large Reclining Figure, obra do artista inglês Henry Moore. Pesando 4 toneladas e medindo 9,45 metros de comprimento por 4,24 metros de altura, essa escultura em bronze é um modelo em escala maior de uma maquete de 1938. Foi encomendada ao artista pelo banco OCBC para expressar a gratidão dessa empresa ao povo de Singapura.

Large Reclining Figure, do artista inglês Henry Moore

Large Reclining Figure, do artista inglês Henry Moore

A poucos metros da Large Reclining Figure, sob o edifício UOB Plaza One, situa-se a Homage to Newton (Homenagem a Newton), de Salvador Dalí. A escultura surrealista é um tributo a Isaac Newton e à formulação da lei da gravitação universal.

Escultura Homage to Newton (Homenagem a Newton), de Salvador Dalí

Escultura Homage to Newton (Homenagem a Newton), de Salvador Dalí

Ao lado da Homage to Newton, às margens do Rio Singapura, encontra-se a rechonchuda The Bird (O Pássaro), escultura do figurativista colombiano Fernando Botero, reconhecido por suas obras de proporções exageradas ou, segundo ele mesmo já as classificou, figuras “gordas”.

Escultura The Bird (O Pássaro), de Fernando Botero

Escultura The Bird (O Pássaro), de Fernando Botero

Pouco mais adiante, uma pequena família de três gatos arranca melódicos “oh…!” dos visitantes que passam pela Cavenagh Bridge. Instalada no lado esquerdo de quem entra nessa ponte, a Singapura Cats é uma pequena escultura de felinos da raça kucinta. Derivado do idioma malaio, o nome é uma forma aglutinada dos termos kucing (gato) e cita (amor). A obra é uma homenagem ao mascote da cidade. Havia 15 esculturas de gatos ao longo do rio, mas, infelizmente, foram vandalizadas e hoje restam apenas os três bichanos da Cavenagh Bridge.

Singapura Cats

Escultura Singapura Cats

Cavenagh Bridge

Cavenagh Bridge

A Cavenagh é uma ponte suspensa inaugurada em 1870 em celebração ao status de nova colônia da Coroa dos Estabelecimentos dos Estreitos (grupo de territórios britânicos do sudeste asiático). Atualmente, é uma ponte pedonal, marcada pela placa original de 1910 que diz:

AVISO POLICIAL
PONTE CAVENAGH

O USO DESTA PONTE É PROIBIDO A QUALQUER VEÍCULO CUJO PESO BRUTO EXCEDA 3 CWT (unidade de massa). E A TODOS OS BOVINOS E CAVALOS.

POR FIM
DELEGADO DE POLÍCIA

Placa de aviso original da Cavenagh Bridge

Placa de aviso original da Cavenagh Bridge

Rente à Cavenagh, diante do luxuoso Fullerton Hotel, existe outra escultura bastante interessante. Os meninos nus que saltam no rio são a First Generation (Primeira Geração), que ilustra uma cena comum da antiga Singapura. É obra do escultor local Chong Fah Cheong.

Escultura First Generation (Primeira Geração), de Chong Fah Cheong

Escultura First Generation (Primeira Geração), de Chong Fah Cheong

Existem várias outras esculturas espalhadas pelas margens do Rio Singapura e pela cidade. Escolhemos conhecer somente aquelas. Em seguida, entranhamos pelas galerias do Fullerton Hotel e rumamos em direção à Marina Bay. Atravessamos a Fullerton Road e chegamos ao Merlion Park, que abriga a estátua do Merlion, uma criatura da heráldica ocidental que retrata um ser metade leão metade peixe. Foi erigida entre novembro de 1971 e agosto de 1972 pelo escultor local Mr. Lim Nang Seng. Mede 8,6 metros de altura e pesa 70 toneladas. É a personificação nacional de Singapura, comumente estampada em souvenirs e estilizada em logomarcas.

Merlion

Merlion

Mais divertido do que admirar o Merlion esguichando água pela boca é ver os visitantes tentando uma foto com perspectiva forçada junto à estátua, a maioria simulando estar bebendo a água expelida.

Visitante tenta uma foto em perspectiva forçada junto ao Merlion

Visitante tenta uma foto em perspectiva forçada junto ao Merlion

Dica balao 2Eram 13h30 e o calor não poupava nem o capeta. Em Singapura, turista que não se hidrata e que deixa de lado o bloqueador solar, corre sérios riscos de adoecer. Sem considerar os constantes choques térmicos a que são submetidos. Os alívios proporcionados pelas enveredadas em ambientes refrigerados como shopping centers, cafés e estações de metrô certamente não são a melhor coisa para o organismo. Por sorte, – tirando a manhã de 1º de novembro – não pegamos dias chuvosos, que são comuns em Singapura. Caso contrário, viveríamos jornadas de sol rachando, chuva encharcando e ar condicionado trincando, que poderiam resultar em resfriados, insolações e viagem frustrada. Portanto, amigo viajante, se for a Singapura ou a qualquer outro país próximo à linha do Equador, não descuide. Hidrate-se, use filtro solar com reaplicações ao longo do dia, proteja-se com chapéus, bonés e óculos escuros e evite a alternância excessiva entre ambientes quentes e refrigerados.

Debaixo do sol escaldante, seguimos em direção ao excêntrico Esplanade Theatres on the Bay, um edifício de formato inusitado destinado às artes performáticas, contendo uma sala de concertos com 1.600 assentos e um teatro com capacidade para 2.000 espectadores. Sua arquitetura lembra os olhos de uma mosca ou dois durians, a já citada fruta nativa fedorenta.

Esplanade Theatres on the Bay

Esplanade Theatres on the Bay

O complexo oferece o passeio The Esplanade Walk, em que os visitantes conhecem o funcionamento dos teatros, ouvem sua história e entendem seu propósito arquitetônico. O tour dura 45 minutos e acontece de terça a sexta às 9h, 12h30 e 14h e aos sábados e domingos às 9h. Para mais informações, clique aqui.

Preferimos não fazer o tour e demos apenas uma circulada por fora do complexo. De lá, rumamos contornando a Marina Bay. Passamos diante do The Float, uma plataforma multiuso aparentemente flutuante, e chegamos à Helix Bridge, uma ponte espiral para pedestres que leva à atração mais emblemática de Singapura: o Marina Bay Sands.

