Se você leu o post sobre minha viagem a Berlim, em março de 2012, já deve estar cansado de saber do tanto que sou louco pela cidade. É paixão eterna, nunca diminuída por qualquer lugar mais bacana do planeta. Berlim é incomparável! Tão especial que acredito ser difícil ouvir relatos indiferentes sobre ela, mesmo que as impressões sejam positivas. Não há como falar da cidade sem dar toques pessoais de profunda adoração.
Eu vi Berlim bem à minha maneira e minhas impressões são as melhores. Por ser uma cidade extremamente urbana e eclética, fui enfeitiçado pelos detalhes que vão além dos propósitos turísticos. É impressionante a ligação desses fragmentos urbanos à história e à cultura de lá. O que pode parecer um simples costume ou tema de souvenir, provavelmente foi coadjuvante no passado glorioso ou trágico da cidade. Glórias relembradas e tragédias enterradas à parte, Berlim dá aos seus cidadãos uma qualidade de vida impecável, descrita, em parte, por tais detalhes.
Neste post, não discorrerei sobre um roteiro de viagem. Tratarei apenas de coisas ou cenas que, particularmente, chamaram a minha atenção. Se você quiser ler sobre a minha trajetória de sete dias em Berlim, clique aqui, mas não deixe de retornar à leitura abaixo!
Sinais do tempo
Um dos principais símbolos de Berlim é o Ampelmännchen, homenzinho dos semáforos para pedestres utilizado na extinta Alemanha Oriental. Esse “bonequinho” possui um chapéu, tratando-se, propositalmente, de uma figura masculina. Após a unificação da Alemanha, em 1990, o desenho convencional do semáforo do lado ocidental foi escolhido como padrão, o que extinguiria o tão engraçadinho Ampelmännchen. Mas graças aos protestos dos orientais, o bonequinho foi mantido e atualmente encontra-se, inclusive, em algumas áreas do lado ocidental. Como assim extingui-lo?
Karl Peglau, psicólogo especialista em trânsito, foi quem criou essa simpática criatura pictória, em 1961. Segundo ele, as pessoas respondem melhor aos sinais quando apresentados de maneira amistosa, ao contrário do que acontece com as monótonas convenções acordadas, imprescindíveis, porém sempre monótonas e convencionais.
Além de ser o pop star das ruas, o Ampelmännchen também estrela nos souvenirs da cidade. Então, amigo turista, se você for a Berlim e tiver dúvidas quanto às lembrancinhas para parentes e amigos, não pense duas vezes: o bonequinho do semáforo é o melhor presente.
Outra pop star das ruas são as bicicletas, uma das razões da minha paixão pela cidade. Todo mundo tem a sua, e quem não tem ou é turista, aluga uma. Portanto nada mais conveniente do que uma sinalização de trânsito para as magrelas, não tão estilizada como o Ampelmännchen, mas eficiente da mesma maneira.
Estilo de vida
Ser berlinense deve ser sensacional! Inverno rigoroso à parte, poder usufruir da estrutura que a cidade dispõe faz de qualquer pessoa o ser mais digno do mundo.
Em Berlim existe tanta praça, museu, centro de entretenimento, bar, restaurante, monumento que só fica em casa quem quer ou quem o frio não deixa sair.
Ideias chave que traduzem a qualidade de vida da cidade: lazer, liberdade de expressão e de locomoção, acessibilidade, educação, atendimento, cortesia, respeito e preço baixo.
Deslocando
Uma das coisas mais estranhas de Berlim é o trânsito. Onde já se viu uma cidade de mais de 3.800.000 habitantes não ter um trânsito caótico? Cadê os carros? Ok, entendo que o transporte público de lá é super abrangente e eficiente e que, além disso, os cidadãos utilizam a bicicleta como alternativa de locomoção. Também não podemos esquecer de que os berlinenses são educadíssimos. Motoristas e pedestres se respeitam ao máximo! Mas poder atravessar uma avenida movimentada sem correr o risco de ser atropelado em plena quarta-feira às 18h15 já é demais! Sou brasileiro e quero aventura! Mentira, quero que as cidades brasileiras imitem Berlim.
A eficiência do transporte público de Berlim é histórica e data de muitas décadas, tendo sofrido apenas com a Segunda Guerra Mundial e com a Guerra Fria. E foi durante a Guerra Fria que surgiu o Trabant, em 1957, carro de carroceria de plástico fabricado pela VEB Automobilwerk Zwickau.
