Vários anos atrás vi uma reportagem na TV sobre Macau. O programa não poupou elogios àquela região administrativa especial (RAE) da China, colonizada e administrada por Portugal durante 400 anos. O contraste das culturas chinesa e lusitana, bem como suas semelhanças, talvez fossem o aspecto mais curioso da reportagem. Lembro-me de que foi falado sobre as sinalizações das ruas, nas quais as identificações eram escritas em cantonês e português, além da menção de que 5% da população falava a nossa língua.
Embora eu tivesse me interessado pelo lugar, tinha certeza de que nunca iria a Macau. Mas me enganei. No dia 3 de janeiro de 2014, para lá fomos eu, minha mãe (Norma), a Yáskara (minha irmã), o Tião (meu cunhado), o Élcio e sua mãe, a Maria. Estávamos em Hong Kong e reservamos um dia da nossa estadia para conhecer Macau.
Mesmo que o programa de TV tivesse sido exibido há mais de 20 anos, na minha expectativa, não houve mudanças significativas, exceto pelo fato da colonização ter terminado em 20 de dezembro de 1999. Diminui-se também o número de pessoas que falam a língua portuguesa por lá. Hoje, apenas 2,4% da população macaense domina o idioma, sendo que somente 0,6% o fala corretamente. Entretanto, a influência portuguesa é fortíssima, notada, principalmente, na arquitetura e no estilo de vida dos nativos. Enquanto em Hong Kong fui “atropelado” por pessoas apressadas e supereficientes, em Macau, deparei-me com cidadãos mais tranquilos e menos rígidos nos processos produtivos. Eu estava me sentindo em casa! Aquilo ali ô ô parece um pouquinho de Brasil iá iá.
Conforme mencionei no post sobre nossa viagem a Hong Kong, ir a Macau partindo de lá é superfácil e barato. A viagem de ferry boat dura pouco mais de 1 hora e custa a partir de HK$ 124, que, naquela época (janeiro de 2014), valia em torno de R$ 38. Não foi preciso fazer reservas, compramos os bilhetes de ida e de volta no momento do embarque, tanto em Hong Kong quanto em Macau. Existem dois terminais de ferry boat em Hong Kong: o Shun Tak (Central), localizado na região de Sheung Wan, na ilha de Hong Kong, e o China Ferry Terminal, situado na região de Tsim Sha Tsui, em Kowloon. Os ferries de Shun Tak partem de 15 em 15 minutos, das 7h às 24h, enquanto os de Tsim Sha Tsui partem a cada meia hora, também das 7h às 24h. Para comprar bilhetes online, acesse o site da TurboJET, empresa de ferry boats (www.turbojet.com.hk). É importante lembrar que serão exigidos procedimentos alfandegários, portanto jamais jogue fora ou perca os vários papéis entregues pelas autoridades fronteiriças, sejam de Hong Kong ou de Macau. Eles serão exigidos em ambas as regiões.
Chegamos a Macau por volta das 9h10, desembarcando no Terminal Marítimo do Porto Exterior. Ali mesmo, no lado de fora, adquirimos o passe do hop on hop off, ônibus turístico com vista panorâmica, que circula das 9h30 às 16h15, parando nos principais pontos turísticos da cidade, numa frequência de 45 minutos. O bilhete custou HK$ 150, que naquele dia valia mais ou menos R$ 50. Para quem decide passar apenas um dia em Macau, assim como fizemos, o hop on hop off é a forma mais indicada de locomoção.
Antes da nossa primeira parada, passamos diante de alguns pontos turísticos, entre eles o Macao Science Center (Centro de Ciência de Macau), a estátua de Kun Ian e os diversos hotéis cassinos, quase tão suntuosos como os de Las Vegas. Aliás, os jogos de fortuna e azar de Macau são responsáveis por 50% de sua economia. Conhecida como a “Monte Carlo do Oriente”, em 2007, a cidade chinesa chegou a bater a receita gerada por jogos da Las Vegas Strip, rota de apostas mais badalada dessa cidade americana.
O hotel cassino que mais se destaca é sem dúvidas o Grand Lisboa, prédio mais alto da cidade. Seu formato orgânico lembra uma planta, que eu acredito ser uma flor de lótus.
Passamos também pelo Palácio do Governador, onde o Chefe do Executivo trabalhava até 1999. Nessa época, o edifício era o centro político mais importante de Macau. Depois disso, continuou a ser a sede oficial da RAE, mas o governador já não trabalha mais lá, o que diminui a importância do palácio. Hoje, serve somente como local de recepção de diplomatas e de figurões importantes.
A nossa primeira parada foi na Macau Tower, uma torre de telecomunicações de 338 m de altura. Seu observatório oferece uma vista quase espetacular, não fosse a poluição. Assim como em Hong Kong, o desconforto provocado pela névoa seca em Macau era inevitável, e o panorama da cidade ficava bem prejudicado.