Helix Bridge e o Marina Bay Sands

Helix Bridge e o Marina Bay Sands

O Marina Bay Sands é um dos edifícios mais caros do mundo. Possui um hotel, um cassino, um centro de convenções, teatros, espaços de entretenimento, shopping center, restaurantes e o SkyPark, um mirante superbadalado. Além do panorama de 360º da cidade de Singapura, esse mirante abriga bares e restaurantes sofisticados, um deck de observação e a piscina infinita mais cobiçada do planeta. Contudo, é preciso uma certa reflexão antes de incluir o Marina Bay Sands no roteiro. Para quem não é hóspede do hotel, o melhor atrativo do complexo é o SkyPark, que eu não considero um passeio com bom custo-benefício. Só para subir lá, pagamos S$23, permanecendo não mais que 10 minutos. Ademais, o acesso é permitido somente ao deck de observação, que é uma área não tão grande situada na ponta do imenso terraço.

Marina Bay vista do deck de observação do SkyPark, no Marina Bay Sands

Marina Bay vista do deck de observação do SkyPark, no Marina Bay Sands

The Float, visto do deck de observação do SkyPark, no Marina Bay Sands

The Float, visto do deck de observação do SkyPark, no Marina Bay Sands

Gardens by the Bay, vistos do deck de observação do SkyPark, no Marina Bay Sands

Gardens by the Bay, vistos do deck de observação do SkyPark, no Marina Bay Sands

Supertree Grove, visto do deck de observação do SkyPark, no Marina Bay Sands

Supertree Grove, visto do deck de observação do SkyPark, no Marina Bay Sands

A gloriosa piscina infinita é de uso exclusivo dos hóspedes do hotel. Dos seus 150 metros de extensão, conseguimos avistar apenas um pequeno trecho. Como foi prazeroso ficar ali sentindo um calor infernal enquanto pessoas bem menos pobres do que nós se deleitavam entre coqueiros majestosos, drinques espetaculares e demais facilidades! Meu sarcasmo só não é maior que a distância olímpica que nos separava daquele oásis.

Piscina infinita do Marina Bay Sands, vista do deck de observação do SkyPark

Piscina infinita do Marina Bay Sands, vista do deck de observação do SkyPark

A vista do SkyPark é sem dúvidas fenomenal, mas não é uma das nossas atrações favoritas em Singapura. Achamos que ali encontraríamos algo de especial além de contemplar o panorama. E tivemos sorte por não enfrentar fila para subir, que costuma ser grande.

Depois de visitar o SkyPark, passeamos um pouco pelo shopping do Marina Bay Sands e pelo hall do hotel (que vontade de me hospedar lá!). Em seguida, pegamos a linha laranja do metrô (a azul atenderia da mesma forma) na estação Bayfront e descemos na estação seguinte, a Promenade. A um quarteirão dali, está o Suntec City, um complexo de arranha-céus construído na década de 90 sobre uma área aterrada. As cinco torres do Suntec City Office são o destaque da região, dispostas no formato de uma mão esquerda semicerrada, que emerge do solo com os cinco dedos apontando para cima. Complementando a representação conceitual, no meio das cinco torres está a Fountain of Wealth (Fonte da Riqueza), que simboliza um anel. Foi construída para ser a maior fonte do mundo naquela época (1995).

Fountain of Wealth (Fonte da Riqueza), no Suntec City

Fountain of Wealth (Fonte da Riqueza), no Suntec City

A fonte possui 66 metros de diâmetro e 13,8 metros de altura, sendo sustentada por 4 pilares, os quais representam as quatro etnias que deram origem a Singapura: malaia, indonésia, chinesa e, se não me engano, inglesa. Pode ser vista do nível da rua ou acessada pelo subsolo do Suntec City Mall. Eram por volta das 15h50 e a fonte funcionava bem timidamente, então não vimos mais do que alguns esguichos d’água. Já à noite, a Fountain of Wealth é iluminada e pequenos espetáculos com música e laser acontecem diariamente das 19h às 21h30. Nas sextas, sábados, vésperas de feriados e feriados, os shows começam às 20h. Para mais informações sobre a fonte, clique aqui.

Tendo em vista o desenvolvimento desenfreado de Singapura, o Suntec City, por mais conceitual e robusto que seja, possui uma aura decadente. Durante anos, revelou uma cidade moderna e tecnológica, e hoje encontra-se ofuscado pela magnificência da Marina Bay e de outros novos empreendimentos arquitetônicos espalhados pela cidade.

De lá, retornamos ao hotel para descansar um pouco. À noite, voltamos ao Arab Quarter para umas biritas. Dessa vez, exploramos os bares da descolada Bali Lane. No final das contas, após um suave e ritmado pub crawl pelas adjacências, finalizamos a noite na favoritíssima Haji Lane.

Fim de noite com música ao vivo no bar Going Om, na Haji Lane

Fim de noite com música ao vivo no bar Going Om, na Haji Lane

TERCEIRO DIA – Sexta-feira (31/10/2014)

Passeio de barco pelo Rio Singapura, Chinatown, Buddha Tooth Relic Temple, Maxwell Road Hawker Centre, Ann Siang Hill Park, Thian Hock Keng Temple, Little India, Clarke Quay

Estávamos quase recuperados dos efeitos do fuso horário e mais adaptados ao clima de Singapura. As olheiras haviam diminuído bastante e o calor passou de escaldante para abrasador.

Começamos a jornada daquela manhã de sexta-feira num tour de barco pelo Rio Singapura. Várias companhias fazem o passeio, cobrando em torno de S$22 (crianças pagam S$12) por uma excursão de 40 minutos.

Barco que faz o passeio pelo Rio Singapura

Barco que faz o passeio pelo Rio Singapura

Embarcamos na parada entre o edifício UOB Plaza One e a Cavenagh Bridge. O barco seguiu para Marina Bay, onde navegou por alguns minutos e voltou ao rio. Em seguida, foi até a área de Clarke Quay e retornou ao ponto de partida.

Edifício do Marina Bay Sands, visto do passeio de barco pelo Rio Singapura

Edifício do Marina Bay Sands, visto do passeio de barco pelo Rio Singapura

Edifício do ArtScience Museum, visto do passeio de barco pelo Rio Singapura

Edifício do ArtScience Museum, visto do passeio de barco pelo Rio Singapura

Business District, visto do passeio de barco pelo Rio Singapura

Business District, visto do passeio de barco pelo Rio Singapura

O tour de barco pelo Rio Singapura é uma atração simples e desinteressante para alguns, mas indico o passeio. As paisagens são espetaculares e o áudio (em inglês) faz uma breve explanação sobre os principais pontos turísticos por onde a embarcação passa.