O Trabant era produzido somente na Alemanha Oriental e era o preferido dos cidadãos de lá. Todos queriam ter essa “caixa de papelão sobre rodas”, como era apelidado. Hoje o veículo é utilizado para passeios turísticos. Vi um monte deles em Checkpoint Charlie.
A Guerra Fria provocou um certo atraso em Berlim. Com a queda do muro no final dos anos 80, a cidade retomou o desenvolvimento de forma estratosférica, mas parece não ter abandonado o estilo retrô daquela década. A impressão que tenho é de que em Berlim é fashion ser vintage. Que o digam os punks, o Flohmarkt am Mauerpark (mercado de pulgas), alguns bares, artistas de rua e proprietários de veículos.
Tentando imitar os berlinenses, pretendo, em breve, transitar de bicicleta por Belo Horizonte, pois essa é minha mais nova paixão. Meu amigo André já faz isso, vai e volta para o trabalho em duas rodas. Por enquanto, tem dado certo.
Em Berlim, a bicicleta deve ser o xodó dos cidadãos. O mais bacana é que elas são simples, sem a afetação de acessórios ou de proprietários querendo ostentar a magrela mais moderna ou tecnológica. O cenário urbano é decorado de modelos clássicos amarrados em postes, placas, tocos ou qualquer outro suporte que possibilite o estacionamento.
Arte urbana
Em Berlim, a arte de rua com seus grafites e murais são uma marca registrada. Talvez essa atividade tenha sido motivada durante a separação das duas Alemanhas, em que construções, como Muro de Berlim, eram encobertas de pichações de protesto à divisão. Os pichadores só conseguiam chegar próximo ao muro no lado ocidental, pois, na parte oriental, a barreira era vigiada 24/7 e a faixa de morte impedia a aproximação.
Localizada ao longo da Mühlenstrasse e às margens do Spree, a East Side Gallery é uma galeria a céu aberto instalada numa das partes remanescentes do Muro de Berlim. Seus 100 murais ocupam uma área de 1,3 quilômetro de pura arte de rua, os quais retratam a euforia e o otimismo da época do fim da Guerra Fria.

Detalhe do mural “Meu Deus, ajuda-me a sobreviver a este amor fatal”, do artista russo Dmitri Vrubel, na East Side Gallery.

Mural Métamorphose des existences lié par un mobile indéfini (Metamorfose de vida ligados por um móvel indefinido), do artista português Kim Prisu, na East Side Gallery.

Detalhe do mural Hymne an das Glück (hino à alegria), do artista Fulvio Pinna, na East Side Gallery.
Como em toda metrópole, as pichações degradantes são inevitáveis, mas o grafite e os murais a céu aberto de Berlim são tratados como expressões verdadeiramente artísticas.
A Kunsthaus Tacheles é outro exemplo da força da arte de rua de Berlim. A decadência e o “abandono” do edifício onde essa galeria de arte se encontra demonstram o espírito alternativo e a veia revolucionária e ativista dos artistas do local.

Mural “Joga Bonito”, em lateral de edifício da Oranienburger Strasse, ao lado da Kunsthaus Tacheles.
Os murais do artista italiano de pseudônimo Blu, localizados no bairro de Kreuzberg, são uma das principais atrações da cidade.
Sejam de artistas famosos, desconhecidos ou sem autoria, os murais e grafites não param de impressionar onde quer que se esteja em Berlim.

Mural “Wenn’s um die wurst geht” (quando se trata de salsicha), ao lado da Konnopke’s Imbiss, na Schönhauser Allee.
A cultura dos murais motiva a complementação de museus a céu aberto, como acontece em alguns edifícios da Ackerstrasse, em esposições pertencentes ao Gedenkstätte Berliner Mauer (Memorial do Muro de Berlim).
Em algumas partes da cidade, as intervenções nem sempre possuem um apelo estético apurado, mas nem por isso deixam de ser interessantes.
Infelizmente, nem tudo em Berlim é arte. Imagino o quanto é péssimo ser vândalo numa cidade em que a maioria das intervenções artísticas de rua vêm de artistas talentosos e idealistas que respeitam os espaços urbanos.