Para os fissurados por esportes radicais, a torre possui o segundo bungee jump mais alto do mundo. Ainda bem que o salto custava caro e estávamos sem tempo, senão eu teria que pensar na possibilidade de um pulo.
Para pagar as entradas da torre e de algumas poucas atrações de Macau, bem como custear despesas como alimentação, transporte e souvenirs, utilizamos o dinheiro de Honk Kong. Embora a moeda de Macau seja a pataca, não foi necessário fazer o câmbio, pois lá aceitam-se os dólares honcongueses. No entanto, fique atento ao troco, pois, mesmo que de boa fé, algumas vezes tentaram nos dar patacas em retorno.
Da torre, embarcamos novamente no ônibus. Descemos na parada Ponte 16, de frente para o Hotel Sofitel, e seguimos a pé pela Avenida de Almeida Ribeiro até o centro histórico da cidade.
Naquele momento, comecei a me sentir em casa! Ler em português era uma experiência que me deixava de certa forma à vontade. E à medida em que caminhávamos pela Almeida Ribeiro, parecia que estávamos nos aproximando do Brasil. Aquela região me lembrava uma cidade nordestina brasileira, talvez Recife ou Natal.
Como em Hong Kong, certos pontos da cidade apresentam uma arquitetura um pouco caótica, com fachadas desleixadas e decoração típica exagerada. Isso me fascinava!
Fizemos uma pequena pausa para comer um pastel de nata. Santa influência portuguesa!… Depois de nos deliciarmos com a iguaria, continuamos pela Almeida Ribeiro até o Largo do Senado, uma zona de pedestres no estilo europeu muito bonita, incluída na lista do Patrimônio Mundial da Humanidade da UNESCO. Ali, estão localizados o Edifício do Leal Senado e a Santa Casa de Misericórdia.
Mais adiante, no Largo do Senado, está a São Domingos, uma bela igreja católica no estilo barroco, fundada em 1587 por frades dominicanos espanhóis vindos do México. Também foi tombada como Patrimônio Mundial da Humanidade pela UNESCO.
A Igreja de São Domingos abriga o Museu de Arte Sacra, no qual fizemos uma breve visita. De lá, seguimos em direção à movimentada Rua de São Paulo, que leva ao ponto mais famoso do centro histórico de Macau: as Ruínas de São Paulo.
As Ruínas de São Paulo são parte do que antes fora a antiga Igreja da Madre de Deus. Junto ao Colégio de São Paulo, fazia parte de um complexo do século 16, destruído por um incêndio em 1835. Desse complexo, restam apenas a fachada em granito da igreja e a escadaria constituída por não tortuosos 68 degraus.
Conhecida simbolicamente como o “Altar da Cidade”, a fachada das ruínas apresenta uma salada de influências. Sua decoração ostenta uma profusão de representações religiosas de todo o tipo, refletindo o estilo dos jesuítas e uma mistureba moldada por interferências internacionais, regionais e locais.
Depois da visita ao museu das Ruínas de São Paulo, viramos à esquerda e conhecemos o tímido templo chinês de Na Tcha, patrimônio tombado pela UNESCO. Foi construído em 1888 em gratidão pelo fim das epidemias que ameaçavam os residentes de Macau na segunda metade do século 19.
Do templo, rumamos em direção à Fortaleza do Monte, uma fortificação construída pelos membros da Companhia de Jesus para defender o monte de São Paulo. Juntos, a fortaleza, as ruínas e o Colégio de São Paulo formam um complexo denominado Acrópole, que era a principal estrutura defensiva de Macau. Essas três atrações também foram tombadas pela UNESCO.
A Acrópole destacou-se ao defender o monte de São Paulo da tentativa de invasão holandesa em 1622, durante os ataques da Companhia Holandesa das Índias Orientais a Macau.
A vista lá da fortaleza é sensacional, embora a névoa seca prejudicasse a visão à distância. A amplitude do panorama mostra uma cidade diversificada, com contrastes arquitetônicos bem interessantes.
No topo da fortaleza está o Museu de Macau, instalado em 1998 no edifício onde antes funcionou o escritório do Departamento Meteorológico.
Seu espaço é dedicado à história do território, composto por uma exposição de objetos de valor histórico e cultural que demonstram a forma de viver das diversas comunidades que vêm habitando Macau ao longo dos séculos. Preferimos não visitar o museu – o Élcio se arrepende disso –, contentando-nos apenas com o panorama da cidade, com uma flor de lótus e com uma placa engraçada.
Deixamos a Fortaleza do Monte e retornamos ao Largo do Senado, onde demos uma pausa para almoçar. Não muito motivados a experimentar a culinária local – isso é um absurdo! –, acabamos na praticidade de um McDonald’s.