Clarke Quay, visto do passeio de barco pelo Rio Singapura

Clarke Quay, visto do passeio de barco pelo Rio Singapura

Clarke Quay, visto do passeio de barco pelo Rio Singapura

Clarke Quay, visto do passeio de barco pelo Rio Singapura

Desembarcamos e seguimos até a estação Raffles Place, onde pegamos o metrô e descemos em Chinatown.

Dica balao 2Aproveitando, já citei bastante o metrô de Singapura, mas até agora não comentei o tanto que ele é espetacular. É rápido (faz juz ao nome Mass Rapid Transit, ou MRT), eficiente, limpíssimo e muito abrangente. São raros os pontos da cidade que não são atendidos por ele. Os bilhetes (cartões magnéticos) são vendidos em máquinas instaladas em todas as estações e atendem a diversas necessidades. Devido à nossa curta permanência em Singapura (cinco dias), adquirimos cartões do tipo Standard Ticket, emitidos nas máquinas chamadas General Ticketing Machine (GTM). Um Standard Ticket pode ser usado até seis vezes num período de 30 dias contados a partir da aquisição. No momento da compra, o usuário deverá indicar a estação onde irá desembarcar, e o valor da viagem será informado. Além dessa quantia, a máquina irá debitar automaticamente o custo do cartão, que são S$0,10 que serão ressarcidos ao usuário na terceira viagem feita com o mesmo cartão. Na sexta viagem, é dado um desconto de S$0,10. Finalizado o ciclo, um novo bilhete deverá ser adquirido. Toda vez que o passageiro fizer mais de uma viagem utilizando um único cartão, deverá se dirigir às GTM, posicionar o cartão no leitor, selecionar o destino e efetuar o pagamento. O cartão só poderá ser retirado do leitor quando a transação for efetivada. Para acessar os trens, o usuário deverá encostar o cartão no leitor das catracas tanto na entrada quanto na saída, registrando o trecho percorrido. Para mais informações sobre esse e outros serviços do MRT, acesse www.transitlink.com.sg.

Standard ticket

Standard ticket

A região de Chinatown tem suas origens na segregação étnica promovida pelos antigos colonizadores ingleses. Quando o fundador de Singapura, Sir Thomas Stamford Raffles, iniciou os projetos de urbanismo na cidade, ele reservou aos chineses, que naquela época eram minoria, toda a região ao sudoeste do Rio Singapura. Hoje, os chineses representam 70% da população do país. Em Chinatown, são a manifestação cultural mais imaculada de sua etnia.

Começamos nossa caminhada pela região na Mosque Street (Rua da Mesquita), rua cujo nome se deve à Masjid Jamae, uma das mesquitas mais antigas da cidade. As fachadas dos diversos negócios enfeitam essa pequena via.

Mosque Street (Rua da Mesquita), em Chinatown

Mosque Street (Rua da Mesquita), em Chinatown

Viramos à esquerda na New Bridge Road. Ali, não pude deixar de me impressionar com 0 People’s Park Complex, um edifício de 31 andares predominantemente amarelo, símbolo do modernismo asiático e do pioneirismo de Singapura na década de 1970.

Edifício People’s Park Complex

Edifício People’s Park Complex

Edifício People’s Park Complex

Edifício People’s Park Complex

Caminhamos até a Pagoda Street (Rua do Pagode), onde viramos à esquerda. Essa colorida e movimentada via de pedestres é um paraíso para os compradores de souvenirs e de bugigangas made in China. Contudo, encantamo-nos mais com as fachadas bem preservadas do que com o comércio em si.

Pagoda Street

Pagoda Street

Shophouses da Pagoda Street

Shophouses da Pagoda Street

Os primeiros edifícios da Pagoda Street surgiram em 1842. Em 1862, a rua estava tomada pelo consumo do ópio e pelo comércio escravista. No número 37, funcionou a Kwong Hup Yuen, maior casa de tráfico de escravos de Singapura. A atividade varejista que se vê nos dias atuais só começou a se modelar a partir da década de 1950.

A Pagoda Street leva esse nome erroneamente devido à entrada do Sri Mariammam Temple, que, na verdade, não é um pagode, mas um gopura, uma espécie de torre ornada existente em templos hindus.

Gopura da entrada do Sri Mariammam Temple

Gopura da entrada do Sri Mariammam Temple, em Chinatown

Detalhe do gopura da entrada do Sri Mariammam Temple

Detalhe do gopura da entrada do Sri Mariammam Temple

O Sri Mariammam é o maior e mais antigo templo hindu de Singapura, situado na esquina da Pagoda Street com a South Bridge Road, a um quarteirão da Masjid Jamae. Conforme se percebe, o Sri Mariamman e a Masjid Jamae são templos hindu e muçulmano, respectivamente, inseridos na região de Chinatown. Esse convívio harmonioso entre religiões contrastantes é uma característica marcante de Singapura.

Deixamos a Pagoda Street e rumamos para a Temple Street, cujo nome também se deve ao templo Sri Mariamman. A caminhada por essa rua teria sido pouco interessante, até nos refrescarmos com um sensacional suco de frutas numa pequena loja da Wonderful Durian.

Wonderful Durian, na Temple Street

Wonderful Durian, na Temple Street

Finalizando o passeio pelas quatro ruas mais famosas de Chinatown, entramos na Smith Street, uma via pedonal coberta por um telhado de vidro.

Smith Street, em Chinatown

Smith Street, em Chinatown

Essa rua é quase toda ocupada pela Chinatown Food Street (CFS), onde os aromas provenientes dos abundantes restaurantes típicos compõem uma essência que todo turista ama sentir. Mas eram 11h45. Ainda sem apetite suficiente para almoçar, rumamos ao Buddha Tooth Relic Temple, localizado bem ao lado, na South Bridge Road. Foi construído em 2007 unicamente para abrigar o que se acredita ser uma relíquia do Buda em forma de dente.

Buddha Tooth Relic Temple

Buddha Tooth Relic Temple

O interior do templo é maravilhoso! Fiquei tão fascinado com as centenas de estátuas do Buda, que esqueci de ver a estupa de 320 quilos de ouro que abriga o tal dente.

Uma das estátuas do Buda que decoram o Buddha Tooth Relic Temple

Uma das estátuas do Buda, no Buddha Tooth Relic Temple

Finalmente, bateu a fome. Talvez ela fosse psicológica, motivada pela ânsia de se conhecer outra praça de alimentação famosa em Singapura. Fomos ao Maxwell Road Hawker Centre, situado a poucos metros do templo, no outro lado da South Bridge Road, esquina com a Maxwell Road.