Licença poética para depredar
Colar adesivos por aí é pouco urbano, mesmo que o objeto depredado seja uma lixeira ou um poste. Vi isso diante do Museum für Kommunikation Berlin (Museu da Comunicação de Berlim). Tal intervenção até poderia ter sido uma estratégia promocional do museu ou mesmo uma manifestacão de liberdade de expressão, só que disso nunca saberei. O fato é que a “obra” aporcalhada ficou bem interessante!
Ok, uma lixeira e um poste, embora façam parte do patrimônio público, serão sempre uma lixeira e um poste. Mas e se eles fossem parte de um memorial da Guerra Fria, como os restos do Muro de Berlim em Potsdamer Platz? Mereceriam mais respeito ou desprezo?
Certamente, respeito ao muro é o que faltou por parte das milhares de pessoas que deixaram suas gomas de mascar afixadas naquele memorial. Permitida ou não, protesto ou molecagem, essa porqueira também ficou interessante.
Concedida então a licença poética para desprezar o comunismo e a crueldade promovida por ele, mesmo que a repugnância seja representada por meio de gomas de mascar, tampinhas de cerveja ou guimbas de cigarro.
Estômago fraco
Eu adoro comer, mas, infelizmente, a comida alemã não é minha favorita. Posso estar redondamente enganado quanto a isso, afinal de contas comi pouca coisa de lá, porém o pouco que comi não me agradou o suficiente. As carnes são meio pesadas e o pepino coadjuva em quase tudo! Odeio pepino!
Entretanto, adorei o currywurst, mesmo que essa salsicha ao curry e catchup tenha me caído muito mal. Muuuuuuuuuito mal! Aliás, gostei de todas as salsichas que comi. O chucrute também me agradou bastante.
É, como você deve estar percebendo, não passei tanta fome assim em Berlim.
Quem certamente não passou fome foi o Élcio. Comeu eisbein (joelho de porco) até entortar!
Como Berlim é uma das cidades mais cosmopolitas do mundo, a culinária internacional está em todo lugar. Quando um restaurante alemão não me atraía, eu pulava para outro logo ao lado, fosse mexicano, vietnamita, tailandês, chinês. Só não valia restaurante brsaileiro!
Por favor, perdoe-me por fazer um relato tão injusto e pouco aprofundado sobre a comida alemã. Realmente não gostei muito e comi uma mixaria, o que faz de mim uma autoridade fracassada no assunto. Mas quem come, elogia. Pergunte ao Élcio e ele irá lhe responder com a boca cheia d’água.
O urso camarada
Em Berlim, não tem como não notar algumas esculturas personalizadas de um urso de 2 metros de altura com os braços para cima. O Buddy Bär (Urso Camarada) é uma adaptação de uma ideia de sucesso no mundo inteiro, como o CowParade. O bicho está em todo lugar!
De bar em bar se chega ao hotel
Não sou boateiro, meu negócio é bar. Se tem drinks, melhor ainda! Se não tem drinks, mas tem cerveja, por que não? Gosto de bar de gente doida, bar de gente normal, bar de gente como a gente. Só não gosto de bar de gente chata. No final das contas, o que vale é simpatizar-se depois de beber umas ou mesmo simpatizar-se à toa. Resumindo, sou muuuuito chegado num bar! Ah, aproveite e dê uma conferida no meu blog de coquetéis: pourmesamis.com.br.
Berlim está cheia de bares. Não fui a muitos, mas os que frequentei na Oranienburger Strasse são excelentes! Vale a pena fazer um pub crawl por lá.
Penso que a melhor coisa dos bares em Berlim não é a cerveja, mas a forma como se chega a eles. Ao contrário de quase toda grande cidade brasileira, o transporte público de lá está a favor dos baladeiros e beberrões. Não se corre o risco de ser assaltado e vai-se a qualquer ponto da cidade com segurança e eficiência. Nos fins de semana é melhor ainda, quando o transporte funciona 24h.
Em Berlim, se for dirigir, não beba, e se for beber, convide-me. A gente volta de metrô.
Berlim é uma obra
A capital alemã não teve outra opção senão se erguer das cinzas após a Segunda Guerra Mundial, e suas obras parecem não terminar. Não sei aonde Berlim pretende chegar, pois vive se reformando, construindo ou reinventado. Eu fico com a terceira opção. A cidade é uma reinvenção. Enquanto as mágoas do seu passado ruim são enterradas, o que faz parte de sua história de sucesso é reciclado em cada esquina.