Após comer nossos “saudáveis” sanduíches, continuamos nosso roteiro. Seguimos para o Largo de Santo Agostinho. O trajeto até lá só reforçava a semelhança entre Macau e algumas cidades históricas brasileiras, interrompida em alguns pontos pelo urbanismo caótico chinês.
O Largo de Santo Agostinho é uma praça repleta de edifícios históricos no estilo português. Se eu me distraísse ali por alguns segundos, poderia acreditar ter sido transmutado para alguma capital nordestina brasileira. A semelhança é impressionante!
Primeiro, visitamos a Biblioteca Sir Robert Ho Tung. Em seguida, passamos rapidamente pela entrada do Seminário de São José.
A próxima atração visitada foi a belíssima Igreja de Santo Agostinho, fundada em 1591 por frades agostinianos. Além de sua rica história, essa igreja destaca-se por manter a tradição de organizar o cortejo mais popular da cidade: a Procissão do Nosso Senhor Bom Jesus dos Passos, que ocorre no primeiro domingo da Quaresma.
Da igreja, seguimos para o Teatro Dom Pedro V, um dos edifícios mais belos do centro histórico de Macau.
O teatro foi construído em 1860 pelos portugueses residentes em Macau para celebrar o reinado de Dom Pedro V, rei de Portugal entre 1853 e 1861. Ainda hoje funciona como local de eventos e celebrações importantes. Visitamos seu interior, que se destaca pelo pequeno mas bem requintado anfiteatro.
Do Teatro Dom Pedro V, descemos até a Rua Central e caminhamos um quarteirão até a Rua de São Lourenço, onde está localizada a Igreja de São Lourenço, construída pelos jesuítas em 1560. Sua escadaria, que antigamente possuía vista para o mar, acomodava as famílias dos marinheiros portugueses que ali os aguardavam. Por causa disso é conhecida como a “Igreja dos Ventos de Navegação Calma” e como a “Igreja do Vento Favorável”. Algumas portuguesas católicas também iam para as escadarias rezar pela segurança de seus filhos e/ou maridos comerciantes ou navegadores.
O interior da igreja não é luxuoso, mas de muito bom gosto. Impossível não se encantar com a simplicidade do teto em azul turquesa.
Da São Lourenço, descemos a Travessa do Padre Narciso até o Nam Van, lago margeado pela Avenida Doutor Stanley Ho. Passamos pelo Palácio do Governador e seguimos até a Avenida de Almeida Ribeiro, onde viramos à esquerda e rumamos em uma longa caminhada até a parada Ponte 16. Pegamos o ônibus turístico em direção ao Terminal Marítimo do Porto Exterior e embarcamos de volta a Hong Kong.
O que orientou praticamente todo o nosso passeio por Macau foi um aplicativo chamado Experience Macau, promovido pela Direcção dos Serviços de Turismo, e um mapa em pdf intitulado Passeio pelos Locais Históricos, publicado no site desse mesmo departamento. O aplicativo cita as principais atrações da cidade, classificadas por categorias e mostradas em um mapa interativo, sugeridas em roteiros de 1, 2 ou 3 dias, além de outras facilidades. Acesse pt.macautourism.gov.mo para baixar o aplicativo, para fazer download do mapa em pdf ou para adquirir outras informações sobre a cidade. Caso você não consiga encontrar o mapa, clique aqui.
O tour por Macau foi bem curto, mas proveitoso. Sinceramente, não vejo necessidade em passar mais de um dia por lá, a não ser que o turista queira se aventurar em um passeio focado nas nuances históricas e culturais ou em uma jornada voltada às apostas nos maravilhosos cassinos da cidade. Para mim, aquela pequena viagem foi de ótimo tamanho, e me sentia confortável por estar em um lugar que lembrava a minha terra natal. Falando dessa forma, posso parecer um imigrante que não vê o Brasil há tempos, mas não é bem isso. Eu não estava nem um pouco nostálgico, mas sentir-me familiarizado no outro lado do planeta foi uma sensação muito bacana.
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Nossa Alessandro! Legal demais da conta!!! Cada viagem bacana que você faz né?! Vou ser repetitiva de novo: Que fotos maravilhosas!!! Parabéns!!! Arrasou mais uma vez! Viajo na sua viagem!!! Beijo!!!
Ah, Celma, não me canso da sua repetição, rsrsrs! 🙂 E também adoro suas viagens e suas fotos. Bjss!
Muito boas suas dicas,estou com uma viagem marcada oara hong kong,suas dicas foi e sera muito importantes,irei no certo e direto.
Obrigado, Kazuza! Devo adiantar que você vai adorar Hong Kong. Não vejo a hora de voltar lá. Obviamente, darei uma esticada até Macau. Abraço e ótima viagem!