Maxwell Road Hawker Centre

Maxwell Road Hawker Centre

O Maxwell possui mais de 100 barracas de comida local. Os preços são excelentes e a variedade é de perder de vista. E eu queria pimenta, muita pimenta! Para satisfazer meus desejos mais ardentes, pedi chicken rice black pepper (custou só S$4!), prato composto por uma porção de frango ao molho de pimenta do reino, de arroz branco, de sopa, de pimenta verde e do preparado à base de chili. Yes!

Comi chicken rice black pepper, no Maxwell Road Hawker Centre

Comi chicken rice black pepper, no Maxwell Road Hawker Centre

Já o Élcio apostou numa opção excêntrica, para não dizer repugnante (meu gosto): sopa de fígado de porco. Meu amigo, sim, é um exímio degustador! Boa sorte para ele.

O Élcio toma sopa de fígado de porco, no Maxwell Road Hawker Centre

O Élcio toma sopa de fígado de porco, no Maxwell Road Hawker Centre

Eu suava horrores! Mas não me sentia constrangido com a cabeça lisa e encharcada, pois não era o único. Sentado à nossa mesa, havia um senhor com cara de sábio chinês, que rumorosamente chupava sua comida e sorvia sua sopa. Além de estar com a testa molhada, o grande mestre minava de suas narinas uma secreção que poderia ser suor ou coriza.

A sobremesa para aquela deliciosa e picante refeição foi um suco ultrarrefrescante de pitaia com graviola.

Suco de pitaia com graviola, no Maxwell Road Hawker Centre

Suco de pitaia com graviola, no Maxwell Road Hawker Centre

Satisfeitíssimos por ter frequentado o Maxwell Road Hawker Centre, subimos a Erskine Road, viramos à esquerda na Ann Siang Road e à direita numa rua sem saída, desembocando na entrada de um pequeno parque chamado Ann Siang Hill Park. Ali, ficamos abismados ao ver dois alunos e seu personal trainner dando tiros de corrida debaixo do sol equatorial das 13h. Também nos deparamos com um poço bastante antigo conhecido como Old Well (Poço Velho). Na década de 1800, havia uma quantidade limitada de água fresca em Singapura, e os residentes se abasteciam nos vários poços espalhados pelo Ann Siang Hill, transportando a água coletada em carros de boi. Os poços foram extintos e o Old Well é provavelmente o último deles.

Old Well (Poço Velho), no Ann Siang Hill Park (via Instagram)

Old Well (Poço Velho), no Ann Siang Hill Park (via Instagram)

Edifício em Chinatown mostra o uso intenso de aparelhos de ar condicionado (via Instagram)

Edifício em Chinatown, próximo ao Ann Siang Hill, mostra o uso intenso de aparelhos de ar condicionado (via Instagram)

Estávamos adorando aquela região de Chinatown! Embora fizesse um calor infernal e nem toda a água do Old Well seria capaz de nos refrescar, a energia da vizinhança era muito boa. Havia um charme no ar, que ia se afirmando pelas ruas afora. Se não tivéssemos acabado de nos empanturrar no Maxwell Road Hawker Centre, juro que nos juntaríamos aos vários singapurianos-com-cara-de-muitos-amigos e comeríamos algo por ali. Pensando bem, vacilamos por não ter dado uma pausa para uma cerveja ou um drinque… Motivação e estabelecimentos não faltavam.

Amoy Street, em Chinatown

Amoy Street, em Chinatown

Na Telok Ayer Street, visitamos o Thian Hock Keng, um dos templos mais antigos da cidade. Assim que aportavam em Singapura, os marinheiros se dirigiam a esse templo para agradecer à deusa do mar Mazu por terem chegado das longas jornadas marítimas sãos e salvos.

Thian Hock Keng Temple, em Chinatown

Thian Hock Keng Temple, em Chinatown

Para se ter uma ideia do tanto que Singapura é uma cidade aterrada, o Thian Hock Keng Temple, que foi erigido em 1839, encontrava-se à beira-mar. Hoje, as águas mais próximas são as da Marina Bay, a cerca de 650 metros dali.

Do templo, fomos à estação Telok Ayer e pegamos o metrô até Farrer Park, desembarcando em Little India.

A Little India é uma comunidade que mantém as tradições indianas bem preservadas. É corriqueiro ver homens e mulheres transitando em trajes típicos, e a profusão de cores e a atividade mercantil um pouco caótica lembram aquele país da Ásia Meridional, conhecido pelas péssimas condições de higiene, mas que ali em Singapura é representado por ambientes limpos e por projetos urbanísticos bem-sucedidos. A gastronomia e o comércio são os maiores atrativos do bairro.

Serangoon Road, em Little India

Serangoon Road, em Little India

Começamos o passeio no bairro pela Serangoon Road, seguindo até o número 397, onde se encontra o Sri Srinivasa Perumal, templo hindu construído em 1855, dedicado a Vishnu, deus responsável pela manutenção do universo.

Sri Srinivasa Perumal Temple, em Little India

Templo Sri Srinivasa Perumal, em Little India

Após uma rápida visita, deixamos o templo e fomos ao Mustafa Centre, que fica na Syed Alwi Road, quase esquina com a Serangoon. Decidi incluir esse shopping no roteiro após assistir ao episódio sobre Singapura do programa The Layover, apresentado pelo chef e escritor norte-americano Anthony Bourdain, que costuma atacar com críticas muitas vezes virulentas as atrações ou hábitos com os quais não se simpatiza. Todavia, ele adorou o Mustafa Centre. Caminhava pelo shopping feito brasileiro em Miami! Pensei: se ele que é ranzinza reservou um espaço no programa para relatar suas aventuras pelos corredores apertados do Mustafa, então o local merece uma visita. Obviamente, nunca deixo de considerar que o The Layover é sustentado por jabás, mas o entusiasmo do apresentador foi tão genuíno que aquele centro comercial 24 horas parecia ser atração imprescindível em Singapura. Mas bastou passarmos alguns minutos ali dentro para o Anthony Bourdain perder 30 pontos comigo. O Mustafa vende de eletrônicos a desodorantes, porém sua infinidade de produtos é nada ou pouco atraente. Quanto mais se sobe pelas escadas rolantes, mas se é exposto a mercadorias desinteressantes ou de estética duvidosa.