Se além da imagem do Ampelmännchen, o homenzinho do semáforo, você vir a imagem de uma grua estampada em um souvenir, pode trazê-lo para a pessoa querida. Embora móvel, a silhueta da grua está institucionalizada nos horizontes de Berlim.
Berlim é para sempre
Como foi fantástica a experiência de não só conhecer Berlim, mas de poder participar do seu cotidiano e de interagir com o que estivesse no meu caminho! Senti-me parte de cada canto da cidade.
Com certeza voltarei lá! Preciso rever aquilo tudo e muito mais! Enquanto o dia do retorno não chega, dou mais um tempo para a cidade ir se reinventando. Nessa reinvenção, espero que a tradição e a modernidade jamais se anulem. Elas são muito mais interessantes quando seu contraste é percebido e uma não invade o espaço da outra.

Tradição versus modernidade: a estátua da Ruine der Franziskaner-Klosterkirche e a Fernsehturm se encontram.
Berlim, até breve!
contato@fuievouvoltar.com
Acho que Berlim é isso e mais um pouco! Uma cidade ímpar: desenvolvida e retrô! Barata demais… Com coisas incríveis para ser ver por dias a fio! Passei 3 meses lá e volto, se volto!
Falou e disse, Tatiana! Também quero voltar.
meu filho alessandro,está la ha 12 anos.foi estudar .fez doutorado e, nunca me enviou o que eu vi hoje,
conheci a cidade de berlim.adorei.talve um dia eu va,mas todo ano ele esta aqui no brasil,talvez por isso
nao tenha muita vontade,mas agora estou motivada.socorro
Oi, Socorro!
Não perca tempo! Corra para Berlim 🙂 Sou apaixonado por aquilo tudo. E vou lhe dizer uma coisa: seu filho deve ser uma pessoa de altíssimo nível! Ser doutor em Berlim não é para qualquer um. Tudo na cidade é de altíssima qualidade, principalmente a educação, seja escolar ou no trato pessoal. Gostaria que todo mundo pudesse sentir a gentileza dos berlinenses pelo menos uma vez na vida.
Abraço e muito obrigado pelo comentário 🙂
Fui em maio do ano passado a Dusselrorf e passei tres dias em Berlin e simplesmente fiquei a paixonado pela capital Alemã fui com primos que moram em Dusseldorf desde que nasceram e 2014 voltarei a Berlin só com minha esposa e ambos não falamos nem Alemão nem Inglês, estou muito enrrascado ou consigo me virar por la nos 13 dias de viajem. Abraço, e parabens pelo post. Há eu adorei a comida de la, principalmente as populares, achei uma delicia.
Oi, Erich! Muito obrigado pelo comentário! Quem me dera passar 13 dias em Berlim, rsrs! Parece muito tempo, mas bom é desse jeito, assim fazemos as coisas com mais calma. Não sei se você foi à Topografia do Terror, mas, só para você ter uma ideia, ali é necesseario um dia inteiro para poder absorver toda a informação. Ish, eu passearia o dia inteiro de bicicleta 🙂
Grande abraço e saudações àquela cidade espetacular!
Olá, parabéns pelo blog! Muito bom! Vou em março para Berlim passar 10 dias. e gostaria de perguntar duas coisas: em março ainda é muito frio a ponto de nevar? Com o inglês, eu me viro facilmente por lá? Desde já obrigado e tudo de bom!!! Abraços!!!
Oi, Fernando! Obrigado pelo comentário! Fui a Berlim também em março. Fazia muito frio, mas não nevou. Quanto à língua, não se preocupe. Os berlinenses falam um inglês impecável, e se não falarem, tentarão te ajudar de toda maneira, pois são extremamente solícitos. Aproveite e dê uma passada no blog http://agendaberlim.com . Dê uma navegada e você irá encontrar muita informação bacana.
Abraço e ótima viagem!
Obrigado!!! Grande abraço!!!
Pingback: Reverenciando a singularidade de Bratislava | Fui e vou voltar
Você tem dica de onde comprar peças de fusca?
Vixe, Wagner, não faço a mínima ideia! Abraço e boa sorte!