Mercadorias vendidas no Mustafa Centre, em Little India

Mercadorias vendidas no Mustafa Centre, em Little India

Acredito que a maioria das pessoas gosta dali, mas eu não indico. Se você é um caçador ávido por mercadorias ordinárias, amigo turista, o Mustafa é seu lugar. Se não, vade-retro pela Serangoon.

Dica balao 2Enquanto caminhávamos pela avenida, passou um comboio de ciclo-riquixás turísticos que levam os visitantes em um tour pelas principais ruas de Singapura. A Trishaw Uncle é a única empresa da cidade licenciada para esse tipo de passeio. Para mais informações sobre uma forma prática de se fazer turismo, acesse www.trishawuncle.com.sg.

Ciclo-riquixás da Trishaw Uncle trafegam pela Serangoon, em Little India

Ciclo-riquixás da Trishaw Uncle trafegam pela Serangoon, em Little India

No número 141 da Serangoon Road, está o Sri Veeramakaliamman, um templo indiano dedicado à deusa Kali, uma das divindades mais respeitadas do hinduísmo.

Sri Veeramakaliamman Temple, em Little India

Sri Veeramakaliamman Temple, em Little India

Infelizmente, o templo estava fechado, então nos dirigimos às adjacências da Race Course Road, onde existe uma grande variedade de restaurantes indianos. Fomos lá mesmo só para conhecer o local, pois, como já relatei, duas horas antes, tínhamos nos fartado no Maxwell Road Hawker Centre. Nesse intervalo após o almoço, até procurei me esforçar mais fisicamente na espera de aumentar o apetite. Subi escadas sem reclamar, caminhei com passos largos e firmes e gesticulei mais intensamente, porém nada trazia de volta a vontade de comer. Frustrado, concluí que pecado maior que o da gula é ir a Little India sem apetite.

Ignoramos, portanto, a Race Course. Continuando o roteiro, passamos pela House of Tan Teng Niah (Casa de Tan Teng Niah) e retomamos a Serangoon Road, caminhando até um dos pontos turísticos mais indicados do bairro: o Little India Arcade.

House of Tan Teng Niah (Casa de Tan Teng Niah), em Little India

House of Tan Teng Niah (Casa de Tan Teng Niah), em Little India

Little India Arcade

Little India Arcade

Localizado no número 48 da Serangoon, o Little India Arcade é uma amostra significativa da Índia dentro de Singapura, que resume a autenticidade da comida, da música, da moda e do artesanato indianos em suas inúmeras lojas. Só não gostamos da abordagem dos comerciantes. Houve um momento em que eu estava prestes a comprar algumas capas para almofadas, quando um senhor se aproximou e, muito insistentemente, tentou desviar minha atenção, dizendo que na outra loja eu encontraria muito mais capas. Eu queria aquelas que estavam nas minhas mãos, mas ele me importunou tanto que fui obrigado a desistir da aquisição.

Deixamos o Little India Arcade. Estávamos a poucos metros do final da Serangoon e precisávamos atravessá-la. Foi a nossa maior experiência indiana fora da Índia: ficamos plantados por mais de cinco minutos tentando cruzar a avenida, que, naquele trecho, estava um caos. Motoristas e motoqueiros não queriam nem saber! Pedestre, ali, não tinha vez. Tentamos inclusive avançar pelo asfalto na esperança dos carros diminuírem a velocidade e nos concederem a passagem, mas fomos sonoramente buzinados. Desejei muito estar com uma vaca das mais sagradas, talvez assim teríamos sido respeitados.

Com muito custo, chegamos ao outro lado para conhecer o Tekka Centre, um centro comercial que abriga, no primeiro piso, um mercado de peixes e de hortifrutigranjeiros e um hawker centre. Já o segundo piso é mais atraente – pelo menos para as mulheres e para os fashionistas –, onde uma miríade multicolorida de roupas indianas predominantemente femininas domina de um corredor a outro, do chão ao teto. Num primeiro momento, sofri um choque cromático diante de tanta vibração, subestimando a qualidade estética das vestimentas. Poucos segundos depois, o desdém cedeu à admiração pela multiplicidade e pela sutileza percebidas em cada peça. Evidentemente, grande parte das roupas são cafonas (para nossos padrões), mas duvido que muita mulher de bom gosto deixaria o mercado sem grandes achados ou que algum estilista sairia dali sem alguma inspiração.

Lojas de roupas no segundo piso do Tekka Centre, em Little India

Lojas de roupas no segundo piso do Tekka Centre, em Little India

O Tekka Centre foi nossa última visita em Little India. Declaro com certo receio que não gostamos do bairro nem um pouco. Entretanto, ainda assim, é atração indicadíssima em Singapura, que o digam 90% das pessoas que conheceram a comunidade. O fato é que estivemos ali num momento errado e de barriga cheia. Esbarramos em pequenos contratempos e nos sentimos desacelerados pelo calor implacável e pelo cansaso da longa jornada. De lá, caminhamos até o hotel, que não ficava muito longe.

Descansamos um pouco e debandamos para uma das áreas mais agitadas da cidade: Clarke Quay, onde, às margens do Rio Singapura, cinco quarteirões de armazéns restaurados abarcam bares, cafés, restaurantes e casas noturnas. Nossa intenção era fazer ali um pub crawl moderado, escolhendo de três a cinco bares para tomar umas.

Clarke Quay

Clarke Quay

Naturalmente, a região estava lotada. Conseguimos frequentar tranquilamente os dois primeiros bares em que entramos, o Crazy Elephant e o Hooters. Nesse meio tempo, constantemente rodeados de funcionários e clientes trajados para um evento de terror, descobrimos que era noite de halloween. Portanto milhares de pessoas estariam a caminho de Clarke Quay para celebrar o 31 de outubro.

Clark Quay

Clark Quay

Era hora de ir ao terceiro estabelecimento. Atravessamos o Rio Singapura e entramos no Brewerkz, uma cervejaria muito bacana situada no complexo Riverside Point. Infelizmente, estava lotada e não conseguimos uma mesa.

Riverside Point, em Clarke Quay

Riverside Point, em Clarke Quay

Voltamos à outra margem do rio. Era impressionante como o local já se encontrava tomado de visitantes! As comemorações do Dia das Bruxas se intensificavam, e locomover-se por ali ficou bastante complicado.

Halloween em Clarke Quay

Halloween em Clarke Quay

Entramos no bar da cerveja Paulaner, mas os preços estavam impraticáveis. Saímos e, um minuto depois, ficamos presos no meio da multidão, sem conseguir ir para lado algum. Se em Singapura batedor de carteira não fosse punido com varadas de bambu, nossos bolsos já teriam sido esvaziados.

Inevitavelmente, a superlotação nos deixava muito irritados. Nosso estresse aumentava no mesmo compasso em que a algazarra se avigorava. Para relaxar, só mesmo outra birita. Conseguimos uma mesa improvisada em um bar menos cheio, chamado B.B.’s The Bungy Bar. Custamos a ser atendidos, e quando uma garçonete vestida de freira veio até nós, um casal pediu para apoiar suas bebidas na nossa mesa, desviando a atenção da irmã de caridade e impedindo que tomássemos os desejados drinques. Era Cristo dando o sinal de que estava na hora de ir embora. Insistir seria contraproducente. A bruxa estava solta!

Imprevistos à parte, Clake Quay é superlegal.

QUARTO DIA – Sábado (1/11/2014)

Botanic Gardens, National Orchid Garden, Singapore Art Museum, Bugis Street, Geylang, Arab Quarter

Saí do Brasil preparado para pegar um dilúvio em Singapura. Como já enfrentei problemas com a chuva em algumas viagens, precavi-me e cheguei lá pouco me importando se ficaria com os pés encharcados ou parecendo um pinto molhado. Como diria o Facebook, quem sai à chuva é para se molhar. Felizmente, até a madrugada daquele sábado, o máximo que vimos nos três primeiros dias em que estivemos na cidade foi uma pingadinha de cinco minutos. Portanto, uma boa regada dos céus jamais seria uma surpresa desagradável.

Começamos a manhã chuvosa do dia 1º munidos com nossos guarda-chuvas e dispostos a atolar os sapatos. Fomos direto ao Botanic Gardens, o primeiro jardim botânico de Singapura, fundado em 1859. Para chegar lá, pegamos o metrô e descemos na estação Botanic Gardens.

Botanic Gardens

Botanic Gardens

Parques não são minhas atrações prediletas, mas aquela área verde de 74 hectares é passeio imperdível em Singapura. Lagos, cascatas, fontes, gazebos e esculturas complementam os belos jardins e são um convite ao relaxamento, ao entretenimento e à pratica de esportes.

Botanic Gardens. Ao fundo, está o palco da Shaw Foundation Symphony

Botanic Gardens. Ao fundo, está o palco da Shaw Foundation Symphony

A parte de que mais gostei nos jardins foi o Fragrant Garden (Jardim das Fragrâncias), uma pequena área que abriga uma coleção de flores muito cheirosas. Aliás, como Singapura é perfumada! O que se esperar de uma cidade com chuvas constantes, calor intenso e frutos do mar protagonizando na culinária tradicional? Mofo? Fedor de esgoto? Cecê? Catinga de peixe? Nada disso! Singapura é cheirosa, asseada, purificada e esterilizada. Seja em campos floridos ou no metrô lotado, o aroma é sempre suave. Eu estava prestes a perguntar a qualquer cidadão qual marca de desodorante se usa por lá. Traria uma dúzia do produto para casa.

Fragrant Garden, no Botanic Gardens

Fragrant Garden, no Botanic Gardens

O Botanic Gardens é o único jardim botânico no mundo que abre todos os dias do ano, das cinco da matina até a meia-noite. A entrada é gratuita, exceto para o National Orchid Garden (Jardim Nacional das Orquídeas), sua principal atração, que funciona das 8h30 às 19h. O ingresso custa S$5.

National Orchid Garden (Jardim Nacional das Orquídeas)

National Orchid Garden (Jardim Nacional das Orquídeas)

National Orchid Garden (Jardim Nacional das Orquídeas)

National Orchid Garden (Jardim Nacional das Orquídeas)

Com mais de 600 espécies de orquídeas e outras tantas híbridas, o National Orchid Garden é espetacular, goste o visitante de flores ou não. A parte mais bacana de lá – e o Élcio vai concordar comigo – é a Cool House (Casa Fria), um conservatório refrigerado que simula uma floresta tropical de montanha. E você já deve ter nos sacado: mais do que admirar a vegetação e as inúmeras plantas carnívoras desse ambiente climatizado, deliciamo-nos mesmo foi com o ar gelado. Poderíamos ter ficado horas ali dentro!

National Orchid Garden (Jardim Nacional das Orquídeas)

National Orchid Garden (Jardim Nacional das Orquídeas)

National Orchid Garden (Jardim Nacional das Orquídeas)

National Orchid Garden (Jardim Nacional das Orquídeas)

National Orchid Garden (Jardim Nacional das Orquídeas)

National Orchid Garden (Jardim Nacional das Orquídeas)

Deixamos o orquidário e finalizamos nosso passeio pelo parque.

Botanic Gardens (via Instagram)

Botanic Gardens (via Instagram)

Para mais informações sobre o Botanic Gardens, acesse www.sbg.org.sg.

Àquela altura, a chuva já havia cessado. Pegamos o metrô e descemos na estação Bras Basah. Tínhamos programado para conhecer o National Museum of Singapore, o mais velho museu do país, fundado em 1887. Sua exibição está relacionada à história de Singapura. É um dos quatro museus nacionais, sendo os outros três o Asian Civilisations Museum (Museu das Civilizações Asiáticas), que possui duas sedes, e o Singapore Art Museum (Museu de Arte de Singapura). Não sei por que cargas d’água entramos por engano no Singapore Art Museum, que não fazia parte do nosso roteiro. Talvez por se situar praticamente de frente para a Bras Basah, enquanto o National Museum fica a dois quarteirões dali. Até argumentei com o Élcio que o nome do museu programado não era aquele. Notei o desapontamento na expressão do meu amigo, pois logo descobriu que se tratava de um museu de arte contemporânea, que ele não curte nem a porrete. Eu disse “Estranho… Nas minhas pesquisas, li que era um museu de história”.

Enfim, compramos os bilhetes e entramos. Bastou o Élcio ver algumas obras “excêntricas” para apertar o passo e sumir dali de dentro num átimo. No início, até vi umas coisas interessantes, mas, ainda nas primeiras coleções, exorcizei tanto o fantasma da caretice – era preciso compreender, assimilar e aceitar o que via – que meu ralo intelecto para arte contemporânea se esgotou rapidamente. Resolvi também me apressar e acabar rápido com o sofrimento. Gosto muito de arte, mas tenho algumas questões em relação à contemporânea. Se for facilista, nem com um bom vinho me pega. Nem com cerveja. Nem com vodca.

Edifício do Singapore Art Museum (Museu de Arte de Singapura)

Edifício do Singapore Art Museum (Museu de Arte de Singapura)

Dica balao 2Acabamos não visitando o museu voltado à história da cidade. Descobri esse erro de execução de roteiro somente agora, semanas depois de ter voltado de Singapura. Então deixo a dica: se você gosta de história, não erre o museu. Vá ao National Museum of Singapore (www.nationalmuseum.sg), que fica na Stamford Road, 93. Caso prefira arte contemporânea, o Singapore Art Museum (www.singaporeartmuseum.sg) é uma boa opção. Fica na Bras Basah Road, 71. Se gosta das duas coisas, ótimo! Ambos os museus são servidos pela estação de metrô Bras Basah.

Deixamos o museu, pegamos o metrô e descemos na estação Bugis. Entramos no shopping Bugis Junction para comer alguma coisa e conhecer as lojas. Em seguida, fomos a uma galeria chamada Bugis Street, com a qual cruzávamos quase todos os dias. Lá vendem-se lanches, badulaques e souvenirs. Compramos algumas lembrancinhas.

Bugis Street

Bugis Street

No lado de fora da galeria, na entrada da Queens Street, existia uma banca que vendia durians. O Élcio estava disposto em arriscar uma mordida na fruta que fede a murrinha. Se fosse boa, comeria o resto. Para tanto, não precisava de um pedaço grande, mas o feirante se recusou a negociar a quantidade com meu amigo, que acabou não provando o durian.

Banca de durians, na galeria Bugis Street

Banca de durians, na galeria Bugis Street

Saindo da Bugis Street, cruzamos com outro comboio de ciclo-riquixás turísticos. Ali de frente, precisamente na esquina das ruas Queens e Albert, existe um guichê de vendas da Trishaw Uncle.

Ciclo-riquixás da Trishaw Uncle, na Queens Street

Ciclo-riquixás da Trishaw Uncle, na Queens Street

Chegamos ao hotel e descansamos um pouco. Em seguida, rumamos para Geylang, atração bastante indicada por viajantes que gostam de um turismo do tipo “lado B”. Eu e o Élcio também gostamos, portanto fomos conferir a vida noturna nessa área mais do que peculiar. Para chegar lá, pegamos a linha verde do metrô e descemos na estação Kallang, de onde caminhamos até a Geylang Road para começar nossa trajetória pelo bairro.

Geylang está parcialmente protegido do processo de enobrecimento urbano de Singapura. O cenário singular formado por shophouses (edifícios de dois ou três andares com loja no nível da rua e residência no piso superior), vida constantemente agitada, restaurantes típicos (muitos!) e trabalhadores estrangeiros reflete uma comunidade que preferiu manter as tradições do bairro a se render à gentrificação.

Caminhando pela Geylang Road, a impressão que tínhamos é de que aquela parte da cidade era ignorada pelas políticas urbanas. Mas isso não procede. Como no restante do país, o bairro possui uma boa infraestrutura e é seguro. Transeuntes podem andar com a mochila nas costas sem neurose.

Geylang também é conhecido por ser um red-light district (distrito da luz vermelha), em que milhares de prostitutas asiáticas vindas de países como a Tailândia, Indonésia, China e Malásia lotam as centenas de bordéis, muitos deles operando ilegalmente. Os prostíbulos são identificados pelo número grande e em luz vermelha. Se as leis de Singapura são tão severas, como a prostituição consegue se sustentar? Como o Élcio mesmo ponderou, talvez o governo faça vista grossa, evitando problemas como a violência doméstica.

Geylang Road, em Geylang

Geylang Road, em Geylang

Queríamos comer alguma coisa, mas eram tantos restaurantes que não conseguíamos escolher. O fato é que não estávamos gostando de Geylang tanto assim, então a paciência para tomar decisões deu lugar à vontade de ir embora. E mais do que um bom prato de comida, desejávamos mesmo era ir a bares, porém os que vimos lá eram voltados à devassidão.

Para não dizer que deixamos Geylang passar batido, sentamos em um restaurante e pedimos uma refeição. Meu frango estava frio e velho e o Élcio não teve coragem de terminar seu prato. Para baixar mais ainda o astral, a clientela parecia um retrato melancólico de um país em crise, situação que Singapura está a anos luz de enfrentar. Na verdade, estavam era assistindo a uma novela. Mas isso não é comum por lá. Os restaurantes têm excelente reputação e o bairro é uma ótima opção para quem curte um turismo de gastronomia tradicional.

Como você deve ter percebido, não somos tão adeptos aos programas do tipo “lado B”. Talvez o sejamos, contudo Geylang foi um pouco além das fronteiras do heterogêneo. Para saciar nossa vontade de beber, voltamos ao Arab Quarter, seguimos para a Haji Lane e finalizamos o dia muito bem, obrigado.

No Arab Quarter (via Instagram)

No Arab Quarter (via Instagram)

No Arab Quarter (via Instagram)

No Arab Quarter (via Instagram)

Haji Lane (via Instagram)

Haji Lane (via Instagram)

QUINTO E ÚLTIMO DIA – Domingo (2/11/2014)

Asian Civilisations Museum, Sir Raffles’ Landing Site, Old Hill Street Police Station, Clarke Quay Central, Changi Airport

Era nosso último dia em Singapura. Partiríamos para Seul no voo das 21h20, portanto ainda tínhamos umas boas horas para curtir a cidade. Precisávamos liberar o quarto do hotel antes do meio-dia, então, antes de começar a jornada, descemos com as malas – que pegaríamos horas mais tarde – e fizemos o check-out. Mas me ocorreu uma coisa: passaríamos o dia inteiro caminhando debaixo de um sol ardente, suaríamos um oceano e ainda assim embarcaríamos à noite numa viagem de mais de oito horas sem antes tomar um banho?! Coitado de quem viajasse ao nosso lado! Perguntei ao recepcionista se o hotel oferecia serviço de banho (se é que existe tal coisa). Ele disse que não, mas que eu poderia banhar-me confortavelmente no aeroporto. Conforme já contei, o Changi oferece uma enorme variedade de serviços aos passageiros. O chuveiro público é um deles. Mas isso eu conto mais adiante.

Começamos o dia visitando o Asian Civilisations Museum (Museu das Civilizações Asiáticas), instalado no edifício Empress Place. Para chegar lá, pegamos o metrô e descemos na estação Raffles Place.

Exposição do Asian Civilisations Museum (Museu das Civilizações Asiáticas)

Exposição do Asian Civilisations Museum (Museu das Civilizações Asiáticas)

O museu é especializado nas culturas e nas civilizações pan-asiáticas, com foco na história da China e das regiões sul, sudeste e oeste da Ásia, que são as áreas de onde vêm os diversos grupos étnicos que constituíram a população de Singapura. As exposições contam com documentos, pinturas, ilustrações, tecidos, porcelanas, esculturas, máscaras, miniaturas, instrumentos musicais, ornamentos tribais e tantas outras preciosidades. Vale a pena a visita!

Instrumentos musicais expostos no Asian Civilisations Museum (Museu das Civilizações Asiáticas)

Instrumentos musicais expostos no Asian Civilisations Museum (Museu das Civilizações Asiáticas)

Para mais informações sobre o Asian Civilizations Museum, acesse www.acm.org.sg.

Deixamos o museu e começamos uma pequena caminhada às margens do Rio Singapura. Passamos diante do Raffles’ Landing Site, que, segundo a tradição conta, é o local onde Sir Stamford Raffles, fundador de Singapura, colocou os pés na cidade pela primeira vez, em 29 de janeiro de 1819. No local, existe uma estátua em sua homenagem.

Estátua de Sir Stamford Raffles, no Sir Raffles' Landing Site

Estátua de Sir Stamford Raffles, no Sir Raffles’ Landing Site

De lá, seguimos ladeando o rio até o edifício Old Hill Street Police Station, meu prédio favorito na cidade. Concluída em 1934, essa construção no estilo neoclássico foi erguida para abrigar uma delegacia de polícia. Hoje, é a sede do Ministério da Comunicação e Informação e do Ministério da Cultura, Comunidade e Juventude.

Edifício Old Hill Street Police Station

Edifício Old Hill Street Police Station

Como não se encantar com as 927 janelas coloridas distribuídas por toda sua fachada?!

Edifício Old Hill Street Police Station

Edifício Old Hill Street Police Station

Originalmente, o edifício tinha o nome de Old Hill Street Police Station, como hoje. Em 1999, passou a se chamar MITA Building e, em 2004, MICA Building. Em 2012, após a troca de ministérios, retomou o nome original.

O pátio principal do edifício acomoda o ARTrium, um espaço destinado a atividades artísticas. Não visitamos essa parte, restringindo nossa visita somente ao exterior do prédio. De lá, atravessamos o rio pela Coleman Bridge (Ponte Coleman) e fomos ao shopping center Clarke Quay Central, onde comemos um sanduíche e tomamos um café no Starbucks. Foi nosso último passeio na cidade.

Dica balao 2A viagem a Singapura foi muito proveitosa. Tivemos que fazer escolhas importantes, pois não havia tempo suficiente para conhecermos de tudo um tanto, e alguns dos pontos turísticos mais badalados tiveram que ser sacrificados no roteiro. Deixamos de ir a atrações como a ilha de Sentosa, com destaque para o oceanário Underwater World e o parque temático da Universal Studios; o Night Safari e seu vizinho Singapore Zoo, onde a criançada enlouquece; o parque temático Haw Par Villa, que possui mais de 1.000 estátuas e 150 dioramas gigantes representando a mitologia chinesa e vários aspectos do confucionismo; o Mount Faber, que oferece uma vista espetacular da cidade; o Jurong Bird Park, que, com cerca de 5.000 aves de 380 espécies diferentes, é considerado um dos melhores aviários do mundo; o Funan DigitaLife Mall, shopping que vende uma infinidade de produtos eletrônicos e que tem no subsolo um ponto de devolução dos impostos aos estrangeiros (tem que mostrar o passaporte), e muito mais. Se for a Singapura e precisar de uma ótima referência para planejar sua viagem, acesse www.guiadecingapura.com. Esse website, de autoria do brasileiro Rodrigo Purisch e do espanhol Tony Gálvez, é o guia turístico gratuito mais completo que já vi.

Retornamos ao hotel e pegamos um táxi até o aeroporto. A corrida custou formidáveis S$15,96, bem menos que o usual. Ponto para nós, que gastamos nem S$8 cada, menos até que o shuttle, que custaria S$9 por cabeça e estaria sujeito a disponibilidade, além de que teríamos que esperar mais tempo pela chegada do veículo.

Dica balao 2Chegamos ao Terminal 2 do Changi Airport por volta das 15h30. Antes de fazer o check-in, pegamos o Skytrain (monotrilho que trafega entre os terminais do aeroporto) e fomos ao Terminal 3, onde está o The Haven, lounge que oferece serviços pay-per-use (pague pelo uso) aos passageiros. Enquanto espera pelo voo, o cliente tem à disposição bebidas, salgadinhos e refeições leves; opções de entretenimento como TVs, computadores, jornais, revistas e conexão wi-fi; salas de reunião; quartos para tirar um cochilo e, para minha alegria e higiene, 13 cabines individuais com ducha, pia e privada. Além do tão esperado banho, usei tudo o que estava ao meu dispor. A barba estava pequena, mas jamais me perdoaria se tivesse dispensado o barbeador oferecido. Como diria minha amiga Kátia, vivi momentos de luxo, resplendor e glória. Fiz valer os S$16,54 cobrados pelo uso da cabine. Nada barato, mas valeu a pena. Fiquei limpinho, cheiroso e de cara lisinha. Para saber mais sobre o The Haven, acesse www.thehaven.com.sg.

No Terminal 2 do Singapore Changi Airport

No Terminal 2 do Singapore Changi Airport

Conhecer The Fine City foi sensacional! Comemos bem, andamos bastante, divertimo-nos um bocado e aprendemos muito. Nada como uma nação de hábitos excêntricos e leis estritas para melhorar nossas atitudes ou para refletir que, em alguns aspectos, estamos no caminho certo. Singapura é um caldeirão cultural, e conseguir olhar em todas as direções e perceber suas cores, sabores e texturas é uma experiência inexplicável. A vontade de bradar “Um viva às diferenças!”, a prática de repetir “igualdade social” diariamente e o gesto de levar a mão ao queixo balbuciando “Que cidade do c*#@&%lho!” são reações típicas de quem passa por lá. Ah, Singapura, seu calor deixou saudades!

Fui e vou voltar - Alessandro Paiva

contato@fuievouvoltar.com


Para ajudá-lo no planejamento do seu roteiro, marquei no mapa abaixo as atrações discorridas neste post e algumas não visitadas. Acesse o mapa e escolha os pontos turísticos desejados. Não se esqueça de calcular o tempo de permanência em cada local, levando em consideração se a visita é interna ou somente externa. Para visualizar o mapa no Google Maps, clique em “View Larger Map“.

Sobre Alessandro Paiva

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